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Quanto mais se aproximavam de seu destino, mais Luca podia sentir o cheiro do mar trazido pela brisa. Era quase final da tarde e o céu estava tingido com as cores mais bonitas de vermelho, laranja e amarelo.
Luca lembrou de Alberto, quando eles eram crianças, explicando aquela teoria absurda de que o céu era formado por anchovas e de que o Sol era um peixe gigante que nadava por ai. Aquela lembrança fez Luca sorrir. As vezes, ele gostava de imaginar que fosse verdade aquela explicação. Não faria o menor sentido, mas ele estava cansado de ter que entender tudo.
Luca deu mais uma olhada no céu e suspirou.
Fazia quanto tempo que ele não admirava o pôr-do-Sol? E quanto tempo que ele não visitava Porto Rosso? Três? Não, provavelmente já tinham se passado quatro anos. Desde que sua avó morreu e ele e Alberto brigaram.
A ideia de Alberto o odiar deixava Luca ansioso e com o coração partido. Ele não queria que isso acontecesse. As palavras ditas naquele dia ainda ressoavam em sua mente como um martelo insistente.
"Então vá embora daqui, Luca!" a voz raivosa de Alberto o arrepiou.
Não. Ele precisava ter coragem. Ele se desculparia com Alberto e veria seus pais. Talvez aquilo o tranquilizasse quando voltasse para a universidade.
Giulia emitiu um ruído ao seu lado e Luca percebeu que ela estava acordando de um longo e merecido cochilo. Ela estava trabalhando duro em seu emprego numa cafeteria enquanto paralelamente tentava terminar uma coleção de quadros até o final do ano para tentar expó-los numa galeria. Nenhum dos dois tinham parado para relaxar então - quando Giulia lhe mostrou a passagem de trem - houve quase um entendimento instantâneo de que eles precisavam ir para a cidade de sua infância.
— Por quanto tempo eu apaguei? - perguntou a garota se espreguiçando. — Não perdemos o ponto ainda não, né?
Luca riu.
— Não. Ainda vamos levar mais uns minutos. Pode voltar a dormir se quiser.
— Não, tudo bem. Já estou acordada agora.
Giulia deu um longo bocejo e Luca se perguntou se ela estava mesmo acordada. Quando ela o encarou de volta, ela segurou sua mão preocupada.
— Você está melhor?
— Sim, estou. - Luca mentiu, querendo tranquilizá-la.
— Sua transformação ainda não...
— Não. - ele falou não conseguindo esconder sua frustação desta vez. — Eu não sei o que vou fazer se nunca mais...
— Você falou com seus pais? Com o Alber...
— Não. - Luca a cortou. — Eu não quero preocupá-los, Giulia.
— Mas você tem que contar, Luca. Eles podem ajudar.
Luca ficou em silêncio, envergonhado. Como se ele pudesse desaparecer daquele jeito por tanto tempo e voltar só quando estava numa situação daquelas. O que eles pensariam dele? Sua mãe ficaria doida de preocupação e seu pai talvez se sentiria perdido no que fazer. E Alberto... Como Alberto reagiria?
— Eu vou contar, Giulia. - Luca falou por fim. — Só... não sei... vou tentar encontrar um momento certo para isso, está bem?
Giulia assentiu. As últimas luzes do céu refletiam em seu rosto amigável e seu cabelo longo e vermelho se agitava suavemente com o vento. Uma luz branca e intensa então iluminou o vagão, fazendo com que os dois ficassem cegos por um momento. Com as mãos entre os olhos, Luca tentou distinguir de onde aquela luminosidade vinha.
— Aquilo é...
Um formato distante de uma torre se formava no meio do mar.
— Um farol! - exclamou Giulia animada. — Eles construíram um farol na ilha, Luca!
Naquele trem acima da colina, Luca viu, à distância, sua cidade se projetar a medida que se aproximavam. E na ilha onde ele tinha conhecido Alberto pela primeira vez, um brilhante farol branco e vermelho iluminava o mar de seu passado.
Lá estava sua casa.
Porto Rosso.
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Aquilo Que o Tempo Deixou
FantasiDeterminado a se dedicar aos seus estudos, Luca Paguro passou quatro anos de sua vida longe de Porto Rosso e, consequentemente, longe de Alberto. Diante do estresse em viver em uma boa universidade e manter suas notas altas, uma reação inesperada a...