Eu não consigo descrever o que eu senti quando vi ele com a Analu. Depois de todo esse tempo eu aprendi a conviver com a dor que a falta dele causava, e também tive que aprender a seguir com a minha vida. Toda a força que eu precisava para continuar vinha da minha filha, ela é, e sempre será o motivo que me mantém de pé.
Eu já tentava me conformar, e dizia à mim mesma que Bernardo não iria mais voltar. Confesso que me arrependi de não ter contado sobre a nossa filha, por várias vezes tentei entrar em contato com ele pra contar a verdade, mas nunca consegui. O número que meu pai tinha dele, já não era mais utilizado. Ele ficou incomunicável.
E a cada dia que passava, eu me enganava, pensando que foi melhor assim. Mas não foi. Analu já me perguntou porque as coleguinhas dela tem um papai e ela não, e isso acaba comigo. Minha filha senti falta de um pai, e eu não dei isso à ela. Cheguei a cogitar na possibilidade de dar uma chance ao Rodrigo, mas eu percebi que seria pior. Eu não o amo, e não posso enganar ele, e nem a minha filha.
Rodrigo se tornou um grande amigo desde que eu esbarrei com ele na empresa do meu pai. Ele já trabalha lá à dois anos e nossa amizade cresceu muito desde aquela época, mas eu sei que ele quer ser muito mais que um simples amigo. Ele é um homem bonito, honesto, divertido e ama a minha filha, mas meu coração nunca acelerou perto dele.
As coisas nesse momento não estavam nada bem. Bernardo parece furioso e o Rodrigo, com ciúmes. Já Analu está alheia a tudo isso. Chamo Rodrigo para um canto afastado e deixo minha filha com o Bernardo. Explico para o meu amigo a situação o melhor que posso, e peço pra ele levar a Analu pra casa da minha mãe para eu poder conversar com o Bernardo.
— Tudo bem.— ele responde — Ligo pra você mais tarde— Rodrigo fala.
— Okay.— respondo e beijo sua bochecha.
Quando volto pra junto do Bernardo, vejo ele falando alguma coisa no ouvido da Analu, a fazendo sorrir. Minha filha já está totalmente a vontade perto do pai, mesmo sem saber quem realmente ele é. Bernardo olha pra filha feito um bobo, não consegue tirar o sorriso do rosto.
— Podemos ir? — Bernardo pergunta.
— Sim, claro. — respondo.— Vem filha, Titio Rodrigo vai levar você pra casa da vovó.— Falo e estendo os braços pra pega-la.
— O que? Ela não vai a lugar nenhum. Analu ficará com a gente. — Bernardo exclama.
— Não quero que ela ouça nossa conversa — rebato. — Ela vai com o Rodrigo.
— Eu já disse que ela não vai. Fiquei três anos sem minha filha, não vou ficar nem mais um minuto. Você pode pedir pra alguém vir pegar ela no meu apartamento, e ficar com ela por alguns minutos. Nesse tempo conversamos. — Fala e começa a andar com Analu ainda em seus braços. Abro a boca pra falar, mas desisto. Eu sei o quanto esse homem pode ser teimoso quando quer.
Peço desculpa para o Rodrigo e sigo o Bernardo. Ele continua conversando com a filha e fazendo ela ri, e minha curiosidade aumenta.
O que será que eles tanto conversam?
No caminho para o apartamento dele, ligo pra Micaela e pergunto se ela pode ficar com a Analu por uma hora. Ela diz que sim, e fala que a Manu precisa mesmo ver a prima. Passo o endereço de onde estarei e desligo.
Minha sobrinha Emanuelle é a coisinha mais gostosa do mundo, ela tem dois aninhos e adora a Analu. Ela tem os olhos verdes do Daniel, e o temperamento da Micaela. Os cabelos vermelhos também são da mãe.Quando chegamos no prédio onde fica o apartamento do Bernardo, eu me surpreendo. Ele está morando no mesmo lugar onde ficamos durante nosso casamento por contrato. Entrar nesse apartamento vai me fazer lembrar de coisas que eu não deveria lembrar.