Capítulo 6 - Marco Voiny

36 5 0
                                    

Se Marco fosse sincero, e ele não era nada se não fosse um homem sincero, teria de admitir que seu coração quase saltou para fora do peito ao ver Daryl vestido daquele jeito.

Não havia nada demais em como ele se vestia, de certa forma era mais simples que Marco esperava de alguém como ele, mas, por mais simples que estivesse, Daryl estava incrivelmente lindo - e isso irritou Marco profundamente, havia poucas coisas no mundo que odiava mais que pessoas bonitas sem esforço.

Para a surpresa de Marco, os pais de Daryl não foram invasivos nos poucos minutos que esteve a sós com eles até que o loiro chegasse, fizeram perguntas sobre sua família, suas aspirações, o que fazia da vida, como todos pais fariam, e era isso que surpreendia Marco: vendo de longe as famílias do colégio, quase não conseguia enxergá-los como pessoas normais, pessoas que tinham curiosidade na vida dos amigos dos filhos, pessoas que ficavam impressionadas ao ouvir que um garoto de dezessete anos era fluente em russo.

Algo que não pôde deixar de reparar, porém, foi a expressão de Daryl ao vê-lo com eles, a forma como se fechou repentinamente - do mesmo jeito que fizera quando Marco o confrontou quando estavam no alto, havia uma espécie de medo em seus olhos.

Um medo desconhecido por Marco - Marco não tinha uma vida fácil, na verdade às vezes ele ainda se perguntava como conseguia se manter de pé e relativamente positivo diante das circunstâncias, mas não conseguia se lembrar de um único momento que entrou em casa e sentiu medo olhando para os pais.

Talvez Marco estivesse lendo muito na situação, talvez Daryl apenas não quisesse os pais interrogando Marco, ou Marco interrogando e se misturando em sua família, mas não gostou da tensão nos ombros do loiro.

De qualquer forma não era problema seu ou algo que conseguisse comentar com facilidade, então apenas se apressou em levá-lo na garupa até seu "evento" da noite, tentando não ficar tão consciente do fato que as mãos de Daryl eram um peso confortável em sua cintura e que o corpo dele estava muito perto do seu.

Marco não era o tipo de cara que via malícia em alguém encostando nele por qualquer motivo, ainda mais em uma circunstância comum como uma carona de moto, mas não pôde deixar de corar ao perceber que um dos caras mais bonitos que já conheceu estava tão próximo assim, e ficou grato por Daryl não poder ver seu rosto.

O trajeto foi curto, curto demais para que Marco se sentisse tão confortável perto de Daryl quanto se sentia naquele momento, então Marco parou a moto e desceu, com Daryl o seguindo de perto.

- Chegamos - Marco murmurou, recebendo de Daryl um olhar que dizia "acho que percebi" mesmo que o rapaz não tivesse dito uma palavra.

Daryl examinou o muro que um dia foi branco, mas estava tão manchado de poeira e terra, com plantas secas presas entre o metal enferrujado das janelas quebradas, e voltou-se para Marco cruzando os braços.

- Mais um lugar abandonado?

- O que posso dizer?- o rapaz negro disse, dando de ombros - São quietos e misteriosos, e, como Lindsay diz, ninguém está usando mesmo.

Daryl soltou um involuntário riso baixo.

- Que fique bem claro, não vou subir nenhum telhado hoje, juro que se tentar me convencer subo só para jogá-lo lá de cima.

- Não vamos subir nada - Marco riu, apontando o portão de grade enferrujada que estava entreaberta a apenas alguns passos de distância - Vamos por aqui.

Sabendo que discutir não era uma opção, Daryl apenas balançou a cabeça e o seguiu mais uma vez, empurrando o portão de metal devagar, porém com força o suficiente para que as dobradiças rangeram.

O Amor é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora