14- Amar dói. (Digressão)

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2010

Havia uma inquietude em meu âmago. Meu coração não andava em seus ritmos normais. Sim. Cito o verbo andar. Assim como poderia citar o verbo correr; o faria se esse órgão não almejasse uma súbita parada. Coisa de minutos.

Paro. Reflito. Penso nela. Minha respiração se tornara irregular, meu coração andava em passos largos. Ameaçava correr. Ele amava como um louco. Como quem tinha pressa de viver. Não esperava pela presença feminina para se afobar. Ele a tinha gravada em cada batida desgovernada. Afinal, só se agitava assim, em tamanha rapidez, por ela.

- Lívia... - Sua voz chamou pelo meu nome. Quase podia sentir o gosto de sua tonalidade; sabor avelã. Meu corpo se manteve estático, estendido no piso que simulava estacas antigas. Foco na audição. Queria ouvi-la chamar mais uma vez. Ter a certeza de que não era invenção da minha cabeça. A ouvi por dias, quando arrastava-me até a janela, nada via. Era somente o vento soprando sua voz para mim. Não era sua presença real. Palpável. - Lívia, me deixe entrar.

- Não. - Digo em um sopro, apertando as mãos contra meus olhos fechados. - Me recuso. Ficar enclausurada nesse quarto está me deixando doente. Certamente sua voz ressoa somente no fundo da minha mente. Se eu me virar, se eu me arrastar como uma desgraçada até essa maldita janela, serei estapeada pelo vazio mais uma vez. Estou cansada disso.

- Eu também estou, acredite. Amar você de longe não é uma das tarefas mais fáceis. Mas ainda o faço. Então, por favor, abra essa janela antes que alguém me veja pendurada como um bicho aqui.

Tão séria e tão sincera. Sua voz vêm roçando pelas minhas vísceras até criar sua sonoridade perfeita junto ao ritmo do órgão palpitante. Minhas palmas caem para as laterais dos quadris, meus olhos se abrem mirando o branco do teto. Dou permissão à mim mesma para sentir. Sentir que estou viva de verdade. Minhas pernas ainda se movem. Minha respiração, irregular, seguia fluindo. Tudo funcionava. Maneei meu pescoço em direção à janela.

A boca secou. O peito aqueceu.

Ela estava ali. Seus cabelos seguiam com a mesma coloração, com lindos caracóis caindo pelos ombros. A luminosidade em seu rosto não se perdera. O sorriso apareceu. O castanho das orbes suas, encontram-se com os verdes da minhas. Os olhares saudavam-se calorosamente.

Ergo-me rapidamente. Corro em sua direção, abrindo a vidraça que mantinha-nos distantes.

Não sabia que podia ser tão forte. Tão determinada em algo, como fui no momento. Com cautela e muita saudade, puxei-a para dentro, envolvendo seu corpo em meus braços. Ela enterrou seu rosto na curvatura do pescoço, rodeando minha cintura com firmeza.

Éramos uma saudade reprimida.

- Eu senti tanta, tanta saudade, Livia. Como pôde me manter longe? - Sofia murmurou, apertando-me ainda mais.

- Eu não quero que se machuque, Sofi. Eu sou um monstro agora, certamente, meu toque queima. Eles pensam que sou errada, suja, perversa e uma desonra. Estou começando a acreditar. E olha que sempre fui alguém imbatível quanto ao meu ser. - Minha voz saira abafada, meu peito ficava mais dolorido a cada palavra dita. Como era difícil anunciar sentenças à mim mesma. - Estou fadada ao sofrimento.

- Me amar é sofrer, Livy? - Inquiriu Sofia enquanto afastava-se, deixando-me no vazio e frio da presença. - Me responde.

Meus olhos encontraram os seus. Esmoreci no mesmo instante. Havia dor em suas orbes. Dor sentida após uma espetada em forma de frase falada. Cruzei os dedos frente ao corpo, maltratando-os. Mordisquei a parte interna da bochecha, senti a dor. Suspirei. Então, com enorme e pesaroso sentir, confinei:

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⏰ Última atualização: May 15 ⏰

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O despertar de uma dominadora[BDSM]Onde histórias criam vida. Descubra agora