— Nate, precisamos terminar. – É a primeira coisa que a jovem fala assim que adentra o apartamento.
O jovem cozinheiro que a esperava com um misto-quente em mãos, inclina a cabeça para trás com os olhos arregalados.
Sachs solta seus pertences em cima da mesinha e senta no sofá com as duas mãos nos joelhos.
— Eu acho que sou lésbica! – Ela fala introspectiva.
— Você o que?
— É! Eu acho que sou lésbica, eu beijei uma mulher e gostei. – Ela fala tão assustada quanto o jovem que ouve.
— Andy você me traiu? – Ele está tão surpreso quanto ela ao perceber que aquilo foi uma traição.
— Oh, meu deus! Eu te trai, eu sou pessoa horrível.
— E com uma mulher! – Ele complementa sem saber como agir. Ele está tão chocado.
— E eu gostei, e gostei muito.
— Andy, namoramos há anos, você sempre gostou de tudo que aprendemos juntos.
— Eu sei, e talvez seja por isso que eu nunca percebi que eu pudesse ser; até conhecer essa pessoa e sentir que ela poderia gostar de mulher, e foi bem estranho ter essa curiosidade sobre ela, acredite.
— Quem é ela?
— Se eu falar, amanhã você assistirá no jornal sobre o corpo de uma jovem que foi desovado em um parque abandonado qualquer.
— Você tem certeza que é isso que você quer?
— Não, não é como se eu e ela fossemos iniciar um romance, até porque o que rolou foi inesperado e sem previsão de se repetir. Mas, bem, você foi o meu primeiro e único namorado, eu sinto que preciso de novas experiências e principalmente olhar para esse outro lado meu que aparentemente eu gostei mais e quero muito testar.
Enquanto isso, praticamente do outro lado da cidade, em um dos bairros mais nobres, em uma mansão avaliada em bilhões, encontra-se uma mulher de cabelos platinados e olhos azuis distante, escorada na janela de vidro do seu escritório particular. Miranda está em um conflito interno entre apenas apreciar o que fez, e se cobrar por ter deixado aquilo acontecer. A mulher sempre se cobrou perfeição, e é por isso que ela também cobra o mesmo dos demais. Se ela é capaz, por que os outros também não são?
Ela passa a mão na nuca, sente a tensão pesar em seus ombros. Miranda nunca fora tão negligente como foi em relação às provocações de Sachs. A mulher volta a sentar em sua poltrona e volta a olhar as fotos da senhorita Sachs, principalmente a que a jovem lhe olha intensa e provocativamente. A de cabelos brancos morde o lábio recordando de seus dedos entrando e saindo de dentro da jovem, do beijo tão diferente e tão delicioso. Ela sente seu corpo esquentar mais uma vez. Só hoje ela já esteve assim varias e incontroláveis vezes.
— Essa garota pode ser minha ruína...
Miranda começa a pensar nos possíveis escândalos, pensa nas filhas, no marido, pensa em sua carreira e em como não pode manchar seu legado se deixando envolver com um funcionário, e mulher...
Ela se questiona em como se deixou ser tão acessível. Ela nunca é!
Mas, tem coisas que nem os melhores filósofos podem explicar, tem pessoas que entram na nossa vida como se a gente nunca tivesse posto um escudo blindando aproximações.
A mais velha suspira ainda presa em seu momento mais insano e sublime que tivera em toda sua lamentável e admirável vida.