Caminhamos em silencio até chegar ao meu carro. Eu abri a porta para ela e rapidamente dei a volta, tomando meu lugar atrás do volante.
Apenas joguei a bolsa no banco de trás. Eu estava nervoso, não sabia como começar a conversa. Meu coração agia como se tempo nenhum houvesse passado, mas minha mente dizia que não éramos mais os mesmos, que eu devia ir com calma.
As coisas só ficaram tão ruins no passado por causa da minha impaciência. Eu não podia repetir o mesmo erro.
A fitei por um momento.
— Parece que você não mudou nada. Mas, ainda assim está tão diferente... – Comentei baixo.
— É o efeito do tempo... – Ela sorriu minimamente e me olhou – Você está exatamente como eu me lembro.
Senti um arrepio percorrer o corpo. Cortei o contato visual por um instante.
— E... Onde está ficando? – Falei já saindo com o carro.
— Estou em um conjunto de apartamentos, atrás da avenida principal.
— Mas... – Voltei a fitá-la curioso – Só tem um complexo normal de apartamentos lá... Alias, eu moro há duas quadras.
— O normal é minha rotina já tem um tempo – Ela murmurou.
— O que quer dizer? Eu não soube mais nada sobre você desde... Aquele dia, no telhado... – Comecei cauteloso – E eu li hoje que Hanabi vai assumir suas funções... O que aconteceu?
A morena suspirou e começou a falar.
— Depois que meu pai descobriu... – Ela fez uma pequena pausa – Minha relação com ele nunca mais foi à mesma... Ele não aceitou o fato de não conseguir arrancar nada de mim, ou da Ino, ou da instituição... E acabou ficando mais controlador...
— Mais? – Comentei chateado.
— Eu apenas aceitei como eu sempre fazia... No ano seguinte, eu comecei a faculdade de Direito... E fui apresentada a um rapaz da vontade do meu pai... Com quem eu comecei um relacionamento... Além de assumir algumas funções na empresa... Como o planejado...
Engoli em seco, ouvindo tudo atentamente. Percebi que, apesar das pausas, ela não gaguejou nenhuma vez.
— Mas eu não era mais a mesma pessoa. Eu vinha mudando, aos poucos... E queria, mais do que nunca, poder tomar minhas próprias decisões. Porém ainda não tinha forças para ir contra tudo o que eu cresci aprendendo a valorizar... Até que um dia, me sentindo sozinha, eu peguei aquele livro que você me deu de aniversário... Lembra a dedicatória que você me deixou?
— Eu lembro... – Confirmei. Estava dirigindo com mais cuidado do que nunca, porque meus sentidos estavam quase todos voltados para ela.
— Eu finalmente entendi o que ela queria dizer então... – Ela fez outra pequena pausa – Decidi abrir mão de tudo o que não tinha sido minha escolha. No dia seguinte, eu cancelei a matricula na faculdade e, claro que meu pai foi avisado imediatamente pela administração. Ele chegou em casa furioso, e me encontrou terminando com o rapaz que eu namorava... Era um bom rapaz, até tentou assumir a responsabilidade pelo término, mas meu pai sabia que não era o que ele queria...
— E como seu pai reagiu?
— Ele me trancou por semanas no quarto, tentando me fazer mudar de ideia... Chegou ao ponto de me agredir fisicamente, mas nada do que ele fizesse me faria desistir, então... Quando ele percebeu que eu não cederia... Ele... Me deserdou...
— O que? – Fiquei atônico. Como eu não soube de uma coisa dessas? – Isso... Isso é muito sério.
— Eu sempre soube que não existia meio termo com meu pai, e eu estava preparada pra qualquer consequência... Porque dessa vez, eu tinha escolhido.
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Professor
RomanceMeu corpo ainda estava quente e meu coração disparado. Tremi ao reconhecer essas sensações e levei uma mão até a boca, chocado. Como eu pude deixar isso acontecer?