o episódio seis.

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CARMEN NO COMANDO
EPISÓDIO 6

Cena: Jade vai a um evento de caridade num abrigo de animais.
INT: Ginásio de uma escola primária - DIURNA

- Você se saiu bem com as crianças - disse Carmen.

- Não precisa parecer tão surpresa assim - replicou a cantora, um tanto ofendida. - Não sou um monstro.

- Não é isso. - Ela arrumou uma pilha de panfletos do abrigo de animais. - É só que eu... não sabia que você gostava de crianças.

- Eu gosto. - Jade tinha a impressão de que ela não estava se referindo às crianças do hospital infantil que haviam visitado mais cedo. Ela podia fingir que não sabia do que a ex-mulher estava falando, ou podia ir direto ao ponto. Elas já tinham fingido demais quando eram casadas. - Você está se perguntando por que não tivemos filhos?

Carmen cruzou os braços, se envolvendo, e virou de costas para que ela não pudesse ver seu rosto.

- Nós nunca falamos sobre isso.

- Eu... - Era a vez da cantora de ser honesta. - Eu achava que você não queria.

Ela se virou de novo para Jade, e havia muita emoção em seus olhos verdes.

- Por que você achava isso?

A mais velha deu de ombros, enquanto mágoas antigas enterradas havia muito tempo voltavam à tona.

- Você deixou claro que sua carreira vinha em primeiro lugar. A Serrano Relações Públicas era o legado de sua família.

- Mas você nunca perguntou.

Jade suspirou.

- Não. Não perguntei. Mas você também não - disse ela de um jeito carinhoso, não crítico. As duas haviam cometido erros.

- Sei que essa pergunta está alguns anos atrasada, mas... você queria ter tido filhos, Jade?

Ela olhou para os animais brincando em seus cercadinhos.

- Sí, Carmencita. Eu queria ter tido filhos com você. Um dia. Mas não chegamos a esse ponto.

A mais nova não reclamou com ela por chamá-la pelo diminutivo, o que para Jade era um sinal de progresso.

- Não chegamos a vários pontos - disse ela em voz baixa. Então olhou para o relógio. - Já vão abrir as portas. Está pronta?

A cantora ajeitou a postura, ignorando as latidas e os miados atrás dela.

- Como sempre.

As portas se abriram e uma multidão entrou correndo no ginásio, os sapatos fazendo barulho no chão encerado e o burburinho ecoando pelo espaço.

De seu lugar diante de um cartaz estampado com o logo do abrigo de animais, Jade sorriu, distribuiu autógrafos e posou para fotos enquanto Carmen entregava a ela um cachorrinho ou um gatinho sem parar.

Seus dedos estavam cheios de mordidas de dentinhos finos dos filhotes de cachorro, a jaqueta fora arranhada pelas garras afiadas dos gatos e ela quase levara um banho de xixi - duas vezes. Mas Jade aguentou tudo isso, encantando o público que estava lá para ajudá-la a melhorar sua imagem.

Até que sua alergia começou a dar as caras.

Ela tentou não espirrar muito alto quando Carmen a mandou segurar três gatinhos perto do rosto, mas, mesmo com o remédio que tinha tomado pela manhã, aquela era uma batalha perdida.

E então trouxeram Luther.

Luther era uma píton de um metro e meio de comprimento cujo nome verdadeiro era Lucy.

O roteiro não dizia que Jade tinha medo de cobras. E, se alguém perguntasse, ela diria que não tinha.

Mas a verdade era que ela só não era muito fã delas. E nunca na vida tivera a vontade de segurar uma.

- Aí vem Luther - cantarolou Carmen. As crianças se reuniram ao redor de Jade, animadas. Os pais soltaram exclamações de espanto.

E a cantora estava quase saindo do personagem.

Cálmate, cabróna, ela disse a si mesmo. Você é uma superstar internacional. Lotou shows nos maiores ginásios do mundo. Isso é só uma cobrinha inofensiva.

A cobra, ainda no braço do tratador, a olhava impassível.

As axilas de Jade começaram a suar.

A cobra se aproximou.

Engolindo em seco, Jade estendeu os braços com todos os músculos retesados e deixou que a entregassem a píton.

As crianças se amontoaram à sua volta. Ela sorriu para a câmera.

A cobra se mexeu. Os braços de Jade tremiam de nervoso. E então...

O nariz dela começou a coçar.

- Três... - o fotógrafo iniciou a contagem regressiva. - Dois...

No "um", Jade espirrou, quase deixando Luther cair. Num reflexo, ela cruzou os braços, segurando a cobra junto ao peito. Luther, Lucy, tanto fazia, passou a cabeça por trás do pescoço da cantora, enrolando-se em seu pescoço.

Jade congelou. Puta. Merda.

- Alguém tira essa cobra daqui! - gritou ela.

- Corta!

você me ganhou no olá. || adaptação rabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora