Melanie 13

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Estamos sentados no refeitório, pedro se lambuza de sorvete, tem cauda de chocolate na ponta de seu nariz. Pego um guardanapo sobre a mesa e limpo meu menino, que sorri todo bobo, e se aninha em meus braços, tento ignorar o olhar curioso de Charles, o príncipe parece admirado, até chocado.

-O que foi? Está surpreso que tenho sentimentos humanos? Surpresa Docinho, eu também sou humana.- Pergunto enquanto encaro aquelas gemas verdes, digo, seus olhos.

- É surpreendente mesmo.- Seu sarcasmo me irrita.- Mas benzinho, estava admirado que não são bárbaros, nem todos pelo menos.- ele encara um dos soldados comendo.- Estou impressionado com o quanto respeitam uma mulher. Sem ofensas, mas até onde sei... Esse não é trabalho para mulher, tem que ter pulso firme, e você tem e até faz parecer fácil.

- Certo, vou ignorar toda a besteira machista que você falou, e agradecer o elogio.- Acaricio o topo da cabeça de meu filho.- Sim, tem que haver pulso firme, afinal estou lidando com inúmeras pessoas, ou seja inúmeros jeitos de pensar, tenho sempre que levar em consideração o bem maior,  todas as decisões aqui passam por votação, a democracia é a base de uma sociedade equilibrada, consegue perceber o quanto falta isso fora de meus domínios? Percebe quanto Sagaca está fora da balança?- Digo calmamente.

Ele suspira derrotado.- Sim, eu sei que meu pai e sua corte não levam muito em consideração a opinião do povo, mas ele acredita que quanto mais voz dermos a eles mais ele vão querer.

- E ele não está errado, quando percebem que são ouvidos pedem mais, e mais. E isso é normal somos todos pessoas com necessidades, basta impor limites, vou te explicar como funciona aqui.- Começo a encara-lo.- Ninguém vive cercado de luxo, nem eu, nem qualquer outro, todos recebemos o necessário para viver, nem mais nem menos que isso. Sim, eu sou a líder e recebo alguns privilégios, mas isso foi votado, a maioria aceitou esta decisão, eu não tenho um carro caro, nem um jatinho particular, tão pouco tenho uma jacuzzi no meu banheiro. Mas tenho armamento pessoal, uma sala própria, e um quarto para o meu filho. Entende?

Ele assenti, me deixando satisfeita por não tentar argumentar.

- Que bom que entende, alguma pergunta?

- Eu tenho, mas ela é pessoal, não tem haver com seus privilégios, e sim com ele.- Charles aponta com o queixo para o meu filho, sinto uma pontada no peito.

- Que mudança brusca de assunto.- Suspiro.- O que quer saber?- Pergunto desconfiada.

- Não tenho nada haver com isto, mas estou curioso, ele chamou o soldado de tio, então receio que o senhor John não seja o pai, quem é?- Suas mãos tamborilam a mesa.

Respiro fundo, me decidindo se devo ou não contar, enfim tomo uma decisão.

- Pedro não é meu filho biológico, não sei quem é o pai apenas a mãe.- Sinto o pequeno se mexer nos meus braços.- Desculpe querido.- Acaricio gentilmente suas madeixas.

- Tudo bem mamãe, o Príncipe parece alguém legal. - Ele olha para Charles enquanto diz.- A mamãe me encontrou a um bom tempo.

- quatro anos.- acrescento.

- Tudo isso?- Pedro me olha surpreso.- Achei que fosse menos.

- Eu sei meu bem, mas foram quatro anos, você tinha acabado de completar dois anos quando te conheci no orfanato.- Volto a fitar Charles.- Ele é tudo que eu tenho...

- Não sou uma ameça, por favor entenda isso, já estamos a três semanas sobre o mesmo teto deposite uma misera confiança em mim, não irá se arrepender.- Diz na defensiva.

- Vamos ver, vou te dar um voto de confiança.- Sei que vou me arrepender mais tarde.- Agora eu tenho que voltar para o escritório, Pedro pode ir brincar com as crianças, mas não demore para se banhar, entendido?

- Sim mamãe.- Ele me da um beijo na bochecha.- Até senhor Charles.- Com isso some sem dar tempo do maior responder.

Empilho os pratos a minha direita, para facilitar na hora de leva-los. Já estou me levantando quando Charles diz:

- Posso acompanhar-te?- A maneira que força o "te" no final da frase me causa um estranho arrepio.

- Não consegue suportar a ideia de ficar longe de mim, encantado?- Provoco.

- Como poderia, deixar essa oportunidade de um momento a sós passar.- ele me oferece um sorriso ladino.

- Ande, não tenho tempo de esperar, tenho muito o que fazer.- Ando rápido para fora, finjo não ouvir suas provocações de o quanto eu estou ansiosa para ficarmos sozinhos em meu escritório, reviro os olhos e escondo um sorrisinho que insiste a se formar em meu rosto.



Você é minha luz, ou inevitável escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora