1: The Devil and The Deep Blue Sea

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Nathaniel

19 de Janeiro de 1943
Aniversário de 18 anos de Nathaniel Wesninski

Há três coisas que me lembro deste dia.

A primeira coisa de que me lembro é a tempestade. O navio jogado por todos os lados conforme a tempestade agitava o mar formando ondas gigantes que poderiam engolir o navio, de fato engoliu.

Foi tudo muito rápido, as pessoas gritando desesperadas, algumas pulando do navio com medo do que poderia acontecer com elas. Meu pai gritando comigo e minha mãe apavorada com tudo.

- Nathaniel, como você pode ser tão estupido? Por que você deu o seu maldito colete para aquela mulher? - ele gritava, a raiva estampada em seus olhos, ele sempre estava com raiva.

- Não consegue ver? Ela está ferida, precisa mais do que eu! - gritei de volta com uma súbita coragem que me preencheu.

- Por Deus, Nathaniel, estamos no meio de um naufrágio. Essas pessoas não importam. Ande pegue um colete de antes que esgotem.

Minha mãe tremia, não era capaz de enfrentar meu pai, nunca foi, ele sempre descontava toda raiva e estresse em nós. O que piorou depois de ele ter me visto beijando um menino nas docas da praia.
Senti que ia explodir.

- Muito bem, - eu disse sentindo meu sangue ferver dentro de mim - se está tão "preocupado" comigo então me dê seu colete.

Ele me deu um olhar de desdém e um sorriso de escárnio.

- Você acha que me importo com um merdinha como você? - ele se aproximou de meu rosto, me encarando com a face totalmente neutra - Ah Nathaniel, não, eu não me importo nem um pouco se você morrer, apenas não quero que a vadia da sua mãe fique chorando pelos quatro cantos da casa pelo filhinho perdido.

Não lembro de ter agido, quando me dei conta meu punho doía pelo soco que atingira o rosto de meu pai. Ele se afastou e limpou o sangue do corte que se abriu em sua boca. No momento em que ele avançou para me bater, uma onda enorme bateu contra o navio o fazendo virar e nos jogar em alto mar.

A segunda coisa de que me lembro: Pessoas se afogando mesmo com colete, algumas já mortas, barulho da tempestade e das ondas.

Eu não sabia nadar, nunca aprendi, e nem acho que neste momento ajudaria. Sentia meus pulmões se enchendo das águas salgadas do mar e o sentimento de desespero invadindo todo meu corpo.

Era meu aniversário, eu estava morrendo na porra do dia do meu aniversário. Que belo presente.

Eu não sentia uma grande vontade de viver, mas naquele momento era tudo que eu queria, me agarrei ao sentimento e desejei com todas as forças que eu tinha.
Por favor, eu quero viver. Me deixe viver e eu farei qualquer coisa.

Eu não sabia a quem ou a que estava pedindo isso, mas continuei repetindo até as palavras não fazerem mais sentido. Fechei os olhos e desejei mais uma vez.
De repente senti uma calmaria, tudo ficou silencioso, eu não estava me afogando mais.

Abri os olhos e vi que estava sentado sobre as águas. Levantei a cabeça e vi 3 figuras à minha frente.

A primeira figura: Um homem asiático de cabelos negros peteados para trás e olhos castanhos intensos. Ele tinha algo que se assemelhava a uma cauda de sereia, mas não parecia ser sólido, era mais como se fosse uma corrente de água descendo de seu quadril até onde deveria estar os pés, uma corrente de água negra como seus cabelos.

A segunda figura estava à direita, tinha cabelos escuros como o céu da noite, bagunçados e lindos olhos verdes brilhantes - apesar de seu semblante cansado e até mesmo triste -, como esmeraldas. Sua cauda era verde como seus olhos, mas dependendo de como ele se movia, a luz fazia algumas partes ficarem mais claras e outras mais escuras. Havia espalhado por todo seu tronco o que parecia ser hematomas roxos, amarelos e esverdeados.

The Devil and The Deep Blue Sea (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora