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M I Y A • A T S U M UEu vou negar até o dia da minha morte que me encolhi em um canto da garagem subterrânea da agência pra chorar. Já era a segunda vez só hoje. Eu odeio isso, mas nunca fui de negar meus próprios sentimentos.
Eu estou triste. Me sinto traído. Também estou com raiva. E confuso. Muito confuso. Meu lado racional está brigando com o emocional. Acho que o segundo ganhou pois eu estou aqui, ainda encolhido, ainda chorando.
Inferno. Dói tanto. Aquela cena já passou pela minha cabeça mil vezes. As palavras de Sakusa fazem eco no meu ouvido. Parece que o tempo parou ali pra mim. E.... Céus, o que eu vou dizer pro Osamu? Ele tem o direito de saber.
Ouço um bater de asas. Eu reconheceria isso mesmo se fosse surdo. Sho pousa em meu joelho e eu levanto a cabeça pra olhar pra ele. É reconfortante vê-lo. Mas... Ele fugiu da creche por acaso? Ou...
— Atsumu — é o Shoyo. Levanto mais a cabeça e olho pra ele. Não, não quero olhar pra ele, não quero ele me veja assim. Levanto do chão e começo a andar, coloco distância entre nós. Até que Shoyo me grita. — Você não vai me fazer correr nesse estado né?
Olho pra ele por cima do ombro. Meu coração dói ainda mais. Ele parece bravo.... Não, bravo não é a palavra. Ele parece desesperado, com medo. Sua roupa está cheia de pelos e bagunçada, ele carrega nos braços uma bola dourada. Não, é Spike.
Shoyo quase caí quando chega perto de mim, mas eu o seguro. Ele geme de dor baixinho e então me lembro que ele está machucado. Eu o estabilizo nos meus braços e só.....parece tão certo.
É aqui onde ele deveria estar. Nos meus braços. Não nos de Sakusa. Nos meus, ou nos de Osamu. Me dou conta disso agora. Ver Shoyo nos braços de Osamu não dói como ver ele nos braços de qualquer outro.
Isso é apenas porque ele é nosso. Nossa alma gêmea. Minha e dele. Shoyo é meu e de Osamu. É com um de nós que ele tem que ficar.
Abraço Shoyo, passando meus braços por sua cintura e apoiando meu rosto em seu ombro. Sinto o calor dele e de Spike.
— Tsumu? — Ele sussurra, a voz tão frágil o faz parecer tão quebrado como eu. — O que aconteceu?
Eu não sei o que dizer a ele. Não quero dizer ainda. Então fico em silêncio. Sua respiração me ajuda a me acalmar. Passo minutos abraçado a ele. Não quero soltar ele. Ainda não me sinto pronto pra falar, mas não quero segurar isso dentro de mim.
— Eu vi.
— Viu o quê?
— Vi você, com Sakusa — explico. — Vi que ele parecia feliz sem motivo, depois vi ele sorrindo e era pra você. Vi ele caminhar em sua direção e vi ele te beijar, vi você aceitar esse beijo. Então vi vocês entrarem no carro. Como um casal saindo pra almoçar junto.
Ele está tenso em meus braços. Eu o solto, lentamente. Ainda não quero olhar pra ele.
— Atsumu, podemos só... Sentar um pouco? — Ele pede. Sua voz está contida, baixa, como se não quisesse transparecer algo. Não faço perguntas e o ajudo a sentar no chão. Ele estende a perna, suspirando. — Bem melhor. Agora, podemos conversar?
Não olhei pra ele ainda, então observo suas mãos ajeitando a raposa em seu colo. Spike está calado, quieto e encolhido.
— O que aconteceu com ele? — pergunto; estendo a mão para tocar o pelo dourado, mas a recolho.
— Estou aqui pra descobrir isso — responde Shoyo. — Agora, Atsumu, olhe pra mim.
Nego com a cabeça. Sua mão vai ao meu rosto, ele faz carinho na minha bochecha. Não me obriga a olhar pra ele. Preciso fazer isso por conta própria. Eu o olho. Por que parece ser ele quem está sofrendo? Por que ele faz essa cara, como se pudesse chorar a qualquer momento?
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Kitsunes (MiyaHina)
FanfictionNós sempre dividimos tudo, Tsumu e eu. Desde o útero de nossa mãe até o quarto e brinquedos. Ele invade meu quarda roupa e usa minhas camisas. "Samu e eu dividimos tudo, o sobrenome, o rosto e os talentos. Ele cozinha maravilhosamente bem enquanto...