27: Something in the Air

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KEVIN

Riko manteve Neil estupidamente perto de nós esse tempo todo. Era como se ele estivesse rindo da nossa cara. Era absurdamente perto, praticamente a algumas cidades de distância e eu tinha ido até em outros países atrás dele. Riko estava definitivamente rindo da nossa cara.

Demorei cerca de um mês e meio para achá-lo e apenas o encontrei porque Riko me levou até onde ele estava. Foi em uma tarde quando eu estava nadando perto de algumas praias no Brasil, Riko apareceu logo atrás nadando comigo como se tudo estivesse normal.

— Kev, querido — disse Riko com seu tom prepotente de sempre. — Veio procurar outro tipo de oferenda para mim? Tão atencioso da sua parte.

— Onde está Neil? — Perguntei sério, não queria saber das brincadeiras dele.

— Que bom que perguntou! — Riko se animou como uma criança ganhando um presente. — Preciso de alguém para ficar de olho nele por mais alguns dias e você, Kevin, é perfeito para isso.

Cerrei meus olhos para ele.

— O que você fez com ele?

Riko deu uma risadinha.

— Nada que eu já não tenha feito com vocês.

No momento eu não entendia o porquê ele estava fazendo isso — me levando até Neil —, só fui entender mais tarde.

Senti o corpo tremer pois sabia que aquilo não era bom. Riko mandou que o seguisse e nadamos de volta para os Estados Unidos. Neil estava em uma cabaninha abandonada na praia, deitado em uma cama velha e suja e com alguns hematomas e cortes espalhados pelo corpo. Ele também estava desmaiado e coberto por tremores que adivinhei ser fruto dos pesadelos em que Riko o colocou. Me agachei ao seu lado com medo de o tocar e subitamente ele desmanchar em minhas mãos. Seu rosto estava brilhando com o suor que escorria. Com cuidado aproximei minha mão afastando os cabelos pregados de seu rosto, Neil deu uma leve tremida com o toque.

Meu coração ao mesmo tempo que estava apertado em meu peito também estava querendo pular para fora. Minha garganta estava tão apertada que pensei que se eu abrisse a boca para tentar falar provavelmente eu choraria. Por que ele estava fazendo isso com Neil? Ele não faz nada para merecer isso. Era apenas Riko sendo a porra de um maníaco obcecado.

Talvez eu pudesse tirar Neil daqui e fugir para bem longe com ele. Jean poderia nos encontrar depois e se Riko nos encontrasse também, bom, fugiríamos de novo. Poderíamos fazer isso, não poderíamos?

Olhei para Neil deitado na cama completamente desacordado e ferido e depois para Riko parado na porta. Como eu faria isso se ele continuasse de vigia o tempo todo? Olhei em volta e as janelas estavam todas tampadas, provavelmente para que quem passasse por perto não visse o interior. Voltei a olhar Neil, quanto tempo será que ele estava assim? Ele não parecia estar mais magro, apenas machucado e torturado.

— Não pense que você conseguiria fugir com ele, Kevin — disse Riko. — Mesmo que eu não esteja aqui, tenho alguém para vigiar o local.

Respirei fundo engolindo tudo o que eu estava sentindo para poder respondê-lo com uma voz firme. Não deixaria que ele me visse mal.

— Jura? Um vigia para alguém que você deixou debilitado — soltei uma risada cansada. — Uau — depois um pouco mais alto. — Uau! Você é ainda mais cínico do que eu pensava.

Riko não expressou nenhuma emoção, apenas se aproximou vagarosamente e chutou meu rosto me fazendo cair para trás em uma dor queimante. Meu rosto latejava onde tinha sido atingido na bochecha. Riko se abaixou e me segurou pela gola me levantando junto a ele e me socou pelo menos três vezes, senti o sangue escorrer do meu nariz até minha boca, pude sentir que ela estava cortada. Riko me segurou firmemente pelos dois ombros e me deu consecutivas joelhadas na barriga me fazendo perder o ar por completo.

The Devil and The Deep Blue Sea (completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora