25: Onde Anda Você

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ANDREW


Depois de meses enchendo Aaron sobre Bee, agora que aconteceu o mesmo comigo, ele resolve acreditar. Tentei convencer ele que era só coisa da minha cabeça, como meses antes, ele estava tentando me convencer. Não acho que ele tenha acreditado, mas também não acho que ele vá mais me incomodar com isso.

Felizmente não demoraram para me liberar do hospital, fizeram alguns testes a mais e a única coisa que mostrava era que eu estava com a glicose um pouco alta. Falaram para cortar o açúcar, mas eu claramente não faria isso.

Em casa tudo estava normal, King e Sir estavam deitados na minha cama quando cheguei. Tilda tinha comprado sorvete. "Ela ainda está aqui?" Cochichei para Aaron que me deu uma ombrada "Ela está tentando", tentei não revirar os olhos.

Passei os dias tentando entender o que tinha acontecido. Estava tudo meio confuso, mas as memórias iam voltando de pouco a pouco. Quase todas. Isso me fez pensar que talvez Bee estivesse mentindo. Eu me lembrei dos momentos ao redor da fogueira. Eu me lembrei de conversar com Neil e ele dizer que estava indo embora. Eu me lembrei de o convidar para dançar e depois o beijar. Mas não lembrava o que aconteceu depois disso, como me afoguei — disseram que me afoguei e Neil me salvou —. Lembro apenas de acordar no hospital e Betsy chorar ao meu lado.

Tinha algo errado, algo muito errado. Eu só precisava saber o que. Talvez Neil pudesse me ajudar com isso. Ele não mentia para mim. Não me contava tudo, mas pelo menos não mentia. Eu precisava falar com ele, mas ele parecia estar me evitando (que surpresa).

Depois de algumas horas, quando acordei no hospital, mandei uma mensagem para ele, que respondeu apenas com três emojis sorrindo. Neil raramente usava emojis, quase nunca. Ele também não tinha vindo me visitar e já tinham se passado quase três semanas. Isso me lembrou do presente dele que eu vinha ignorando em cima da minha cabeceira junto com a concha que ele me deu no dia seguinte em que nos conhecemos.

— Você está fumando muito esses dias, querido — Bee parou ao meu lado na varanda de casa. — Tem algo te estressando?

Como eu poderia dizer que ela me estressava por esconder a verdade? Que Aaron me estressava por ficar em cima de toda hora para me checar e que de longe eu conseguia ver que ele ainda queria falar sobre o incidente? Que Tilda me estressava tentando ser a mãe que ela nunca foi. E que, acima disso tudo isso, Neil me estressava por simplesmente me ignorar depois de tudo. Mas posso dizer que eu sabia que eles estavam cientes desse último pois não tocavam mais no nome dele tão frequentemente.

— Parece que nada faz sentido — eu disse, deixando a fumaça escapar da minha boca. — Vocês não fazem sentido.

— Como não fazemos sentido? — Bee perguntou naquele tom de voz calmo e preocupado dela.

— Como? — Perguntei com uma risada suspirada. — Eu era o obcecado que queria saber o que tinha acontecido com você e Aaron me mandava esquecer — traguei o cigarro, estava quase acabando. — Agora ele é o obcecado e eu tenho que mandar ele esquecer.

Betsy não disse nada, apenas olhou para frente.

— E tem você, Bee — eu disse rindo, pois me sentia ridículo e confuso. — Como posso me lembrar de tudo e você de nada? Nossa situação é praticamente a mesma. Merda — cuspi as palavras enquanto minha risada sumia —, talvez seja até o mesmo cara!

Bee arregalou os olhos de uma forma que nunca a vi fazer, como se esse fosse o pior absurdo que ela já ouviu em toda sua vida.

Não — ela disse, urgentemente. — Não, Andrew, isso não é possível.

The Devil and The Deep Blue Sea (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora