5- Sangue nas mãos, desejo nos olhos

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Quando mais nova, bem pirralha mesmo, tinha uma fascinação enorme por filmes de terror ou ação. Com muito sangue envolvido. Mamãe dizia que era um show de horror, papai dizia que não era coisa de uma menina ver. Não era coisa de menina? E ver revistas pornográficas era coisa de homem? Assistir pornografia na ausência de mulher "amada" era coisa de homem? Ou coisa de um covarde que não assume suas impurezas, suas ações jogadas para debaixo dos panos?

Muitas vezes, peguei mamãe se apropriando da fala do patriarca; dizendo-me com nojo na voz que, ver filmes com temáticas pesadas, não era coisa de menina. Me julgavam sensível. Em minha ânsia por respostas, chegava a questionar se era coisa de mulher adulta ver, ela dizia que algumas gostavam. Observar os "mocinhos" das novelas, do bairro, da cafeteria central, é coisa de mulher então? Isso que honra a feminilidade?

Colocar um vestido solto que não marque as curvas voluptuosas; um salto não muito alto; uma maquiagem leve no rosto, mas um batom vermelho nos lábios, define uma mulher? Não se nasce uma mulher, torna-se uma. Temo que minha mãe seja uma moça apenas. Temo que papai ainda seja um rapaz na carcaça de um senhor. Ambos caminhando lado a lado, como um casal exemplar, onde o amor ergue e segura o lar.

Não sou uma menina, sou uma mulher! Não por minhas vestes, não pelos meus calçados; mas pelos meus princípios, meus valores e ideais. Se tenho voz, vou usá-la. Se tenho pés, correrei uma maratona, se preciso for, para alcançar meus objetivos, defender as causas que acredito. Se tenho mãos, mãos firmes, usarei ao meu favor; seja na escrita, seja para aplaudir outras mulheres, seja para me aplaudir quando vencer em algo.

Não irei tolerar que me podem, que digam se sou uma mulher ou não. Quer me ensinar a ser mulher, desça do pedestal de jovem rapaz, jovem moça, e me peite; com garra, com força e determinação. Ameaças não me movem, olhar de repúdio, o levantar da voz, não afetam.

Eu quero tudo, tudo que as mulheres que me precederam não tiveram; por isso, me encontro parada em frente ao clube de Joe: Quero fazer o "show de horror" dito muitas vezes por minha mãe, se tornar uma realidade. Quero ver o corpo exposto com sangue evidente. Não ousarei externar uma covardia, isso eu deixo para meus pais. Carrego em mim toda a confiança, toda a coragem, todo o desejo voraz. Desejo esse que, faz minhas entranhas se agitaram, os pulsos cerrarem, o coração bater forte em palpitações mais do que constantes.

-Lilith, não irá entrar? -Uma voz rouca soa, retirando-me do meu preparatório mental. Ao erguer a cabeça, retiro meu capacete, entregando-o para o rapaz que, prontamente aceita. -Master Joe está esperando pela Senhora.

-Quanto tempo faz? -Questino. Lembro-me perfeitamente de ter marcado com ele as 22:00, não seria estranho ele estar desde as 20:00 ali, visto que, para uma sessão intensa de impact play, precisa de uma preparação diferenciada.

-Master está aqui desde as 19:00, senhora. -Responde, estendendo-me a mão para que eu desça da moto.

-Sabe que não precisa me chamar assim, não sabe?

-Sim, eu sei. Mas me sinto bem e confortável chamando-a desta forma. Deseja que eu pare?

-Se te faz sentir bem, não importo que chame. -Dou-lhe um sorriso, batendo levemente o indicador na ponta de seu nariz gélido -Me leve até Joe, sim?

O rapaz assente, guiando-me Club à dentro: O espaço bem amplo, discreto ao lado de fora, cheio de equipamentos de tortura por dentro; em diversos pontos haviam "casais" fazendo suas cenas. Um lugar com pegada mais rústica, sendo suavizado pele luminosidade apenas. Seguindo por uma escada em forma de caracol, descemos para um subsolo onde pessoas costumam fazer sessões fechadas ou cenas para determinadas grupos. Devo confessar que, foi uma boa jogada de meu mentor alugar essa parte.

O despertar de uma dominadora[BDSM]Onde histórias criam vida. Descubra agora