08 - o problema do ensaio

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Oi, meus amores!

Só tenho uma coisa a dizer: não tá fácil pro Kihyun...

Enfim, boa leitura!

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Voltamos para casa quando já tinha amanhecido e tomei banho primeiro, sentando-me na escrivaninha depois de ingerir um remédio para a ressaca. O quarto estava silencioso, então foi impossível não escutar o murmúrio que vinha da varanda. Afastei um pouco a cortina e percebi que meu pai estava apoiado no guarda corpo com o celular no ouvido, falando um pouco alto através do aparelho como se a pessoa do outro lado não pudesse ouvi-lo se não o fizesse.

Curioso, abri uma fresta da porta, o suficiente para poder escutar o que ele dizia e então ele tocou no meu nome, o que me deixou ainda mais interessado.

— Está tudo bem, Sora, ele me parece bastante entusiasmado com essa história de casamento... Não, é claro que não — ele fez uma pausa longa. — Sim, eu sabia que ele gostava de homens... — outra pausa longa, seguida de um suspiro cansado. — É claro que não estou de acordo, mas não tem nada que eu possa fazer. Não posso simplesmente impedir que ele se case...

Fechei a fresta, sentindo algo estranho no peito. Talvez estivesse acostumado com o fato de que minha avó e minha mãe sempre encararam a minha orientação sexual com naturalidade, me ensinando que eu poderia amar quem meu coração escolhesse, independentemente do gênero. Saber que meu pai não concordava com o casamento acabou me deixando com raiva, mesmo quando nunca achei que precisaria de sua aprovação.

Se ele era contra, então o que fazia ali? A lembrança do pesadelo voltou a me atormentar com força e comecei a sentir medo de que ele criasse uma cena vergonhosa durante a cerimônia. Respirei fundo, sentindo que meus olhos ficaram marejados, mas engoli o choro porque não queria deixar que algo assim me afetasse tanto daquela forma.

— Ei, espião — a voz de Hyungwon me tirou da distração e eu me levantei enquanto ele entrava no quarto e contornava a cama.

— Vai mesmo ficar andando pelado por aí? — falei quando vi que ele estava com apenas uma toalha enrolada na cintura e o ouvi rir.

— É que assim fica mais fácil de você pagar o que me deve...

Eu quis entrar na brincadeira, sabendo que ele se referia ao acordo da espionagem porque eu estava novamente bisbilhotando, e até mesmo cogitei me ajoelhar na frente dele, mas não estava com clima para isso. Hyungwon obviamente percebeu e cessou a provocação, sentando-se na cama, imediatamente questionando o que tinha acontecido para eu estar tão para baixo. Eu me levantei e me pus ao seu lado, explicando:

— Escutei meu pai no telefone com a esposa dele e, bom... ele disse que não concorda com o nosso casamento.

Vi que Hyungwon engoliu em seco, talvez se lembrando da época em que o pai dele agia da mesma forma. Ele não disse nada, mas passou um dos braços por meus ombros e me puxou para perto o suficiente para beijar o topo da minha cabeça. Fazia isso sempre que eu me sentia vulnerável, quase como uma afronta por ser mais alto e ter facilidade de beijar meu cocuruto, mas o gesto acabava por me trazer uma sensação muito boa de proteção.

— Eu vou chorar — avisei e seus braços me envolveram com carinho assim que ele respondeu:

— Chore.

E então desabei no meio daquele abraço, apoiando minha testa em seu ombro, com medo de que fôssemos enfrentar mais preconceito dentro de nossa própria família. Não havia motivo para aquilo doer tanto, mas eu me sentia fraco enquanto minha mente repetia as frases ditas por meu pai: "eu sabia que ele gostava de homens", "é claro que não estou de acordo"...

Nothing In Common 2 | HyungKiOnde histórias criam vida. Descubra agora