15: Nightingale

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ANDREW

Neil parecia nervoso no caminho para o hospital, meio inquieto, a todo momento puxava o cinto de segurança. Ele também não falava nada, apenas me enviava alguns olhares e sua perna balançava devagar.

— Medo de hospitais? — Perguntei olhando para ele rapidamente, Neil agora enrolava um cachinho de seu cabelo, voltei meu olhar para a estrada.

.— Não — ele disse neutro. — Não vou a um faz muito tempo — ele parecia pensar. — Desde criança, eu acho, ou adolescente.

Franzi o cenho confuso.

— Mas você não tem uns dezoito anos? Não faz tanto tempo assim.

O balanço na perna de Neil aumentou.

— É mesmo — ele forçou um sorriso. — As vezes me sinto mais velho do que pareço ser.

Estendi a mão e coloquei perto de seu joelho. Neil ficou levemente vermelho. Comecei a dar leves batidas com os dedos.

— Código Morse para "Tudo bem"? — ele perguntou assistindo os movimentos dos meus dedos.

Sorri por ele ter entendido.

— Sim. Você sabe código Morse?

— Não muito — ele disse. — Comecei a aprender mas abandonei depois de um tempo.

— Por quê? — Percebi que manter Neil ocupado falando estava o distraindo do que quer que seja que estivesse o deixando nervoso.

Ele deu de ombros.

— Código Morse não é muito útil na comunicação. Preferi aprender outra língua — ele ainda enrolava o cacho com o dedo.

— E quais você sabe?

— Inglês, francês, alemão, espanhol e russo — o balanço na perna estava cessando e eu estava levemente impressionado por ele saber tantas línguas.

— Línguas difíceis que você escolheu aprender.

— Meus pais viajavam bastante e me levavam com eles. Tive que aprender, para me comunicar com os filhos dos outros comerciantes — Neil ficou tenso ao mencionar os pais e sua voz era meio vaga.

Quando estacionei, Neil não balançava mais a perna então retirei a mão, mas ele ainda parecia tenso no banco do passageiro. Talvez ele realmente tivesse medo de hospitais. Tanto faz, eu não precisava que ele me acompanhasse, nem sei porquê o fizera, aquela história de apoio parecia algo mais. Também não sei o porquê aceitei, eu sempre vinha sozinho ou com Aaron, parecia estranho ter ele aqui.

Vi que Neil parecia não querer sair tão cedo do carro, então apenas abri a porta e sai o deixando lá. Se ele quisesse ficar e esperar por mim tudo bem, mas eu precisava ver Bee. Na metade do caminho até a porta do hospital Neil me acompanhou, não falamos nada, só andamos até o quarto em que ela estava.

Bee parecia um pouco mais pálida do que o normal. Me aproximei dela e alisei seus cabelos, eu não fazia tanto isso, mas hoje senti vontade. Neil ficou no vão da porta observando e gesticulei com a mão para ele entrar e se sentar, ver ele em pé estava me deixando nervoso.

Dessa vez não conversei com Bee, era algo íntimo e eu não sabia se estava preparado para deixar Neil ver essa parte de mim. Ele se sentou em uma das poltronas perto da parede e continuou observando.

O médico não chegava, então decidi ir procurá-lo eu mesmo, Neil fez menção de se levantar e apenas lancei um olhar que ele entendeu e voltou a se sentar. Perguntei às enfermeiras, aparentemente ele não tinha chegado ainda para o turno, essa informação me fez suspirar exasperado.

The Devil and The Deep Blue Sea (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora