Bárbara 23

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Melanie havia partido a cinco minutos, Levy e eu esperávamos os outro dentro do carro, junto a um cansado pedro que dormia feito um anjo. Prometi cuidar como se fosse meu, e é isso que farei, não importa o que aconteça. Darei minha vida por esse garoto se for necessário.

- Onde está Kelly? quando ela virá? E o Gregori?- Pergunto já inquieta.

- Calma, eles tem mais dez minutos.- Levy diz enquanto se ajeita no banco.- você é muito ansiosa né?

- Sabe que sim, que dizer não sabe né... Nós mal conversamos, não lembro de uma vez nesses três anos em que conversamos apenas nós dois.

- Realmente não lembro também...

E caímos em um silencio constrangedor, eu não conheço Levy como amigo, apenas como soldado um subordinado de Melanie. Não sei do que ele gosta de alar, nem comer, nem fazer, assim como ele não sabe sobre mim, que dizer nada além do que está na ficha. Sei que seu Nome é Levy Mizushima, tem 25 anos, nasceu no oriente, não lembro exatamente onde. Talvez eu deva perguntar sobre como é lá, ai podemos nos conhecer e ter uma conversa bacana, ou então ele vai me achar louca... Talvez eu deva fingir que estou dormindo, então evito qualquer constrangimento, mas e se eu babar? E se roncar?  Talvez eu devesse ser menos paranoica tentar puxar um assunto com ele, ele pode só estar esperando uma iniciativa minha. Sem perceber solto uma risada, era tão estranho estar aflita com algo tão bobo.

- O que foi?- Ele me pergunta.

- Como assim?

- Ah, você rio do nada, pensei ter feito algo.- Ele ri envergonhado.

- Não, não. Ri dos meus pensamentos, estou nervosa com isso tudo.

- Entendo, também estou. - Ele olha para o lado de fora.- Finalmente.

As portas da frente são abertas, Kelly e Gregori entram, ambos nos cumprimentam com um aceno de cabeça. Pareciam um tanto abalados com algo, me divido entre perguntar ou esperar que contem. Levy cutuca meu braço e se aproxima de minha orelha.

- Acho melhor deixarmos eles se resolverem.- Sussurra, me deixando ainda mais confusa. Não fazia ideia que estava, tendo problemas.

Os dois sempre foram um exemplo de casamento para todos nós, de certa forma todos ansiamos por ter uma relação ao menos parecida, é estranho vê-los daquela forma. Claro que sei que todo relacionamento tem problemas e desentendimentos, mas mesmo assim é estranho. Nunca vi a Kelly tão abalada,  parecia prestes a chorar, meu maior desejo era me libertar dos cintos e abraça-la, dizer que não importa o que ela esteja passando estamos aqui para ela. Kelly virou uma especie de mãe para nós, todos perdemos nossas figuras maternas, então fomos acolhidos por aqueles amáveis olhos castanhos. Mas não me mexo, uma das coisas que aprendi sobre ela é respeitar seu tempo, quando ela quiser virá até nós, e contará todo que a aflige.

A viagem se estenderá para mais um dia, estamos todos cansados os quatro já dirigiram um pouco, mas parece que não chegamos nunca. Agora quem dirige é Levy, o soldado está no banco da frente junto de Gregori. Eu, Kelly e Pedro atrás, a mulher sorri brevemente vendo meu enteado dormir, em seguida uma lagrima escorre por seu rosto.

- Está tudo bem? - Pergunto atônita, era só o que faltava para deixar a viajem interessante.

- Não sei dizer, o que seria bem? Eu estou fisicamente bem, mas emocionalmente vazia.- Ela solta um riso fraco.- Perdoe-me, não encherei uma criança com meus problemas.

- Eu acho engraçado que você esquece que nós também crescemos, vamos lá, você me ajuda desde pequena, deixe-me ajudar e te acolher uma vez.

Apoio pedro confortavelmente em seu banquinho, arrumo seu travesseiro para que fique apoiado na porta, solto rapidamente meu próprio cinto e abraço a mulher, faço com que deite sua cabeça no meu peito, acaricio seus cabelos parece que foi a gota d'água, pois se desmancha em  lagrimas, seu choro não é escandaloso, mas sonoro o suficiente para que os rapazes nos olhem preocupados, Levy me lança um olhar pelo retrovisor, aquiesço para que saiba que não deve se preocupar. Gregori quase pula para o banco de trás, mas algo o impende, algo dentro dele eu diria, pois se vira e nos dá espaço.

- Me conte, o que aflige?

- Eu estava gravida, mas acho que tive um aborto espontâneo, fiz um teste na ala medica hoje, mas não tive como ver o resultado.- Ela soluça.- Mas, eu tenho certeza que perdi o bebê.

- Mas tem chance de não ter perdido, pense positivo Kelly.

- Não, não faça isso,a esperança machuca.- ela volta a chorar, a abraço com mais força, ela não havia divulgado a gravidez, e do nada perdeu seu descendente.

 Não sei o que fazer, lagrimas começam a cair de meus olhos, choro porquê doí, dói pensar em perder um bebê, dói vê-la assim, dói pensar que tem uma vida nas minhas mãos, dói pensar que não poderei proteger meu primo, dói pensar minha melhor amiga pode morrer em uma missão, e dói saber tudo que estamos sacrificando pelo bem de um povo que não sabe pelo que lutamos. O que estou fazendo? Me sinto tão culpada por chorar agora, não é a minha dor, mas dói como se fosse, assim como Kelly estou esgotada, esgotada dessa situação que mal começou.

A mulher para de chorar, espero que fale algo até que a ouço ressonar, dormiu, acho que é melhor assim, não saberia como acalma-la, arrumo um travesseiro e a deito nele, me volto ao pequeno que dorme a minha direita, o pequeno prodígio parece estar tendo sonhos tranquilos, seu semblante é leve, e descarregado de má pensamentos. Protegerei com minha vida, assim como prometi, mas minha presença nunca será suficiente para ele, preciso que você sobreviva aos seu planos Malucos Melanie, esse garoto precisa de você.

- Vou encostar naquele estacionamento ali.- O soldado que dirige quebra o silencio.- Estamos todos esgotados, tem um hotel ali, podemos nos estalar por essa noite.

- Seguro?

- Me parece que sim.- Ele responde.- Não é comandante?

- O perímetro parece limpo, mas eu e o Soldado Levy iremos averiguar antes que vocês desçam, não se preocupe enfermeira Bárbara.

- Obrigada.

Os dois que estavam nos bancos da frente descem, ambos armados com pistolas, consigo ouvir seus pés se chocando com o cascalho, não sei ao certo porquê estou tão tensa. O que eu faria se começassem um tiroteio? Maldita imaginação fértil...

Você é minha luz, ou inevitável escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora