Capítulo 1: Passado

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— Esse café é meu – Shikamaru disse com sua fala arrastada. Eu observei melhor o copo em minha mão e vi que era verdade.

— Ah, me desculpa – Sorri sem graça, devolvendo o copo pra ele. Achei o meu copo no lado oposto da minha mesa, e ainda bati de leve nele, quase derrubando. Felizmente, ele estava vazio, então suspirei – Droga, o meu acabou... Devia ter bebido o seu mesmo – Brinquei e percebi que Shikamaru ainda me observava.

— O que aconteceu com você?

— Como assim? – Me fiz de desentendido. Sabia que eu não estava sendo eu mesmo, por mais que me esforçasse por fingir que estava tudo bem.

— Você normalmente é desatento, perde a atenção com facilidade e é lerdo demais para um professor...

— Poxa, obrigada pela parte que me toca – Cortei brincando.

— Mas... – Ele enfatizou – Também é o mais esforçado e confiável, o que geralmente compensa o resto.

Ele havia notado... Observador do jeito que é, não me surpreende. Fiquei apenas esperando em silêncio.

— Eu sei que aconteceu alguma coisa com você, nessa ultima hora, por isso você não está conseguindo trabalhar direito. E você não precisa me contar o que é, mas também não precisa fingir que não.

Ele tinha razão. Senti a minha garganta fechar.

Shikamaru tinha sido mais que um ombro amigo, desde o momento em que cheguei à cidade. Um lugar totalmente novo, sem nenhum conhecido, onde eu não tinha como prever como seria... Só sabia que não seria fácil.

Na época, pelas circunstâncias em que fui transferido, os professores começaram a especular sobre o motivo que teria levado um professor efetivo, de uma das mais prestigiadas instituições do país, a se transferir para uma escola normal, em uma cidade do interior.

Porém, ele não perguntou ou tentou saber o que aconteceu, apenas se preocupou em me conhecer. E isso era tudo o que eu precisava. Assim, ele se tornou alguém indispensável para mim e meu novo começo.

Acabei gostando muito da cidade, da escola e fiquei definitivamente.

Só que no fim, eu percebi que não recomecei de fato...

Uma matéria de jornal foi suficiente para me lembrar que eu ainda estava preso ao passado. Que depois de tantos anos, eu ainda nutria sentimentos por aquela menina.

— Se lembra de quando eu fui transferido pra essa escola? – Finalmente respondi, depois de uma pausa.

— Há seis anos? – Me fitou curioso – Sim, por quê?

— Bem... – Eu suspirei – Estou pronto pra te contar o que aconteceu, se quiser saber – Percebi ele arquear uma sobrancelha.

— Se for pra você se sentir melhor, eu quero – Respondeu sinceramente.

— Podemos fazer uma pausa agora?

Shikamaru olhou a montanha de papel em sua mesa, olhou o horário no relógio e ponderou.

— Nenhum de nós vai conseguir trabalhar com você nesse estado então... Onde quer ir?

— Para o telhado... – Afirmei, pegando meu celular, o jornal e meu copo vazio. Caminhei até uma cafeteira enquanto observava Shikamaru, que ainda não tinha se movido do lugar. Ele finalmente se levantou, falou alguma coisa para uma das professoras, provavelmente avisando que estaremos ausentes, e então veio até mim, com seu próprio copo.

Caminhamos em silêncio até o telhado.

Me sentei perto das grades de proteção e respirei fundo. Shikamaru se sentou ao lado e acendeu um cigarro.

— O telhado me traz recordações... – Comentei baixo.

— Nem me lembro do período escolar... Muito problemático – Rebateu.

Sorri... Absolutamente tudo é problemático para esse homem.

— Não estava me referindo ao período escolar, mas a instituição que eu dei aula antes de vir pra cá... – Fiz uma pausa, pensando em como começar. Então entreguei o jornal pra ele – Aqui. O que aconteceu comigo está na página 12.

Shikamaru pegou o jornal e o folheou. Localizou a página, e passou alguns segundos lendo os títulos das matérias e me olhou curioso.

— Pode ser mais específico? – Apontei a pequena matéria, que não ocupava nem meia folha do jornal. Ele a fitou durante um tempo e então voltou a me olhar e repetiu – Pode ser mais específico?

Dei risada. Já estava me sentindo reconfortado só pelas poucas palavras que trocamos. Isso me motivava a revelar toda a história.

— "Um casamento de contos de fadas" – Shikamaru leu o título – É isso mesmo?

Confirmei com a cabeça sem fitá-lo, e ele continuou, lendo o subtítulo da matéria.

— "Em duas semanas, a herdeira da fundação Hyuuga se casará no tradicional castelo da família" – Ele leu em voz alta e depois ficou em silêncio. Quando me voltei para ele, notei que ele ainda lia a matéria...

Eu não consegui ler tudo... Depois de "Hyuuga se casará", meu coração não se recuperou.

Eu sofri muito nos primeiros anos, pensando se ela já estaria nos braços de outro... Se ela já estava amando outro... Se tinha me esquecido...

Pelo menos um de nós conseguiu seguir em frente.

— Agora você pode me explicar – Shikamaru dobrou o jornal e me fitou.

— Me apaixonei por uma aluna... – Pronunciei e, dizer essas palavras em voz alta, depois de tanto tempo, deixou minha mente meio aérea. Quase fico atônito com o quanto ainda está vivo em mim.

Shikamaru estava visivelmente incrédulo.

— A garota que vai se casar? – Deduziu e concordei com a cabeça – E vocês se envolveram?

Percebi pelo seu tom de voz que ele estava perplexo e quase me arrependi de revelar tudo. Mas, preciso botar isso para fora e ninguém melhor do que ele para me ouvir.

— Vou te contar tudo...

ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora