ANDREW
Neil parecia nervoso no caminho para o hospital, meio inquieto, a todo momento puxava o cinto de segurança. Ele também não falava nada, apenas me enviava alguns olhares e sua perna balançava devagar.
— Medo de hospitais? — Perguntei olhando para ele rapidamente, Neil agora enrolava um cachinho de seu cabelo, voltei meu olhar para a estrada.
.— Não — ele disse neutro. — Não vou a um faz muito tempo — ele parecia pensar. — Desde criança, eu acho, ou adolescente.
Franzi o cenho confuso.
— Mas você não tem uns dezoito anos? Não faz tanto tempo assim.
O balanço na perna de Neil aumentou.
— É mesmo — ele forçou um sorriso. — As vezes me sinto mais velho do que pareço ser.
Estendi a mão e coloquei perto de seu joelho. Neil ficou levemente vermelho. Comecei a dar leves batidas com os dedos.
— Código Morse para "Tudo bem"? — ele perguntou assistindo os movimentos dos meus dedos.
Sorri por ele ter entendido.
— Sim. Você sabe código Morse?
— Não muito — ele disse. — Comecei a aprender mas abandonei depois de um tempo.
— Por quê? — Percebi que manter Neil ocupado falando estava o distraindo do que quer que seja que estivesse o deixando nervoso.
Ele deu de ombros.
— Código Morse não é muito útil na comunicação. Preferi aprender outra língua — ele ainda enrolava o cacho com o dedo.
— E quais você sabe?
— Inglês, francês, alemão, espanhol e russo — o balanço na perna estava cessando e eu estava levemente impressionado por ele saber tantas línguas.
— Línguas difíceis que você escolheu aprender.
— Meus pais viajavam bastante e me levavam com eles. Tive que aprender, para me comunicar com os filhos dos outros comerciantes — Neil ficou tenso ao mencionar os pais e sua voz era meio vaga.
Quando estacionei, Neil não balançava mais a perna então retirei a mão, mas ele ainda parecia tenso no banco do passageiro. Talvez ele realmente tivesse medo de hospitais. Tanto faz, eu não precisava que ele me acompanhasse, nem sei porquê o fizera, aquela história de apoio parecia algo mais. Também não sei o porquê aceitei, eu sempre vinha sozinho ou com Aaron, parecia estranho ter ele aqui.
Vi que Neil parecia não querer sair tão cedo do carro, então apenas abri a porta e sai o deixando lá. Se ele quisesse ficar e esperar por mim tudo bem, mas eu precisava ver Bee. Na metade do caminho até a porta do hospital Neil me acompanhou, não falamos nada, só andamos até o quarto em que ela estava.
Bee parecia um pouco mais pálida do que o normal. Me aproximei dela e alisei seus cabelos, eu não fazia tanto isso, mas hoje senti vontade. Neil ficou no vão da porta observando e gesticulei com a mão para ele entrar e se sentar, ver ele em pé estava me deixando nervoso.
Dessa vez não conversei com Bee, era algo íntimo e eu não sabia se estava preparado para deixar Neil ver essa parte de mim. Ele se sentou em uma das poltronas perto da parede e continuou observando.
O médico não chegava, então decidi ir procurá-lo eu mesmo, Neil fez menção de se levantar e apenas lancei um olhar que ele entendeu e voltou a se sentar. Perguntei às enfermeiras, aparentemente ele não tinha chegado ainda para o turno, essa informação me fez suspirar exasperado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Devil and The Deep Blue Sea (completa)
RomanceDepois de Nathaniel Wesninski implorar para viver durante um náufrago, um tritão aparece prometendo que pode o salvar, mas com a condição de que ele precisa cumprir cem anos em um acordo em que Nathaniel precisa atrair humanos com um beijo para se a...