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No final de setembro, quando a primavera começou, as árvores da estação estavam mostrando as primeiras flores. Aqueles eram os últimos dias antes do resultado do concurso da polícia e eu não poderia estar mais feliz ou ansioso.

Naquela segunda-feira Mayla saiu mais cedo do trabalho, porque fez horas extras anteriormente para compensar e tinha uma consulta médica marcada. Por isso, eu a convidei para ir ao teatro comigo e com a Jackie.

A cidade tinha muitos teatros, mas apenas um realmente grande. Era o único lugar onde aconteciam as apresentações de balé clássico e naquela ocasião aquele que me interessava estava em cartaz.

O lago dos cisnes. De onde saiu o cisne negro e, mesmo sem ser exatamente escolha minha, de onde saiu minha tatuagem.

Não estávamos nos melhores lugares. Quanto mais longe do palco, mais os valores para assistir eram acessíveis. Na verdade, estávamos em uma das últimas fileiras de assentos daquele enorme salão vazio.

Aquele ambiente estava gelado por causa do ar-condicionado e pouco antes do início da apresentação, as luzes começaram a apagar aos poucos. Todas as cadeiras eram macias, cobertas por um tecido vermelho, e em frente ao palco uma banda se preparava para tocar.

Mayla e Jackie estavam usando vestidos com mangas longas, porque o fim recente do inverno ainda não tinha levado o frio embora. Eu tinha muitas opções entre jaquetas e casacos, mas estava com a mesma de couro preto que sempre usava. Era a minha favorita.

Mesmo que estivéssemos tão longe do palco, Mayla ficou realmente feliz. Ela não precisou falar isso, porque seu olhar demonstrava. Passei todos os primeiros minutos da apresentação observando.

Eu não conseguia me acostumar com aquele sorriso. Era sempre incrível, mesmo que não fosse sempre o foco dos meus pensamentos quando eu olhava para ela.

Jackie estava sentada no outro lado de Mayla e também parecia fascinada com as bailarinas. Ela sempre quis fazer balé na infância, mas não era como se eu tivesse condição financeira para pagar pelas aulas, principalmente quando era mais jovem.

Voltei minha atenção para o palco, que ficava tão pequeno naquela distância. Balé é uma dança intensa e bonita, mas eu acredito que era o único que não conseguia entender de fato a história. O que aqueles instrumentos musicais e passos ritmados queriam contar? Decidi pesquisar na internet quando saísse dali.

Meu olhar foi atraído para Mayla novamente quando senti sua mão tocar a minha. Ela continuava encarando o palco para disfarçar aquele movimento discreto. Torci meus lábios em um sorriso e entrelacei nossos dedos enquanto voltava minha atenção para o balé.

Mayla soltou minha mão quando percebeu que a apresentação logo chegaria ao fim.

Eu não estava preparado para o momento em que o espetáculo terminou e as luzes foram acesas. Precisei de alguns segundos para me recuperar daquele choque entre a escuridão e a claridade, então levantei para acompanhar as duas até a saída.

O teatro era um prédio enorme e histórico. Ele não era apenas uma casa de espetáculos, mas por si só um museu. Eu nunca estive ali antes e Jackie também não, por isso ela estava muito animada enquanto olhava em volta e tirava fotos.

Antes que eu levasse minha irmã para casa, decidimos comer algo em um restaurante que ficava ao lado do teatro. Apesar da localização nobre, os preços eram muito acessíveis para mim.

Estar com Mayla me fez perceber que eu não ajudava Jacqueline a aproveitar a vida como deveria. Saí com algumas mulheres às vezes e em raras ocasiões até comi em restaurantes com elas, mas nunca levei minha irmã a nenhum, exceto em seu aniversário.

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