Por mais que tentasse, Daryl não conseguia se concentrar nas aulas.
Era o primeiro dia do ano letivo, os alunos tiveram várias palestras e atividades de boas-vindas antes de serem liberados para a sala de aula, e Daryl tinha total certeza de que não prestara atenção em nada naquele dia, nem por um segundo.
Naquela manhã, pela primeira vez em muito tempo, Daryl não ficou olhando para o teto por horas sem saber o que fazer – em partes porque não está a em casa e precisava ir antes que perdesse o horário da aula, e em partes porque acordou segurando a mão de Marco e sentindo o peso de sua testa encostada em seu ombro.
Não era exatamente como esperava acordar, não era a sensação que esperava sentir – não estavam abraçados, mas Daryl sentia como se estivessem, e de certa forma aquilo era consolador para uma pessoa acostumada a dormir e acordar sozinha.
Daryl não tinha ideia do quanto sentia uma carência de toque físico até perceber que a atenção de Marco direcionada a ele o fazia se sentir mais leve.
Quando acordaram, nenhum dos dois comentou sobre a posição que se encontravam, fingiram que nada tinha acontecido e Daryl se apressou para ir embora apesar da insistência de Marco para que ficasse no café da manhã, felizmente a desculpa de Daryl de que não tinha tempo não era uma mentira, e apesar de Marco ter lhe dado uma carona de moto até a porta do condomínio, com o tempo que gastou para se arrumar Daryl ainda chegou no colégio com trinta minutos de atraso.
E nem por um momento, nem por um segundo, Daryl parou de pensar em Marco Voiny – em como Marco o olhava com curiosidade, com realmente o escutava, como realmente o via, como chorou em seus braços como se não fosse nada demais, como seus olhos eram como grama molhada e definitivamente os olhos mais verdes que Daryl já vira na vida.
Se qualquer outra pessoa lhe dissesse algo assim, Daryl diria que era uma quedinha, uma paixonite, algum tipo de interesse romântico – afinal aquele era exatamente o tipo de coisa que pessoas apaixonadas descreviam, estava em todos os livros e na televisão –, mas aquele era Daryl, e durante toda sua vida ele pensou que aquilo era um exagero, um romantismo exagerado e poético puramente artístico, afinal ele já tinha dezessete anos e nunca sentiu nada remotamente parecido.
Até agora.
Mas Daryl com certeza não estava se apaixonando por ninguém, afinal nunca teve o menor interesse em homens, nem em ninguém, e como ele poderia dizer que tinha algum interesse romântico se na verdade nem sabia muito bem o que aquilo significava? Não, ele apenas conhecia Marco há pouco tempo e estava interessado em um novo amigo – alguém diferente de tudo que ele conhecia.
Não havia motivos para confundir as coisas, aquele não era um interesse romântico, então Daryl decidiu parar de pensar nisso e prestar atenção na aula de química orgânica que algum gênio decidiu que seria uma ótima ideia ter no primeiro dia de aula.
Sua tentativa de concentração não durou mais que cinco minutos, até Daryl tirar o celular do bolso, ativar a guia anônima e pesquisar "como saber se estou me apaixonando por um..." e isso foi tudo que conseguiu digitar até Thomas surgir ao seu lado dizendo "O que está fazendo?" obrigando Daryl a colocar o celular na mesa com a tela virada para baixo com tanta força que tinha certeza que estaria trincada quando criasse a coragem de olhar.
Thomas ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços e Cristian, cuja presença Daryl não tinha notado antes, o encarou com um olhar de pura confusão.
— O que foi isso? — Cristian perguntou com certa exasperação na voz.
— Nada. Por que estão de pé?
— Acabou a aula — Foi Thomas quem respondeu, apontando para a mochila jogada nos ombros — O que estava fazendo que nem escutou o sinal tocar?
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O Amor é Azul
Roman d'amourEm circunstâncias normais, os caminhos de Daryl e Marco não tinham a mínima chance de se cruzar, mas quando a família de Daryl volta para cidade em que viviam quando ele era criança para fugir de um escândalo no nome da família Noer e Marco sendo o...