Prólogo

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Daryl Reymond Noer adoraria dizer ser inocente naquele caso, ele adoraria dizer que estar sendo jogado contra a parede em uma briga enorme que, de alguma forma, envolveu ambas as equipes que jogaram naquela tarde, mas o fato era que Daryl não era apenas culpado, era o principal instigador, e só podia agradecer a lealdade dos seus colegas por terem se envolvido sem necessidade alguma – era algo bonito se pudesse parar para pensar.

Mas parar para pensar não era uma opção quando o garoto de cabelos escuros bagunçados segurou sua camisa com mais força, pressionando-o ainda mais contra a parede, seus olhos verdes faiscavam de raiva e seu corpo todo tremia, e mais uma vez Daryl adoraria poder dizer que não estava se sentindo como um grande babaca, mas seria mentira, e Daryl não mentia nem para si mesmo.

— Desculpe, acho que não te ouvi bem. — disse o rapaz as palavras soavam mais arrastadas pela raiva, ambos sabiam muito bem que ele não estava se desculpando e provavelmente escutou com clareza, era uma oportunidade para Daryl retirar o que disse, mas um Noer nunca fingiu lidar bem com ataques ao seu orgulho.

— Por acaso levou uma pancada na cabeça que atrapalhou sua audição? — Daryl disse, demonstrando mais coragem que realmente sentia — Não seja por isso, tenho certeza que consegue ler lábios. — e então repetiu suas palavras que geraram o início da confusão, falando cada palavra lentamente — Precisa que eu te ensine a jogar? Amador bolsista. Talvez se eu escrever a situação fique mais clara para você.

Se vovô estivesse aqui, Daryl pensou, estaria muito orgulhoso.

E suas palavras tiveram o exato efeito que esperava, o rosto do outro jogador – Marco, era o nome dele, os alunos do Coliseu o conheciam bem – se fechou em puro desprezo.

— Eu não levo minhas brigas para fora do campo, me deixe em paz, playboyzinho. Essa é uma briga que você não quer comprar. — Marco disse, escondendo rapidamente a raiva que demonstrara um segundo antes, como se tivesse prática naquilo, como se Daryl não fosse mais que uma mera inconveniência o impedindo de seguir seu dia.

Sinceramente? Daryl também não costumava levar suas brigas para fora do campo, com certeza não era a pessoa mais paciente do mundo, mas sendo um Noer uma das primeiras lições que aprendera fora como manter seu temperamento em ordem.

Mas não naquele dia. Naquele dia Daryl sentiu suas mãos tremerem enquanto tentava se livrar do aperto do rapaz, sentiu o sangue fervendo no rosto e o coração batendo com força.

Estava com raiva, com muita raiva, e se fosse honesto ou refletisse por um instante saberia que aquela raiva toda tinha pouquíssima relação com uma briga estúpida, porém Daryl era como uma garrafa prestes a explodir pela pressão – finalmente sentia de uma vez tudo que não sentia há meses, então deixou explodir.

— O que foi? — Daryl disse com escárnio, enchendo a voz de arrogância — Não aguenta uma briguinha, bolsista? Sempre ouvi falar que era tão descontrolado quanto é ignorante, mas não esperava que –

E Daryl nunca completou aquela frase, porque Marco o acertou com um soco no nariz forte o suficiente para que o rapaz de cabelos claros batesse a cabeça na parede.

Aquilo doía como o inferno, Daryl estava tonto e, tocando algo molhado que escorria pelo nariz, percebeu que seus dedos estavam manchados de vermelho, deveria se recompor e revidar, deveria se afastar da parede onde estava encurralado, mas tudo que Daryl sentia era dor, a tontura, o cheiro de sangue, a cabeça latejando e a adrenalina.

Seu oponente parecia tão perdido quanto ele, um lampejo de arrependimento passou pelos seus olhos esmeralda e desapareceu tão rápido quanto sua raiva.

— Não vou gastar meu tempo com você— Marco disse por fim, e Daryl queria fazer algum comentário engraçadinho; dizer que ele claramente já perdeu tempo, mas estava zonzo demais para formar uma sentença.

Que ótimo, Daryl pensou, acho que nós dois estamos tendo um péssimo dia.

E estavam, mas a cronologia está toda errada, na verdade, essa briga teve início muito antes, ao amanhecer daquele fatídico dia.

OAEA

O Amor é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora