[p.o.v Harry]
Eu tinha 6 anos quando Gemma leu um poema para mim do Fernando Pessoa. Mesmo antes de qualquer veia artística ser formada em meu corpo eu decorei cada sílaba daquele poema.
"... Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!..."Aos 9 anos descobri no colégio que na verdade não havia sido Fernando Pessoa que escreveu aquelas palavras, na realidade havia sido Álvaro de Campos.
Aos 10, ainda na aula de literatura, descobri que na verdade Fernando Pessoa tinha sim escrito aquele poema, porém por sentir necessidade de se expressar em diversas formas, com sentimentos e versões diferentes ele precisaria de mais uma pessoa para ser.
Assim Fernando Pessoa criou algumas personas e fez sucesso com elas.
Foi só aos 13 que entendi o que queria fazer pelo resto da minha vida. Ser ator, trabalhar com arte e me expressar através de várias personas.
E, foi somente aos 18, mais especificamente hoje enquanto estou deitado na cama de Louis, que entendi que sou o Harry Styles para alguns, Harry para outros, Styles para muitos e o H para poucos.
O que antes eu queria expressar somente nos palcos, agora entendia que todos me enxergavam como mais de uma persona. Mas, o que eu nunca pude imaginar é que uma única pessoa pudesse ter/conhecer eu e todas as minhas personas, de uma só vez.
Quando me vi sozinho, eu e somente eu, deitado naquela cama, onde antes dividi com Louis e estava com nossas mãos juntas, entendi que aquele cara me tinha de todas as formas.
Era Louis.
Louis me tinha de maneiras e vertentes que nem eu mesmo sabia que me escondia.
Durante 5 minutos, depois que Louis saiu de vez do quarto, consegui ouvir minha mente lendo e relendo esse poema. Consegui sentir cada milímetro do meu corpo se arrepiando. Consegui perceber o que aquela arte fez comigo. Mas, sobretudo, consegui identificar como Fernando Pessoa me influenciou.
Quanto mais li a sua obra, mas entendi que nem todos teriam todos nossos lados e inconscientemente criei essas personas que não eram completamente acessadas por aqueles que me rodeavam.
Será que Fernando Pessoa também se sentia assim? Será que ele também sentiu que alguém o entendia em todas as personas? Será que existiam mais pessoas assim?
A verdade é que eu nunca iria saber de nada disso e provavelmente pensar tudo isso na cama de Louis, com suas roupas no meu corpo, com seu cheiro nos meus cabelos e aspirando todo o perfume do edredom não estava colaborando em nada.
Então só tinha uma coisa a se fazer, antes que eu enlouquecesse de vez.
Sem olhar para trás, levantei e dali fugi.
No segundo corredor, antes da porta de saída, dei de cara com Charlotte. Meus olhos se arregalaram e consegui ver no rosto da menina o quanto ela estava confusa comigo. Quem não estaria, não é mesmo?
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COLD. (l.s)
Romansa"Quando a única forma de amor que você conhece é do afeto que possui um código de barras, percorrer a vida com carinho pode ser duro." O amor que surgiu no peito de Louis em fevereiro de 2017 não era comum, nem racional ou até mesmo esperado. Depar...