UM

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Eu não estava procurando por nada.

      Não estava esperando por nada, estava apenas com a cabeça tão enevoada daquela quinta-feira. Que a princípio parecia ser uma sexta-feira qualquer, em uma semana qualquer, em um mês que estava mais cansativo que todos os anteriores, eu só desejava me trancar no estúdio e ficar no meu espaço.

      Mas uma mensagem me lembrou de um compromisso, ou uma promessa se preferir. Eu havia prometido ir em uma exposição de um amigo, eu havia me esquecido completamente, estava com a mente tão cheia de afazeres, o novo álbum... As composições que eu não conseguia terminar, entrevistas, shows, sessões de fotos, gravar materiais para os fãs...
Era uma dia de estresse, e quando sai da HYBE naquela sexta-feira qualquer, indo apreciar a arte de uma amigo de anos em uma exposição, pensei que seria uma coisa mais que ótima ter aquela exposição aquele dia. Arte sempre me relaxou e me ajudou a organizar os pensamentos e sentimentos, seria bom afinal.

       Mas além disso... Eu não estava esperando nada daquele dia.
       Eu sempre ouvi sobre isso, ouvia de amigos que coisas incríveis acontecem quando você menos espera. Ouvia até da minha mãe, mas acreditar em coisas incríveis em dias ruins é algo difícil.
     Mas quando eu a conheci, percebi que era verdade.
     E passei a agradecer, por ter saído e cumprido mais um compromisso daquela sextaa-feira terrível e estressante.
Por que hoje eu não consigo imaginar minha vida sem ela.
Só preciso dizer isso a ela.

     Naquela sexta-feira, de modo inesperado eu a conheci. Foi até um pouco curioso. Talvez o destino realmente exista. Por que de todas as pessoas do mundo que poderiam estar dentro da terceira sala da ala sul da exposição, era S/N que estava lá. A exposição era bastante seleta para uma inauguração, só haviam poucas pessoas que foram convidadas a dedo. E a maioria delas se aglomeraram no salão principal e eu resolvi apreciar as outras telas. Quando cheguei na terceira sala a princípio não vi ninguém, pensei que estava vazia e comecei a observar as telas calmamente, mas não demorou muito para eu notar uma figura feminina no lado oposto da sala.

      Ela estava parada em frente a uma das pinturas. A olhando com afinco, atenta a cada detalhe.
Me lembro de ter chegado perto da tela também. Porém quando me aproximei parando ao seu lado, mas não tão perto, percebi que ela estava chorando. 

     Ela notando a presença de um estranho, naquela época ainda éramos, disfarçou e secou os olhos discretamente me olhando de relance, e depois me cumprimentou com a cabeça.
Eu fiz o mesmo com um pequeno sorriso e depois retornei os olhos para a tela, não querendo ser indelicado. Lembro de ter notado apenas seus olhos ocidentais, pois ambos usávamos marcaras.

-É... Intenso. -Eu disse me direcionando a tela rompendo o silêncio da sala.

-É, é sim. -Ela respondeu e fungou um pouco e logo se desculpou. -Me desculpe eu... E-Essa tela é muito importante pra mim, estou feliz dele ainda expor ela.

Eu me virei para ela, notando seu sotaque forte, só não sabia identificar de onde era.

-Não se desculpe por favor, sentimentos precisam de lágrimas as vezes. -Aquilo fez ela sorrir pequeno, percebi quando seus olhos castanhos e grandes se flexionaram denunciando o sorriso.

-Tem razão, os sentimentos precisam. -Respondeu retornando a visão para a pintura a nossa frente. -Qual seu nome? -Perguntou olhando para a tela, não para mim.

-Namjoon, e o seu?

-S/N. -Respondeu direta.

      Contudo ela se virou para mim um segundo depois parecendo surpresa. Deu um passo para trás. E seus olhos fitaram os meus por segundos longos. Foi naquele momento que ela me reconheceu, talvez por estar tão constrangida pelo choro flagrado não havia notado antes. Bem, talvez não fosse apenas isso, eu estava de máscara, boné  e capuz isso ajudava a me esconder.
Contudo quando ela me reconheceu sua reação realmente me surpreendeu, ela disse:

-Namjoon? Ah meu Deus... Hum... Olha, eu sou uma grande fã, obrigada por tudo que você e os meninos são e fazem e vou... É melhor eu sair, vou para a outra ala, tenha um bom tempo, uma boa exposição. -Ela já foi falando, se curvando em comprimento, umas três vezes,  e andando para longe, quando eu fui interferir e tentar dizer que ela não estava me atrapalhando, meu amigo, o artista da exposição com mais 2 colegas se aproximaram de mim e tudo aconteceu tão rápido... A vi passando pela lateral da sala a passos apressados e depois não a vi mais.

       Me lembro de ter procurado a jaqueta jeans que ela usava e a saia azul marinho entre as pessoas depois que sai daquela sala, meus olhos tentavam encontrar ela, mas em vão.
A maneira como ela falou, ficou na minha cabeça. Ela foi a primeira fã que eu encontrei por acaso que teve aquela atitude, de "tentar respeitar meu espaço", não que ela estivesse me incomodando ou fosse um incômodo autografar e tirar selfies quando se encontra um fã, só que... Aquilo me fez pensar.

   Ela era uma fã, que estava chorando ao ver uma pintura, sozinha em uma sala e eu nem pude lhe dizer mais que algumas palavras. Aquilo ficou na minha cabeça, ela ficou.

2 Much · With Kim NamjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora