AMOR & PERDIÇÃO

Cap.14

Já faz alguns dias que estou tentando arrumar um emprego, mesmo que seja temporário pois não vou ir para a faculdade esse ano, as coisas estão meio confusas, minha mãe não gostou muito por eu não estar na Universidade de NY nesse exato momento cursando algo em que provavelmente eu iria me arrepender.

Alguma coisa de respeito, tipo medicina ou direito, a questão é que eu nunca fui uma garota que sempre soube o que quis, e isso sempre acabou me atrapalhando de alguma forma.

Então eu fazia tudo, todas as escolhas fácies ou difíceis, eu escolhia tudo.

Não saberia dizer o que é o melhor para mim, qual das decisões eram as certas ou das quais eu iria tirar proveito. Eu não sabia mas mesmo assim, eu fazia tudo.

E agora com os meus belos 18 anos, eu não saberia dizer qual era a minha vocação, aquilo da qual eu nascera para viver.

Essas semanas em que eu tirei para descansar, aproveitar os dias com os meus amigos sem preocupação estão sendo boas, mas por algum motivo estão sendo sufocantes.

Não consigo ficar parada por muito tempo, sem ter o que fazer, esperando por um sinal dos meus melhores amigos para preencher meu dia.

— Gostaria de ajuda? - Olhei em direção da pequena senhora parada em minha frente forçando um sorriso, o barulho dos sapatos de couro velho batendo contra o chão de madeira da pequena loja de conveniência.

— Sim, por favor... eu queria deixar o meu currículo aqui... - Estava desde cedo entregando alguns papéis em algumas lojas mas fui interrompida abruptamente.

— Não, não estamos aceitando ninguém! Você viu alguma placa lá fora avisando que queríamos contratar? - Ela não estava mais forçando o sorriso, agora estava com uma carranca natural em sua face com algumas rugas.

— Não mas... - Respirei fundo, fechando os olhos quando ela me interrompeu novamente.

— Então saia daqui, sua rebelde. - Sem pensar duas vezes, segurei o último papel com as minhas informações contra a minha barriga e sai, escutando o sininho da porta avisando que alguém tinha passado por ela.

O ar quente da rua bateu contra meu rosto, respirando fundo de novo fiz meu caminho para sentar no banco de ferro que havia a poucos metros há minha frente.

O ferro quente contra minhas coxas expostas fez com que eu praguejasse  e me levantasse no mesmo momento passando as mãos contra elas para buscar algum alívio.

Meu celular vibra dentro do bolso do short, pego o aparelho e vejo que há uma notificação da Betty, dizendo para lhe encontrar na sorveteria algumas quadras daqui.

Guardo o celular no bolso de trás e faço o meu caminho pelas ruas secas.

Quando entro na sorveteria meu celular vibra novamente, pego ele e vejo que é a Nina perguntando se eu queria sair com ela esse final de semana, sem eu perceber, o canto da minha boca se ergueu em um sorriso, respondi que eu pensaria e daria uma resposta no final do dia.

Procurei eles e não foi difícil achar, sentados em uma mesa perto da janela de vidro, Noah e Bruno.

Fiz meu caminho em direção a eles, sentei na ponta da mesa e só então eles levantaram o olhar para mim dando um pequeno aceno com a cabeça.

— Cade a Betty? - Perguntei enquanto colocava o papel em cima da mesa e descansando meus braços na cadeira.

— Foi no banheiro. - Noah respondeu enquanto tentava olhar o que estava escrito nos papéis que estavam comigo, revirei os olhos enquanto tentava segurar a minha risada, lhe entregando os papéis.

— Sabia que curiosidade mata? - Perguntei fingindo estar brava, mas não aguentei por muito tempo quando ele me mostrou a língua, passando os olhos em cada linha daquele papel escrito.

— Então era para mim estar morto e enterrado. - Disse com a voz baixa prestando atenção no que estava lendo.

Noah é um cara legal, Betty tem sorte de ter se envolvido com alguém bom nesses últimos tempos, estou sorrindo pelas caretas que ele faz enquanto lê, não é como se fosse um livro, não tem muita coisa ali, só informações básicas e coisas do tipo.

Suspiro alto quando sinto um par de olhos me encarando na cadeira do lado, não qualquer par de olhos, mas sim um par de olhos azuis na qual estava me intrigando muito nesses últimos dias.

Tento evitar olhar para aquela imensidão azul que te puxa pro mais obscuro dos pensamentos a qualquer custo, mas sou falha, e nesse mísero segundo a qual deslizei o meu olhar para o seu, não consegui sair, não consegui quebrar o contato, por mais que eu quisesse, por mais que eu tentasse, não pude.

Notei quando ele juntou sua sobrancelha e engoliu em seco, mas nunca quebrando o contato visual.

— Então você está procurando um emprego? - Balancei a cabeça voltando a minha atual situação, e olhei para meu amigo que não pareceu notar nada, ainda olhando para os papéis em sua frente e suspirei aliviada.

— Sim, já entreguei em alguns lugares mas duvido que vão me chamar, não tenho experiência em nada. - Digo. Noah parece estar pensando em alguma coisa e fala:

— Bom, eu conheço um lugar que não precisa de muita experiência. - Disse, e deu uma rápida olhada na direção de Bruno.

— Sério? Onde? - Pergunto um pouco mais animada agora, aceito qualquer coisa a esse ponto.

Ele demora um pouco a me responder, seu olhar ia em direção a mim e voltava sua atenção a seu irmão.
Bruno estava um pouco nervoso olhando diretamente para Noah nos olhos, com um pouco de irritação? Talvez?

Me remexo desconfortável na cadeira esperando que ele fale logo qual lugar ele tinha em mente, para quebrar a tensão que formou naquele lugar rápido.

— Lembra da boate que fomos esses dias? - Ele pergunta, agora sua atenção está totalmente em mim.

— Claro, não tem como esquecer aquele lugar. - Ergo uma das sobrancelhas, interessada no que ele tem para falar.

— Posso te conseguir uma vaga para ser bartender. - Ele fala e logo sorrio em sua direção.

— Como? - Pergunto um pouco confusa mas claro que não iria reclamar.

—  Não se preocupe com isso, te mando os detalhes depois.

— Muito obrigada mesmo, quebrou um baita galho para mim. - Digo e logo o sorriso surge em meu rosto de novo.

Escuto um suspiro irritado, agora eu tenho certeza, Bruno está com a mandíbula trincada e com os seus punhos cerrados, acho que não tirou o olhar de seu irmão por um segundo, e quando ele ia abrir a boca para falar, Betty chega na mesa, me dando um abraço e se sentando ao lado de Noah.