O Amor é Azul

Capítulo 11 - Daryl Noer

Daryl não se considerava uma pessoa de sorte, na verdade às vezes nem mesmo acreditava que sorte existia - afinal, o que era sorte além de oportunidades surgindo em momentos muito apropriado na vida de pessoas que nunca precisaram fazer muito esforço na vida e, para não reconhecerem sua falta de mérito recorriam a outra coisa: sorte, manifestação, Deus, o que lhes parecesse mais recomendado diante da situação.

Como uma pessoa que cresceu moldando sua imagem para o mundo externo sob lentes imperdoáveis e detalhistas, Daryl sabia como uma situação poderia parecer sorte, azar, ou apenas um fato da vida quando contada de certa forma para certo público.

Porém, sem nenhum público para assistir, sem nenhuma lente ou observação inescrupulosa, a existência de Marco em sua vida parecia apenas isso: sorte. A mais pura e desmerecida sorte, talvez um retorno do universo por tudo que Daryl tinha sido obrigado a aturar nos últimos anos.

A grande questão era que, sendo quem era, Daryl sempre teve problemas em se conectar com as pessoas, não tinha tempo para pensar em relacionamentos, precisava ser cuidadoso em suas amizades, analisar minuciosamente todas as pessoas em quem pretendia confiar, e assim a maior parte de suas relações pareciam falsas, forçadas, artificiais demais – com as claras exceções de Thomas, a quem conhecera antes de saber falar, e suas irmãs, que fora obrigado a lidar considerando que viviam sob o mesmo teto.

Então Daryl Noer se tornou rapidamente a pessoa em sua família com mais especulações sobre sua vida amorosa, isso porque, oficialmente, ele não tinha uma, mas as pessoas gostavam de falar, e fofocar, e procurar pistas sobre um romance secreto que pudesse estar escondendo com qualquer menina que interagisse como ele por mais de dois segundos.

Claro que Daryl nunca imaginou que estaria, de fato, escondendo um relacionamento um dia, mas ali estava ele, deitado na cama dividindo um fone de ouvido com Marco, trocando carícias inocentes, beijos gentis, e gargalhadas sobre qualquer coisa idiota que sentiam vontade de falar.

Acima de tudo, Daryl se sentia seguro.

Sendo alguém com dificuldade de criar conexões, até mesmo pensar em ter uma vida sexual ativa era demai para ele, e não fora falta de oportunidades, várias vezes garotas que conhecia lhe deram várias pistas de interesse, apenas esperando que ele mordesse a isca, mas Daryl nunca parou para refletir sobre isso, não tinha o menor interesse em nenhuma delas – na verdade nunca teve o menor interesse em ninguém, não até Marco, e mesmo com ele esse parecia um passo grande para as pequenas pernas da recém-nascida vida amorosa de Daryl.

E Marco não se importava.

Daryl não sabia realmente o que esperava quando disse a Marco que não tinha interesse em fazer nada além de tê-lo como companhia naquela noite, talvez um mínimo traço de decepção em seu rosto ou a percepção dolorosa de que Daryl não valia a pena, mas Marco apenas concordou, o beijo várias vezes como Daryl desejava, e deitou em sua cama, selecionando músicas que ele gostava no celular – parando algumas no meio porque cansou delas e deixando algumas se repetirem várias vezes, ele parecia gostar muito de fazer isso.

Não deveria ser tão surpreendente agora que conhecia Marco um pouco mais, a forma como ele era compreensivo, como realmente se importava, realmente ouvia as pessoas, mas ainda era uma surpresa para Daryl que alguém assim realmente existisse.

— Você tem um gosto musical muito bom para um mauricinho — Marco sorriu voltando pela terceira vez na música Sappy do Nirvana, e Daryl revirou os olhos diante da provocação.

— Ah sim, como uma pessoa extremamente presente em redes sociais, eu com certeza não conheço uma das bandas mais famosas de todos os tempos.

— Não é isso, só não combina com a sua estética.