você me ganhou no olá. || adaptação rabia

a coreografia do beijo.

Manu Gavassi estava esperando por Rafaella quando ela chegou ao set para o ensaio particular cedinho na manhã seguinte. As cenas seriam filmadas numa cozinha profissional que normalmente era usada para a gravação de talk shows, mas que havia sido redecorada para parecer a cozinha do andar térreo da casa dos Serranos em Spanish Harlem. A produção tinha revestido as superfícies com madeira escura e adornado o local com lâmpadas amarelas e potes de cobre, além de pendurar panelas no teto. Três paredes haviam sido construídas ao redor dos elementos da cozinha - uma pia de um lado, um fogão de outro, uma escada falsa no fundo e uma ilha com topo de madeira no centro.

Como ainda estavam só ensaiando, Rafa estava de calça jeans e com a camiseta que colocara depois de sair de seu treino na academia às cinco da manhã. Bianca chegou logo depois dele, parecendo radiante num macaquinho florido. Ela não era alta, mas parecia ser só pernas, e a mais velha precisou se concentrar para não ficar olhando feito uma tarada enquanto Bia desfilava para lá e para cá naquele shortinho.

- Bom dia - disse Bianca, abrindo um sorriso sonolento. Droga, ela era adorável.

- Buenos días - respondeu Rafa, e então se lembrou de falar inglês. - Cansada?

A menor fez que sim.

- Ainda não tomei café. Eu não queria... você sabe, tomar café antes de beijar alguém. É meio nojento.

Kalimann não conseguiu evitar um sorriso, pois tinha pensado a mesma coisa naquela manhã. Escovara os dentes, passara fio dental e então usara o enxaguante bucal três vezes depois de tomar café.

Ilba e Marquita chegaram depois. Seriam apenas as cinco no set para o ensaio, a pedido de Gavassi.

Elas se sentaram em cadeiras dobráveis enquanto Manu repassava os pontos que haviam discutido no dia anterior em relação a comunicação e consentimento.

- Vocês duas chegaram a pensar em algum tipo de ritual? - perguntou Manu, direcionando seu olhar intenso e brilhante para Rafaella e Bianca.

Carajo, ela nem tinha pensado naquilo, mas Andrade levantou a mão meio insegura, como se estivessem na escola.

- Tive uma ideia - disse ela com a voz vacilante quando seu olhar cruzou com o de Rafa. - E se a gente fizesse... um "bate aqui"? Depois que Ilba gritasse "corta". Vocês sabem, para sair do personagem.

Kalimann recordou os oito anos fazendo o mesmo gesto com Miguel a cada vez que o menino alcançava um objetivo: andar, amarrar o cadarço, aprender a somar, manobrar o skate e conseguir ficar de pé nele. Ela não conseguia se lembrar do nome daquela manobra, mas Miguel tinha ficado tão orgulhoso por não ter caído depois de realizá-la pela primeira vez que eles trocaram um bate aqui duplo, usando as duas mãos. Miguel chamou de ultra-bate-aqui.

Todas estavam esperando a resposta dela, então Rafa concordou.

- Ok. Claro, um bate aqui.

Com Bianca aquele seria um gesto inofensivo, o som e o movimento das palmas das mãos servindo para lembrá-las de quebrar a estranheza natural de um beijo diante das câmeras.

Porque era estranho, não importava quantas vezes ela fizesse aquilo.

A última mulher que Rafaella tinha beijado em cena fora uma atriz de novela experiente em El fuego de amor. Na verdade, elas já haviam feito outro trabalho juntas, uns seis anos antes, quando também haviam se beijado. As duas fizeram piadas sobre aquele momento, brincando sobre como estavam muito mais velhas naquele momento. Mas Kalimann não tinha aquela intimidade com Bia. Tudo o que tinha era aquela sensação de eletricidade correndo por suas veias quando ela estava por perto.