Com a ajuda de um chef de verdade de um restaurante caribenho na cidade, eles filmaram a sequência da cozinha, que envolveu uma porção de legumes picados, risadas e provas. Rafaella fora criada no restaurante da família, então nada daquilo era novidade para ela. Ela provavelmente estava mais à vontade na cozinha do que todos os outros, cercado pelo aroma de alho e dos vegetais cozidos.
Aquela parte foi filmada sem a captação de áudio, o que significava que nada do que os atores dissessem durante a gravação seria incluído na cena final. Eles deviam fingir que estavam se divertindo, e, por sorte, Miriam Perez — que interpretava Dahlia — era uma atriz de comédia com vasta experiência em improvisação. Miriam arrancava sorrisos de Bia e Rafa o tempo todo, fazendo coisas como oferecer a Kalimann um pouco do caldo como se ela fosse um bebê, imitando o som de um aviãozinho e tudo o mais. Ela esperava que aquela cena fosse incluída na edição final. Miguel ia adorar. E ela tinha que admitir que estava se divertindo ao exercitar seus talentos como comediante.
Ilba estava empenhada em tornar a experiência o mais real possível, por isso orientou Rafaella a ficar de olho no caldo e mexê-lo de vez em quando. Ela estava diante da panela, inalando aquele aroma que fazia se lembrar de casa, quando Bianca apareceu ao lado dela.
Olhando-a nos olhos, ela mergulhou uma colher limpa no caldo.
— Se um vai comer alho, todos precisam comer — disse.
Será que Bia estava se referindo à cena do beijo que viria a seguir? Kalimann esperava que sim, porque àquela altura só conseguia pensar naquilo, e não queria ser a única.
Rafaella baixou os olhos quando Bianca levou a colher à boca, os lábios carnudos envolvendo o talher de metal de uma forma que fez o coração da mais velha disparar. Ela passou a língua no lábio inferior para limpar uma gotinha errante e bateu os cílios ao murmurar um “hummmm”.
Kalimann pigarreou.
— Tenho um enxaguante bucal no camarim.
Madre de Dios, ela não parava de falar merda.
— Eu também, mas mesmo assim.
Andrade abriu um sorriso sedutor quando jogou a colher no bolso do avental e se virou. Rafa precisou conter a vontade de tocá-la. Pelo canto do olho, notou a câmera que as acompanhava. Só mesmo os anos de experiência a impediram de fazer contato visual com a câmera quando ela voltou a mexer o caldo na panela.
Carajo. Aquele era o momento mais verdadeiro que haviam compartilhado até então, e seria cortado na edição final. Bom, fazer o quê. Era esperado que os personagens se aproximassem, certo? Que flertassem e retomassem o antigo romance. Aquilo se encaixava. Ninguém desconfiaria.
Mas Kalimann vinha contracenando com Bianca havia algumas semanas, e ela sabia que aquela chama nos olhos e na voz da mais nova havia sido real. Bia estava flertando com ela, e ela não sabia bem como se sentia a respeito disso.
Mentira. Rafa se sentia ótima. O problema era que estava tão fora de forma que perdera a habilidade de flertar de volta.
Quando a diretora anunciou uma parada antes de rodarem a ceno do beijo, Rafaella correu para o camarim a fim de fazer a higiene bucal mais cuidadosa de sua vida. Ela imaginou que Bianca estivesse em seu camarim submetendo-se ao mesmo ritual pré-beijo, então gargarejou mais uma vez com o enxaguante.
Por força do hábito, checou o celular antes de voltar ao set e franziu o cenho ao perceber que havia recebido uma mensagem de voz do pai. Encostando o celular na orelha, ouviu a mensagem.
— Hola, mi hija — começava Ignacio, em sua saudação de sempre. — No te preocupes, todo está bien.
Rafa sentiu o coração parar. Sempre que o pai começava uma mensagem dizendo “não se preocupe, está tudo bem” significava que nada estava bem.
— Estamos indo para o pronto-socorro — continuava Ignacio, em espanhol. — Guel caiu de uma árvore e machucou o pulso. Acho que foi só uma luxação, mas vou levá-lo para fazer um raio X. E seu avô ainda não melhorou da tosse, então vou levá-lo para um check-up também. Mi madre vai com a gente.
Ignacio terminava a mensagem com mais um “não se preocupe”. Kalimann fechou os olhos por um segundo e então ligou de volta para o pai. A ligação chamou, chamou e caiu na caixa postal. Resistindo à vontade de ficar ligando repetidamente até que Ignacio atendesse, a morena decidiu mandar uma mensagem de texto, avisando ao pai que estava ocupada com as filmagens, mas que queria receber notícias assim que fosse possível. Além de correr para o aeroporto e pegar o primeiro voo para Porto Rico, não havia mais nada que ela pudesse fazer.
Não era a primeira vez que Miguel ia parar no pronto-socorro. O menino tinha mania de escalar as coisas, o que significava que também estava sempre caindo. Mas toda vez que isso acontecia Rafa desejava estar lá para cuidar de seus machucados e curativos. E o avô estava com 83 anos, então até mesmo um resfriado era preocupante.
Alguém bateu à porta.
— Está tudo pronto — avisou uma assistente de produção.
— Gracias — respondeu Rafaella.
Droga. Enquanto se preocupava com o estado de saúde de sua família, ela tinha esquecido completamente da cena do primeiro beijo com Bianca. Por força do hábito, passou a mãos pelo cabelo, afastando-as em seguida. Não queria ter que explicar ao cabeleireiro por que estava toda despenteada de repente.
Ela precisava se acalmar, mas aquilo seria difícil, pois o pai estava incomunicável e Rafaella não podia ficar esperando por uma resposta.
Tudo que ela podia fazer era voltar para o set e torcer pelo melhor.
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você me ganhou no olá. || adaptação rabia
FanficApós um término complicado - e muito público -, a atriz Bianca Andrade volta a Nova York para assumir o papel principal numa série romântica no maior serviço de streaming do país, determinada a se concentrar apenas em seu trabalho... Até que uma mud...