4: As the World Falls Down

434 84 48
                                    

ANDREW

Todos os dias eu ia visitar Tia Bee, ela nunca mostrava sinais de melhora, mas também não mostrava piora.

Uma vez eu trouxe para ela uma concha azul que havia achado no mar, coloquei em sua mão e segurei. Os batimentos cardíacos dela aceleraram muito rápido e logo retirei a concha. Pensei que foi uma terrível ideia trazer algo do mar depois de tudo, então pensei que talvez ela estivesse acordada e passei a conversar com ela mais frequentemente.

Obviamente ela não respondia, mas eu sempre falava e torcia para que estivesse escutando. Costumávamos conversar muito antes disso.

- Então, fizemos um show noite passada para inaugurar aquele lugar da Renee e da namorada dela, eu te falei sobre, não falei? De qualquer forma, tinha bastante gente, mais do que eu esperava, e fomos fotografados - balancei a cabeça ao pensar nela arqueando as sobrancelhas como sempre fazia a ouvir algo interessante. - Sim, eu sei que não gosto muito de tirar fotos, mas quando a Renée põe algo na cabeça nem a Allison tira. Você conhece ela.

Descansei a cabeça na cama e segurei sua mão. Uma mão que sempre foi macia, quente e gentil.

Eu odiava ir ao hospital e ter que vê-la daquela forma tão pálida e ouvir os médicos dizendo que não havia nada que pudesse ser feito e que tínhamos que esperar por uma melhora. Era horrível. Eu não queria esperar, não queria perder a mulher que me criou e que sempre esteve lá pra mim. Eu não queria esperar, mas que opção tinha?

- Bee... - limpei a garganta - Tia, por quanto tempo mais você vai ficar assim? Sinto falta de conversar com você, de realmente conversar.

Fechei os olhos e suspirei. Não havia nada de errado com ela. Fizeram testes e mais testes e não mostraram nada. Era cansativo e doloroso. Cansativo esperar por uma melhora que parecia nunca vir, e doloroso não tê-la por perto, não da forma correta.

- Sr. Minyard? - a voz calma da enfermeira me despertou dos meus pensamentos. - O horário de visitas acabou, sinto muito.

Levantei a cabeça dando uma última olhada nela antes de levantar.

- Até amanhã, Tia - me inclinei para dar um beijo em sua testa. - Vou te esperar com café e torradas.

Algumas vezes era difícil lidar depois das visitas. Eu não queria encarar Nicky ou Aaron quando voltasse para casa, sempre me olhavam com pena - por eu ser mais próximo de Bee que eles -, e me enchiam de perguntas, então eu apenas dirigia para a praia em que tudo aconteceu.

Eu tinha esperança que talvez aquele homem aparecesse novamente. Mas eu o reconheceria? Nenhuma das minhas pesquisas me levou a lugar nenhum. O cara era um fantasma. No celular de Bee não tinha nada, ela apagou tudo e nem com backup consegui recuperar. Tudo o que eu tinha era aquele estúpido chapeu que ele deixou pra trás naquela noite.

Comprei um cigarro e só ascendi ao chegar na praia. Eu não fumava com frequência, mas hoje eu precisava.

Me sentei na areia, poucos metros afastado da água e descansei meus braços em meus joelhos.

Não havia pessoas lá, era uma praia afastada e pequena, poderia ser um lugar calmo e aconchegante se não fosse por aquele incidente.

Traguei o cigarro profundamente e deixei a fumaça escapar em seu próprio tempo enquanto observava as ondas.

Ouvi um clique. Me virei na direção de onde ouvira o som e vi uma figura atrás de alguns coqueiros. Não estava exatamente escondido, mas também não estava totalmente a amostra.

- Fotografar pessoas sem permissão é crime, sabia? - disse mais alto por conta do barulho do vento e das ondas.

Naquele momento eu não tinha energia o suficiente para me importar com aquilo, então voltei para meu cigarro, fechei os olhos e me deitei na areia sentindo o pôr-do-sol morno em minha pele.

The Devil and The Deep Blue Sea (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora