Capítulo 3: Afinidade

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A primeira aproximação foi natural.


— Estou morto – Estiquei os braços, me espreguiçando. A mesa de Sasuke ficava bem de frente a minha, o que me dava liberdade de conversar com ele a qualquer momento. Não que ele gostasse.

— Terminou todo o seu trabalho? – O ouvi dizer após um tempo, mas sem se preocupar em parar de digitar em seu computador.

— Todo, todo... Não. Mas o de hoje está garantido – Confessei sorrindo.

— Idiota... – Ele murmurou

— Idiota é você – Retruquei.

Nos conhecemos na faculdade e acabamos amigos, mesmo que eu não saiba ao certo como, pois somos muito diferentes. Apesar disso, desenvolvemos uma boa afinidade, do tipo que eu ainda não tinha tido com ninguém. E foi ele quem me conseguiu uma vaga nesta instituição. Era nosso segundo ano como professores efetivos.

— Deu por hoje. Vou passar na biblioteca e pegar outro livro, depois vou pra casa – Falei já reunindo minhas coisas.

— Eu sou responsável, então vou ficar mais...

— Tudo bem, puxa saco, qualquer coisa me liga. Até amanhã – Me despedi ao levantar.

— Até, bastardo – O ouvi dizer antes de sair.

O horário letivo já tinha acabado e os poucos alunos que ainda estavam na escola, deviam estar encerrando as atividades dos clubes. No entanto a biblioteca estava sempre vazia.

Pode não parecer, mas eu sou um ávido leitor e estou sempre me atualizando sobre livros históricos e algumas literaturas.

Cheguei à biblioteca e a porta estava aberta, então entrei e fui direto para a ultima estante, onde ficavam os meus livros favoritos, mas me surpreendi ao ver que, dessa vez, eu não estaria sozinho. Sentada no chão, Hinata lia tão concentrada que nem me notou.

Parei e fiquei observando a jovem, por um instante. Fazia um mês que ela havia se transferido e já tinha dado para distinguir a excelente aluna que era, muito dedicada e inteligente. E pelo visto, também curtia ler os mesmos temas que eu.

— Hyuuga – Chamei e percebi que ela teve um sobressalto, quase derrubando o livro das mãos. Escondi o riso – Desculpa, não quis te assustar.

— T-tudo bem... – Ela falou baixo, apertando o livro contra o peito e pondo-se de pé, em um salto. Notei que havia outros três livros no chão, que ela rapidamente pegou para colocar no lugar.

— Não está tarde pra ainda estar na escola?

— E-eu vim olhar a biblioteca... Ainda não tinha...Tido a chance. Eu gosto de ler e... E-eu achei uns livros muito interessantes, então... – Parecia constrangida. Esse lado dela não mudava, mesmo com a convivência – Esqueci do tempo...

— Eu sei bem como é. Acabei de ler o livro que estava lendo.

— Mesmo? – De repente, ela se animou e me olhou diretamente, pela primeira vez, desde que entrei – E o que achou? Eu comecei a ler e não consegui parar...

— Bom, eu terminei de ler em dois dias, então... – Sorri – Eu quase não dormi, atrasei meu trabalho a ponto de levar uma bronca, mas valeu a pena... Ah, por favor, não siga meu exemplo... – Avisei e ela sorriu.

— Eu... Vou ser responsável, prometo – Hinata, terminou de colocar os livros no lugar – Veio pegar um livro?

— Sim, eu ainda não comecei a ler nenhum da prateleira alta. Chegaram há pouco tempo, fruto de uma boa alma que doou pra escola.

— Eu li esse, no ano passado – A jovem apontou para um livro que estava na prateleira que eu mencionei – Ainda esta fresco na minha memória.

— Sério? – Falei surpreso – Esse autor costuma ser bem denso.

— É verdade, mas eu estou acostumada a ler... Desde muito pequena. Meu pai é... Rígido quanto a minha educação... – Ela quase murmurou essa ultima parte – Mas eu comecei a gostar, de verdade, de ler...

Observei em silencio a jovem e tive a impressão que a vida dela devia ser bem difícil. Foi quando notei que ela guardou também o livro que lia.

— Não vai levar o livro?

— Eu ainda não tenho cadastro e a responsável já foi embora... Eu volto amanhã.

— Eu pego pra você. Eu sempre deixo um bilhete com os livros que peguei na recepção, porque venho bastante, a maioria das vezes, fora do horário.

— Por favor, quero muito continuar lendo...

— Bom, nesse caso... – Me aproximei e peguei o livro que ela comentou momentos antes – Eu vou ler esse e assim vou ter com quem conversar depois.

A jovem sorriu e enrubesceu novamente, voltando ao seu estado tímido. Peguei também o livro que ela lia e fui até a recepção, deixar meu costumeiro bilhete.

A jovem me acompanhou e eu lhe entreguei o livro.

— Quando terminar me diz o que achou... Vai acabar me encontrando aqui no final da tarde.

Disse de modo trivial.

Não tinha absolutamente nada por trás das minhas intenções... Não tinha como eu saber que esses momentos aconteceriam com mais frequência do que deveriam...

Na segunda vez que nos encontramos na biblioteca, comentamos sobre os livros que tínhamos lido, animados. Ela não conhecia muitas pessoas na idade dela que gostavam desse conteúdo e, apesar de não termos a mesma idade, eu tenho só vinte e quatro anos, ainda sou jovem.

E eu também não tinha encontrado alguém que gostasse tanto quanto eu, dos mesmos livros. Não foi difícil criarmos uma afinidade por interesse. Acabamos conversando por inacreditáveis duas horas, sem nem perceber o tempo passar.

Soube nesse dia que ela queria muito ler um titulo que eu sabia que tinha, mas não fazia ideia de onde estava. Passei quase duas noites revirando minhas coisas até encontrar. E quando finalmente ele apareceu, fiquei ansioso por vê-la na biblioteca.

— Olha o que eu achei – Falei levantando um livro que eu mantinha escondido em minhas costas. Quando ela viu, sua postura tímida sumiu e ela sorriu animada.

— Não acredito! – Ela o pegou de minhas mãos e analisou com cuidado.

— Eu sabia que tinha, só precisava de um incentivo pra achar.

— Posso mesmo ler?

— Mas é claro que pode, foi por isso que o trouxe. Depois podemos conversar sobre ele também... Se bem que, eu acho que terei que ler de novo, já não lembro bem – Sorri, levando uma mão a nuca.

— Eu a-adoraria... – De repente, ela voltou a ser tímida e corou até as orelhas, mordendo levemente a própria boca – Muito obrigada, professor Uzumaki

— Por nada...

E esse foi nosso terceiro encontro fora da sala... Eu me senti muito bem naquele momento... Era somente uma aluna que gostava de ler.

Não podia imaginar que estava alimentando um sentimento que não deveria existir.

ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora