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Havia duas coisas que Luca nunca havia parado para pensar.
A primeira delas era como Alberto beijava bem. Muito bem. Bem o suficiente para até Luca, que não tinha muitas experiências em seu repertório, ter certeza disso.
A última e única vez que Luca tinha beijado alguém fora de Porto Rosso tinha sido um selinho em uma garota quando ele e Giulia foram em uma festa de quinze anos. A ponta de uma garrafa no meio de uma roda apontou para ele enquanto a outra apontou para ela. E a curiosidade o venceu naquela vez. Ele queria descobrir como era. Mas a sensação na época pareceu tão errada e estranha, tão diferente dos filmes que ele tinha assistido, que Luca tinha até pensado que ele jamais gostaria daquilo.
Mas Alberto tinha destruído aquela ideia de anos em segundos. Havia algo especial no jeito que ele tocava sua cintura com uma mão e acariciava seu cabelo com a outra. No jeito que seus olhos sempre brilhavam de felicidade e desejo quando os dois se afastavam brevemente para se encarar. Na maneira como beijá-lo era, ao mesmo tempo, suficiente e insaciável.
E ai que havia a segunda coisa que Luca nunca tinha pensado: como era desconfortável beijar alguém quando se estava encostado em uma estante.
Giulia havia mandado eles recolherem alguns livros sobre lendas maritímas e artefatos antigos enquanto ela organizava um plano de estudos eficiente para aquele dia. Mas Alberto e Luca tinham se distraído no momento que eles se deram conta que estavam sozinhos no último corredor, aquele que quase ninguém passaria. Alberto tinha feito Luca encostar numa das prateleiras enquanto ele o beijava ambiciosamente. E só tinha se afastado agora porque ambos estavam levemente sem ar.
Luca viu Alberto tirar uma mexa de seu cabelo encaracolado na frente de seu rosto e abrir um sorriso, logo em seguida.
— Oi. - ele disse.
— Oi. - Luca retribuiu com um sorriso. E lhe doeu um pouco dizer: — A gente deveria voltar antes que a Giulia nos mate.
Alberto riu.
— Mas a gente não pegou nenhum livro ainda. - ele brincou.
— Isso é porque você está me distraindo. - Luca rebateu ainda em um tom divertido.
O sorriso de Alberto aumentou e ele se aproximou de Luca, dizendo com a voz baixa.
— Algo me diz que você quer ser distraído por mim.
Luca instintivamente engoliu seco e olhou sua boca. Ele percebeu que não sabia como responder aquilo. Mas Alberto se afastou e puxou um livro de uma estante.
— Além disso, eu estou te ajudando. Como pode ver temos aqui... - ele leu o título do livro. — "101 Jeitos de Cozinhar para Uma Pessoa Depois de um Divórcio."
Alberto fez uma careta e Luca riu.
— Isso é assustadoramente específico. - ele disse colocando o livro de volta na prateleira.
Luca se aproximou do rapaz e segurou sua mão.
— Vem. Acho que vi uma seção de Geologia aqui perto.
Alberto sorriu por um momento antes de olhar para baixo sem graça.
— Eu acho que preciso ir agora. Prometi para Cecília que ia levá-la até a estação.
Luca sentiu o coração afundar e tentou com muito esforço não demonstrar que estava chateado. Ele tinha andado tão feliz nas últimas horas que se esqueceu até aquele momento da promessa misteriosa entre Alberto e garota. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa sobre isso, Alberto apertou sua mão de leve e colocou a outra mão em sua bochecha, fazendo o rapaz encará-lo.
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Aquilo Que o Tempo Deixou
FantasyDeterminado a se dedicar aos seus estudos, Luca Paguro passou quatro anos de sua vida longe de Porto Rosso e, consequentemente, longe de Alberto. Diante do estresse em viver em uma boa universidade e manter suas notas altas, uma reação inesperada a...