Bárbara - 24

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Já faziam 5 minutos que eles haviam descido do carro, Pedro acordou nesse meio tempo, estava tagarelando com Kelly. Não era capaz de fazer qualquer coisa que não fosse observar pela janela, nenhum sinal dos dois, nada.

- Relaxe, pequena.- Apelido que usava comigo quando mais nova.- Eles são dois soldados armados, ficarão bem.

- Eu sei, mas não consigo não imaginar 1 milhão de cenários em que isso dá errado.- Estava aflita de mais para fingir.

- A mamãe diz que não devemos nos preocupar até ouvirmos o primeiro disparo.- Pedro usa um tom robotico, ele apenas repete uma frase memorizada.

Quase instantaneamente ouvimos um estrondo, todos saltam no banco com o som do que parecia um disparo, o barulho veio de perto, até demais na minha opinião. Olho assustada para Kelly que travava a porta, em seguida carregando a própria pistola, a qual estava em seu coldre poucos segundos antes, a mulher olhava desesperada para todas as direções.

- Maldita boca Santa.- Ela resmunga, seus olhos varrião as proximidades.- Está escuro demais.

- Titia, eu tô com medo.- Pedro começou a chorar, cada soluço que ele dava doía meu peito.

Abraço meu afilhado, trazendo-o para perto de mim, tão próximo que é capaz de ouvir meu coração descompassado. "O que faremos?" Sussuro para Kelly, a comandante da de ombro sem tirar os olhos do lado de fora. Onde eles estão? Por que não voltaram ainda? E por que um único disparo?

- Estou vendo algo. - Os olhos da mulher que estava no banco da frente se semicerram.- MERDA.

Ela grita assim que duas figuras se revelam e começam a disparar no carro, rapidamente me jogo no chão junto do garoto, protegendo-o com  meu corpo. O som dos projéteis se chocando contra o veículo liberam um som metálico, até mesmo oco, a melodia do local conseguia se tornar cada vez mais agoniante, uma mistura de metal, soluços, gritos, passos e o meu incalável coração, que ameaçava constantemente sair pela boca.

- Eles já devem estar aqui.- A mulher sussurra quando os sons vindo de fora cessam.

- Eu não sei o que fazer.- Começo a chorar junto ao Pedro que não pareceu ser capaz de parar por um único segundo desde que começou.

- Mas eu sei.

Sem um segundo aviso abre a porta do carro e começa a atirar nos invasores, ao menos acredito que seja isso. Mesmo com todo o meu medo e ansiedade, me sinto travada naquela posição, proteger, proteger, proteger, Eu só preciso proteger esse garoto, só isso.
Os soluços de Pedro não são mais audíveis, sinto seu corpo amolecer em meus braços, seu peito não sobe mais.
"Eu o apertei demais?" Busco por seu batimentos, minha mão em seu pescoço espera por uma mínima pulsação... Nada.
Eu o matei.
Eu matei o motivo de estar aqui.

- Pedro, por favor, por favor.- Chacoalho seu corpo inerte.- Por favor, eu não queria, não queria.

As lágrimas nublam a minha visão, eu acabei com tudo.
Solto ele sobre o banco, rezando para Deus que seja apenas um engano, meu menino apenas desmaiou, convenço a mim.
Com tudo isso não havia percebido que não havia mais sons vindo do lado de fora, abro a minha porta bruscamente, meu coração em minhas mãos.

Não.
Meus olhos mentem.
Estão me pregando uma peça.
Três, são três. Três corpos jogados, esparramados, deixados no chão a própria sorte.
Corro para o Mais próximo, Kelly, meu foco são seus olhos arregalados, que pareciam fitar o nada. Sua destra esticada na mesma direção, envoltos por sangue. Ela estava deitada em um tapete vermelho, seus próprios sangue vazando do corpo.
Mas o que para os meus olhos era nada, para ela era tudo, seus olhos e sua mão buscavam seu amado, Gregory estava naquela direção, por isso dos olhos arregalados e a mão que parecia querer alcançar algo.
Kelly tentou alcançar seu coração antes de ir.

- VOCÊ DISSE QUE SABIA. - Grito com toda a minha força.- Eu avisei que não sabia, eu AVISEI.

Eu quero ver os outros dois, sei quem são, nas não consigo mexer as minhas pernas. Não sei mais como fazer meu corpo obedecer, não reage não importa o quanto eu grite com ele. Parece haver uma pedra no meu estômago que me prende a aquele lugar, impossibilita de tentar ir atrás de mais.

- EU PRECISO VER, PRECISO TER CERTEZA

Tento fazer com que o céu me escute, que me ajude com as minhas presses.

- Garotinha tola.

Uma voz masculina vem do fundo, seus Passos são pesados pois os ouço com clareza, mesmo estando longes. Sua frase me chega como um sussurro, abafado por meus gritos internos, mas me forço a prestar atenção. Roupas volumosas se arrastam atras de si, um manto, ele usa um manto, preto, não, vermelho muito escuro, Sua estrutura é magnífica, não é um homem baixo e corpulento, mas sim alto e definido, seus cabelos são loiros, e seu olhos... Se aproxime mais, peço mentalmente, a sim, seus olhos são azuis como o Céu que até pouco atrás me escutava gritar. Sei que o conheço, mas por quê não me lembro?

- Achou mesmo que te deixaria vencer, Melanie?

Melanie? Eu não sou a Melanie, tento dizer mas minha voz também não sai.

- Acha que esse clubinho que você chama de revolução venceria o Rei?

Sim, o rei, ele é o homem que eu estava tentando lembrar. Como poderia me esquecer de sua aparência, mas como ele pode esquecer de mim?
Sou sua sobrinha, como me confundiu com uma morena?

- Tirei tudo de você.- Ele continua me confundindo com ela.- Agora, vou livrar o mundo de você, como fiz com os outros que se puseram em meu caminho.

O rei Sagaca estava perto, muito perto, uma espada em mãos. Sua lâmina reflete meu rosto paralisado de medo, medo de morrer.

- Até uma outra vida.


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⏰ Última atualização: Jan 02, 2022 ⏰

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Você é minha luz, ou inevitável escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora