Capítulo 4: Atração

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Nossos encontros se tornaram regulares.

- Nem acredito que já estamos no fim do ano - Comentei, fechando o livro que tínhamos abordado dessa vez - Você está no comitê de decoração do baile, não é? Vai ter muito trabalho daqui pra frente.

- Sim, foi ideia da Ino e eu fiquei tão feliz... - Ela comentou com as feições animadas, se espreguiçando, ainda na cadeira - Normalmente eu não tenho chance de fazer essas coisas...

- E por que não?

- Falta de tempo... Faço muitos cursos para enriquecer meu conhecimento. Papai me deu esse semestre de "folga", por causa da mudança de escola - Fez aspas com as mãos - Mas já me passou a grade de cursos do ano que vem...

- Grade de cursos? Uau, deve ser difícil ser tão responsável - Comentei, me inclinando sobre a mesa. Apoiei um cotovelo na mesa e dobrei o braço, para apoiar o rosto em minha mão, assim eu conseguia ficar olhando a jovem.

- Estou acostumada... - Ela murmurou, colocando as duas mãos sobre a mesa, brincando com os próprios dedos, enquanto corava.

Eu comecei a achar graça nas reações dela, não tinha nenhuma intenção no meu interesse... Ainda.

- Já decidiu qual faculdade vai fazer?

- Direito... - Percebi que ela deu um sorriso quase triste.

- Por que você não parece animada com isso?

Ela me olhou nos olhos, por único instante. Pareceu que ela estava em dúvida se devia falar.

- A minha família... Segue uma tradição de gerações - Começou com sua voz um pouco mais suave que o habitual - Os pais sempre planejam toda a vida dos filhos, principalmente a formação profissional... Para que tenhamos sempre sucesso, e assim nos manter a frente de todos, em cada época...

- Hyuuga, isso parece uma frase pronta - Brinquei, com um sorriso leve.

- Talvez eu só tenha escutado muito - Sorriu, e ainda me parecia triste.

- Bom, vocês lideram o mercado há anos, então funciona - Falei de forma descontraída, pois senti o clima ficar meio tenso.

- Sim... E é por isso que eu tenho que me preparar... Um dia, eu ocuparei o lugar do meu pai, como herdeira...

Seu olhar parecia perdido. Tive a impressão de que ela não queria assumir essa posição.

- Você não é a única herdeira, tem uma irmã, não tem?

- Tenho... Mas, eu nasci primeiro, a responsabilidade é minha.

- O que acontece se você não quiser isso?

A morena fez uma pausa longa demais.

- Eu quero... - Murmurou.

- Não é o que está parecendo... - Afirmei, mas ela permaneceu calada - O que você quer realmente fazer?

- Eu... - Ela começou, mas a senti ficar tensa - Eu... Já tenho tudo preparado... Decidido... Desde sempre...

Respirei fundo, pensando se era prudente continuar essa conversa.

- Está dizendo que toda sua vida é planejada? - Ela confirmou em silêncio - Como assim, menina?

- Antes de eu nascer, tudo já estava decidido... E desde pequena eu venho sendo educada seguindo esse plano...

- Espera, é seu pai que toma as decisões por você? - Me endireitei, esperando a resposta.

- N-não todas... Mas o que tem forte influencia para a família, como a formação, a profissão, relacionamentos... Essas coisas.

- Até os relacionamentos? Tipo, com quem você namora? - Perguntei descrente e a jovem corou, abaixando a cabeça, confirmando - Hyuuga, não dá pra deixar isso nas mãos de outra pessoa, por mais bem intencionada que essa pessoa seja - Rebati.

- É para o meu bem... - Falou baixo.

- E se você se apaixonar?

A jovem corou e olhou para o outro lado. Nesse momento percebi que talvez estivesse me intrometendo demais, entretanto, ela continuou.

- Q-quando eu fizer... Dezoito anos... - Ela falou com um tom de voz ainda mais baixo, como se fosse um segredo - Papai vai me apresentar alguém... Que ele considere bom o bastante para a função que vai assumir.

- Função? Isso não é um trabalho. E se você não gostar do rapaz?

- Ele me dará tempo para isso... Se não der certo, ele me apresentará outra pessoa... M-mas, normalmente, é com essa pessoa... Que nos casamos.

- Quem vai se casar é só você, Hyuuga, não fala no geral - Comecei a me incomodar com tamanho do controle que ela sofria.

- É por causa da... Tradição... Foi assim com todos, incluindo minha mãe. Eu sou a herdeira... - Ela repetiu - Não posso pensar apenas na minha vida pessoal, tem muita coisa em jogo.

- Me desculpa, mas isso não é exagerado? - A jovem me fitou, com uma interrogação no olhar, como se o que eu tivesse dito não fizesse sentido - Eu sei que não tenho que me meter, mas é a sua vida e você tem que pensar nela sim. Do meu ponto de vista, isso não parece bom pra você.

- Eu sei que tenho oportunidades que muitas pessoas sonham ter... Estou grata por ter nascido como herdeira e aceitar essa responsabilidade. É bom pra mim... - Repetiu e novamente pareciam respostas decoradas.

- Não, não é se você não for feliz.

- Eu sou feliz... - Ela sorriu, mas ainda me parecia um sorriso triste.

Sem pensar, eu coloquei minha mão sobre a dela e apertei.

- Isso é mesmo verdade ou você apenas se convenceu que é? - Ela me olhou com surpresa - Tem um abismo de diferença, menina.

Seu rosto se avermelhou ainda mais e eu senti que meu coração apertou. Naquele momento, pensei que estava apenas sentindo compaixão pela situação dela.

Hoje sei que foi o primeiro sinal, que eu não interpretei certo.

- Desculpa, não é da minha conta... - Resolvi me retratar e ia retirar a minha mão, mas ela a segurou. A morena abriu a boca para falar alguma coisa, mas o celular dela tocou, assustando-a. Hinata deu um pequeno pulo, o que me fez rir.

- Está devendo, Hyuuga? Você se assusta muito fácil - Brinquei, recolhendo minha mão.

A jovem pegou o celular e ficou olhando a chamada piscar na tela, mas sem reagir.

- Não vai atender? - Eu perguntei e observei a morena me olhar nos olhos, por um tempo que pareceu longo demais. Ela sempre desviava rapidamente, por isso, acho que essa era a primeira vez que eu conseguia, verdadeiramente, olhá-la.

E então a chamada caiu, deixando a biblioteca em profundo silêncio.

- É, melhor eu ir... - Ela quebrou o contato visual e, delicadamente, começou a guardar suas coisas - Obrigada por hoje, professor Uzumaki...

Eu não respondi, apenas a segui com os olhos, enquanto ela se retirava. Por um momento, eu me senti... Perdido.

Percebi tarde demais, que meu coração batia descompassado.

ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora