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Richard voltou ao apartamento poucas horas depois. Seu caminhão de mudanças não estava cheio e ele ainda moraria no antigo endereço até o começo de outubro. Assim teria mais tempo para vender os móveis que não usaria e pagar por uma reforma necessária de acordo com seu contrato de aluguel, já que deveria devolver o imóvel exatamente como o recebeu.

Ele colocou suas caixas em seu quarto e ajeitou alguns de seus pertences. Enquanto isso, eu ajudava Mayla a montar os móveis que tinha trazido, como a cama, o armário e o aparador. A tarde já estava no fim quando paramos para fazer um lanche.

O amigo de Mayla era realmente muito simpático. Ele fez alguns elogios durante a nossa conversa, mas não voltou ao assunto anterior. Como ela disse, Richard não fazia muitas perguntas e evitava principalmente as mais indiscretas.

O pôr do sol ainda deixava o céu alaranjado quando Richard despediu-se de nós. Sempre que recebia mensagens em seu celular, ele parecia distraído. A última foi o suficiente para fazer o homem levantar e ir embora. Troquei um olhar com Mayla, mas nenhum de nós podia julgar. Todos tinham seus segredos.

— Vai ficar hoje, não vai? — Mayla perguntou apoiando seu corpo na bancada da cozinha algum tempo após a partida de Richard.

— Todas as segundas são suas.

Ela sorriu quando ouviu.

Infelizmente, as noites ao lado dela pareciam as mais rápidas.

Deitados na cama e exaustos por causa do dia agitado, estávamos vendo alguns vídeos curtos em seu celular. Meu braço repousava em seus ombros e sua cabeça usava o meu como apoio.

Um dos mais engraçados mostrava uma criança falando sobre os legumes. Mayla pausou logo depois de rirmos e olhou para mim.

— Você acha que nossos filhos vão ser fofos assim? — ela perguntou.

"Vão ser" ri mentalmente. Ela estava pensando em futuro e eu gostei disso. Muito. Mais do que isso, eu gostava daquele olhar esperançoso e animado.

O único futuro no qual eu costumava pensar antes era o de Jackie, mas agora parecia que havia algo me esperando no meu também.

Nunca pensei sobre ter filhos, sequer sobre um dia casar. O único relacionamento que acompanhei de perto foi o dos meus pais e era horrível, mas ela estava ali e fazia isso parecer bom, leve e fácil.

De repente, aquela ideia pareceu incrível. Eu podia ver filhos no meu futuro e gostaria de ter a chance de ser tudo o que meu pai nunca foi. Não seria exatamente uma tarefa difícil, já que Jackie morava comigo desde os cinco anos de idade.

Por que eu estava abrindo mão de viver até aquele momento?

Torci meus lábios em um sorriso enquanto a encarava.

— Nós vamos achar que são, mesmo que não sejam realmente — respondi.

— Será que vamos ficar cegos quando formos pais?

— Com certeza vamos.

E com certeza isso seria divertido. Ela começou a rir e eu observei.

— Eu nunca pensei em filhos antes — contei.

Mayla fez esforço para sentar ao meu lado e poder olhar para o meu rosto com clareza.

— Isso não é um problema, eu penso nisso desde a adolescência. Vão ser dois, mas o sexo não importa. — Ela fez uma pausa e encarou a cama com o rosto corado. — Na verdade, isso é tudo o que tenho em mente. Eu não penso sobre ter filhos desde a adolescência.

O Segurança da BoateOnde histórias criam vida. Descubra agora