Capítulo 1 - Daryl Noer

53 10 23
                                    

Algumas horas antes do incidente.

Daryl Reymond Noer, 16 anos.

Naquela manhã Daryl acordou mais cedo que o normal para um sábado, olhando para o teto por mais tempo que o necessário, mais tempo que sua terapeuta diria ser normal para um cérebro saudável.

Não que sua terapeuta em algum momento tivesse dado a mínima indicação de que seu cérebro não era saudável, ele era um Noer afinal, então tudo era apenas uma reação normal que passaria com o tempo – Daryl se questionava quanto tempo exatamente, afinal já faziam três meses, duas semanas, quinze dias, quatro horas, quarenta e cinco minutos e trinta segundos, trinta e um segundos, trinta e dois segundos, trinta e três segundos...

O rapaz suspirou e levantou, tomando um banho relaxante se vestindo sem olhar para as paredes, ou para a escrivaninha, ou para a estante, ou para qualquer lugar que não fosse o espelho, fazendo o melhor que podia para esconder as sombras sob os olhos enquanto se enfiava em uma camisa polo e uma das poucas bermudas que Jessie não se livrara durante as doações de natal.

Era o último sábado antes do início do ano letivo, qualquer aluno estaria aproveitando o máximo de tempo possível que ainda restava para dormir até tarde, mas Daryl passara as férias treinando com a equipe de futebol do Coliseu e, após dias de treino e participar de testes, tinha finalmente conseguido um espaço entre eles.

Daryl estava o mais animado que se sentira em meses, o que não era muita coisa, mas o esforço físico no campo era a única coisa que fazia seu cérebro funcionar, e, sendo novo no colégio, estava grato pelos novos colegas de equipe, que já estavam entrosados e trabalhando bem juntos, o aceitaram de braços abertos antes mesmo que as aulas e o recrutamento oficial começassem.

A mochila com o uniforme, a chuteira e uma garrafa de água estavam prontos ao lado da cama onde Tifanny deixara antes de ir para casa no dia anterior, e descendo a cozinha viu uma lancheira térmica contendo tudo que Daryl precisava para o café-da-manhã: torradas, suco de laranja, uma fruta e um sanduíche – o rapaz não pôde se impedir de sorrir, Tifanny sempre pensava em tudo.

Quando terminou de comer se sentiu mais agitado, pronto para finalmente mostrar ao time que fizeram uma ótima escolha em aceitá-lo, havia treinado semanas, se esforçado ao máximo na academia e no campo para ficar em forma – aquele dia era só dele e nada poderia dar errado.

Bem, na verdade, tudo poderia dar errado, mas um pouco de otimismo não mataria ninguém, era o que a terapeuta sempre dizia quando ele comentava algo negativo de qualquer forma.

E como era um dia de pensar positivo, Daryl bateu na porta entreaberta do quarto dos pais, sem resposta, antes de colocar a cabeça porta adentro correndo riscos terríveis.

— Mãe? — chamou — Pai?

A mãe, Vanessa, que recentemente apagava em momentos aleatórios do dia e ficava indisposta em todos os outros – o pai, Gideon, dizia ser exaustão, Daryl tinha outro nome para essa "exaustão" e era o álcool que a mãe escondia em garrafas escuras – grunhiu, dando o mínimo sinal de vida, antes de se virar para o outro lado e roncar, e o pai bocejou.

— O que foi? — o homem perguntou sonolento — Matteo?

— Daryl— O rapaz corrigiu com um suspiro, o pai tinha o hábito de confundir vozes na casa — É o primeiro jogo do campeonato, queria saber se vão comigo.

— Daryl, sabe o que acho desse seu hobby...

— Se não quer ir tudo bem, só não custava perguntar. — as mãos de Daryl agarraram a maçaneta com força, porque é claro que Gideon Isaque Noer não perderia a oportunidade de alfinetar alguém — É minha estreia na equipe, é importante para mim.

O Amor é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora