4 🌌 [Reescrito]

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— Nada não, tia.

— Como está sendo o trabalho para a Coroa? Você está acabado! Nem parece aquele garoto entusiasmado que saiu daqui há 8 anos.

— Está cansativo, irritante e desgastante! Eu estou exausto, tia!

— Então, deixe tudo para trás e volte para casa!

Kendra, desde o momento em que colocou os olhos no menor, sabia que ele não iria aguentar por muito tempo nessa busca inútil. A vingança consome a alma. Ela sabia muito bem disso.

— Eu não posso! Não ainda. Eu prometi a mim mesmo: só mais um ano. Se eu não encontrar Song Mingi durante esse tempo, pedirei baixa da Coroa Inglessa e voltarei. Eu prometo!

— Você sabe que isso não trará seus pais de volta, não sabe? — ele concordou com a cabeça, — sei que quer fazer justiça com as próprias mãos, mas a linha é tênue entre a justiça e a vingança. Não deixe que esse sentimento se apodere do seu bom coração.

"Tarde demais", pensou Yunho.

— Eu tentarei evitar que isso aconteça. Tia, preciso de supressores! Ainda faltam seis meses para meus dias de folga e hoje tomei o último comprimido. Preciso de seus dons medicinais.

— Yunho, não é saudável o que você tem feito durante esses anos.

— Eu sei, mas será o meu último ano fingindo ser um beta. Eu preciso disso e confio apenas na senhora.

— Tudo bem. — "Talvez não devesse confiar tanto em mim, garotinho".

A beta saiu da cozinha em direção ao sótão, onde antigamente era o quarto de Yunho, mas agora era seu laboratório. O lugar onde preparava suas poções e medicamentos. O homem a seguiu em silêncio, pensando, novamente, em seus próprios problemas.

Ela procurou entre os vidros guardados na estante o remédio ideal para Yunho. Sempre mantinha alguns de reserva, pois os supressores comuns não funcionavam para o ômega. Abriu o frasco, percebendo que a quantidade existente não seria suficiente para seis meses.

— Yunho, você pode aguardar enquanto eu preparo mais?

— Claro que sim! Tia, posso tomar um banho? A água no navio estava sendo racionada apenas para beber. Estou imundo!

— Fique à vontade! Essa casa também é sua. Há roupas suas no baú, que está próximo ao sofá da sala.

— Obrigado.

Yunho soltou um suspiro de alívio. Todos os seus poros gritavam por um banho quentinho de chuveiro. Buscou algumas roupas no baú. Mesmo que as suas não estivessem tão sujas, ele estava. Então, seria aconchegante colocar peças com cheirinho de "casa".

Tirou suas vestes e logo ligou o chuveiro, deixando que as lágrimas levassem embora todas as suas frustrações. As coisas estavam cada dia mais difíceis.

Seu ômega estava começando a definhar sem o seu alfa. Estava sucumbindo. Talvez, devesse pedir a baixa assim que retornasse. 17 anos longe do seu alfa. Ele não estava mais aguentando. Foi mais forte do que Yunho imaginou que seria.

Nunca imaginou que teria que ir procurá-lo, mas todos os seus átomos clamavam por aquele garotinho de cabelos cor de fogo, que se transformava em um lobinho preto. Agora, provavelmente, o lobo dele triplicou de tamanho. Não sabia nem por onde começar a busca. Esteve sempre tão focado em encontrar o Wonderland, que nem imaginou que estava condenando seu ômega a solidão.

A água quente e o vapor relaxaram todos os músculos de Yunho, os quais ele nem sentia que estavam tensionados. Aproveitou esse tempo sozinho, sem obrigações, para tentar organizar seus pensamentos.

Tinha tomado outra decisão, ainda mais radical que a anterior: voltaria à Inglaterra apenas para pedir a baixa da Coroa. Recolheria seus pertences e se mudaria para Port Royal.

"Você pode fazer isso através de cartas! Não é necessária sua presença no escritório da Coroa."

Parecia que, finalmente, Yunho e seu lobo estavam fazendo a sua própria conexão. Mas não deixava de ser desconcertante ter duas vozes diferentes discutindo dentro de sua cabeça.

"Preciso das minhas coisas, que ficaram no armário do alojamento."

"Você não precisa! Você precisa mesmo é do nosso alfa e se manter seguro!"

"Eram objetos dos meus pais, e se você não se recorda, eles foram assassinados! São as únicas lembranças materiais que restaram!"

"Que seja, mas depois não diga que eu não te avisei!"

"O que você sabe?"

"Eu apenas sinto que a viagem de volta será um divisor de águas em nossa vida, porém, não será para o nosso bem. Será traumático!"

"Tenho alguns dias para decidir sobre isso."

"Você já decidiu!"

O lobo tinha razão. Yunho já estava decidido a retornar para Inglaterra e resolver suas pendências no solo inglês. Era um ômega forte, conseguiria suportar as adversidades que viriam. Ou, assim esperava.

Após o banho demorado, Yunho vestiu as roupas do baú

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Após o banho demorado, Yunho vestiu as roupas do baú. Provavelmente, havia deixado em uma das suas visitas à tia. Agradeceu-se mentalmente por isso.

Logo que abriu a porta do banheiro, captou o cheiro de comida cozinhando e sua barriga roncou. Não lembrava qual tinha sido a sua última refeição não racionada ou quando foi a última vez que comeu carne, pois era o primeiro item que acabava em viagens marítimas.

Foi até a cozinha, encontrando a panela de sopa de frango no fogão. Sua tia não estava no cômodo, provavelmente, terminando seus supressores. Sentou-se à mesa e ficou olhando o céu, pela janela grande de madeira.

A noite em Port Royal era diferente. Para Yunho, parecia ser mais estrelada e brilhante do que em outros lugares. Mas ele sabia que não era. O brilho diferenciado estava em seu olhar. Aquele lugar era seu lar. O lugar onde havia nascido, aprendido a falar e a andar. O lugar onde conheceu o amor, mas também o lugar onde o perdeu.

Ouviu as escadas rangerem e logo sentiu o perfume doce enjoativo de Kendra chegar até seu nariz, novamente. Controlou-se para não fazer uma careta. Não ofenderia sua "família" mais próxima. Ela foi até a panela, verificar se a comida estava pronta.

— Imaginei que estaria com fome e cozinhei uma sopa para você. É uma comida leve para jantar, mas muito nutritiva e você está precisando repor vitaminas e nutrientes. Está muito abatido.

— Obrigado tia. Não sei como te agradecer por fazer isso por mim, pois sei que moedas de ouro, a senhora não aceita.

— Você sabe como pode me agradecer: permaneça na ilha!

— Eu voltarei antes mesmo que a senhora sinta a minha falta!

— Minha criança, eu começo a sentir a sua falta assim que você cruza a porta da sala!

Os dois caíram na risada e Kendra serviu um prato de sopa para Yunho. Ele precisava estar forte para aguentar as reviravoltas da vida, pois Kendra havia prometido a si mesma que iria contar toda a verdade na próxima vez que visse o garoto. E não seria nada fácil para ele ouvir que não foi Song Felix que assassinou seus pais. 



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