o karaokê.

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Os  olhos  de  Rafaella  estavam  vermelhos,  seu  nariz  escorria,  e  ela  esperava  nunca mais  ter  que  ouvir  “Alguém  tira  essa  cobra  daqui!”  na  vida.  Para  piorar,  a diretora  tinha  amado  aquilo  e  decidido  manter  na  edição  final.

Entre  as  crianças  e  os  bichos,  o  espirro  de  Rafa  e  todos  os  atores  saindo  do personagem  e  precisando  voltar  a  se  concentrar,  a  cena  do  evento  de  caridade  no abrigo  de  animais  exigiu  mais  takes  do  que  qualquer  outra  que  eles  já  tinham filmado  até  ali.  No  final,  as  pessoas  já  estavam  falando  sobre  o  clássico  vídeo  com os  erros  de  gravação  e  a  alergia  de  Rafaella  estava  a  todo  vapor,  mas  ela  tinha  que admitir  que  estava  se  divertindo.  Então,  quando  Bianca  disse  a  ela  que  o  elenco ia  a  um  karaokê  naquela  noite,  ela  surpreendeu  a  todos  dizendo  que  iria também.

— Não sei se vou cantar  muito  bem  — avisou  Rafa,  fungando.  —  Como  você pode  perceber,  estou  tendo  uma  crise  alérgica.

Bia  entregou  a  ela  um  pacote  de  lenços  de  papel.

— Foram os gatos  ou  os  cachorros?

— Os gatos  —  confessou  ela.  —  São  fofos,  mas  eu  sou  superalérgica.  Mig… dá  para  perceber?

Andrade  fez  que  sim,  sem  perceber  o  deslize  de dela,  mas  Rafaella  congelou  por dentro.  Ela  quase  falara  o  nome  de  Miguel.  O  filho  vivia  pedindo  para  ter  um bichinho  de  estimação.  A  alergia  de  Rafa  a  gatos  e  a  aversão  de  abuelita  a cachorros  tornavam  aquilo  impossível,  mas  não  impediam  que  Miguel comentasse  como  cada  cachorro  e  cada  gato  que  ele  encontrava  eram  fofos.

Kalimann  foi  a  última  a  chegar  ao  bar  de  karaokê  em  Midtown  onde  Bianca tinha  reservado  uma  sala  particular.  Havia  três  garrafas  de  vinho  e  duas  jarras  de chope  na  mesinha  de  centro  baixa  no  meio  da  sala,  e  Miriam  estava  no  meio  de uma música  da  Selena.

Bianca  se  levantou  e  a  cutucou  no  ombro.

— Achei que você  não  vinha.

— Eu disse  que  viria.

Ela  soou  meio  seca,  mas  não  era  sua  intenção.  A  visão  de  Bia  tinha  feito sua  boca  secar.  Ela  estava  usando  como  blusa  um  pedaço  de  renda  que  deixava seus  ombros  e  colo  à  mostra  e  revelava  a  curva  atraente  de  seus  seios.  Rafa  já  a  vira em figurinos  ousados  —  Carmen  tinha  muitas  trocas  de  roupa  —,  mas  saber  que a  própria  Bianca  tinha  escolhido  aquela  roupa  fazia  diferença  para  Rafa.  Era excêntrica  e  sexy  ao  mesmo  tempo.  Assim  como  ela.

— Além  do  mais  —  continuou  ela,  tentando  abrandar  o  tom  —,  como poderia  perder  isso?

Naquele  momento,  Miriam  desceu  do  palco,  saltitando,  cantando  e  tirando os  colegas  de  Carmen  no  comando  para  dançar,  em  meio  a  gritos  e  risadas.

Kalimann  aplaudiu  quando  a  música  terminou  e,  no  silêncio  que  se  fez  antes que  a  próxima  canção  começasse,  soltou  um  tremendo  espirro.

— ¡Salud!  — disse  o  grupo  em  coro.

Rafaella  sentiu  o  rosto  esquentar,  mas  elevou  a  voz  e  disse:

você me ganhou no olá. || adaptação rabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora