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ANY

Um som alto e persistente de batida ecoa pelo meu quarto e eu gemo, cegamente pegando meu travesseiro para enterrar minha cabeça embaixo dele.

Vá embora.

— Entre.— eu chamo, fingindo uma alegria que não sinto.

As portas duplas se abrem e um suspiro pesado enche meus ouvidos, seguido por um forte sotaque britânico que me irrita.

— Por que você ainda não acordou?

— Porque é domingo.— murmuro, revirando os olhos quando ela bate o salto no chão sob seus pés, esperando impacientemente que eu mostre meu rosto.

Maryanne é uma linda mulher de quarenta e poucos anos - alta e magra, com uma cabeça linda de cabelos pretos e grossos. Ela está conosco desde que me lembro, praticamente me criou graças à minha mãe ausente e seu amor pelo trabalho e pelos homens, mas isso não muda o fato de que ela é um grande pé no saco.


— Há alguém na porta para você.— ela me informa, levantando uma mão defensiva quando percebe o brilho no meu rosto. — Não é Bailey. Estamos todos muito cientes de que você nos disse para não incomodar se ele aparecesse aqui hoje. É outra pessoa. Outro menino.

— Qual rapaz?

— Eu não sei.— ela suspira, movendo-se para as portas do pátio na parede norte para abrir as cortinas. — Desça as escadas e veja o seu...visitante. E pelo amor de Deus, vista algumas roupas. Sua mãe teria um ataque se visse você andando por aí vestida assim.

Eu a viro pelas costas e me levanto para pegar meu robe branco do chão, jogando a seda fria sobre meus ombros para cobrir o short curto do pijama e a regata curta que estou usando. Eu faço meu caminho até a porta da frente e a abro, puxando minha cabeça para trás quando encontro Josh Beauchamp parado nos meus degraus exatamente no mesmo lugar da noite passada, só que ele não está fumando um cigarro desta vez. Seus olhos se arregalam um pouco quando ele vê o que estou vestindo e ele xinga, me observando descaradamente da cabeça aos pés.

— Meus olhos estão aqui.— eu aponto, cruzando meus braços sobre meu peito para esconder meu corpo dele.

— Sim, mas seu traseiro está lá embaixo.— Eu deixo cair meu queixo com isso, honestamente por Deus, me perguntando se ele caiu muito quando era criança.

— Você é...

— Eu sou o quê?

— Nojento.— eu decido.

— Você é nojento.— Um sorriso da vida real se espalha em seu rosto estúpido e ele abaixa a cabeça, olhando para mim por baixo de seus cílios de uma forma que o faria parecer sexy pra caralho se ele não me irritasse tanto. — O que você quer, garoto novo?

— Eu e Urrea vamos tomar café da manhã no Lucky's.— ele me diz, inclinando a cabeça para o carro de seu primo estacionado atrás do Camaro na minha garagem.

Noah me oferece um sorriso nervoso de seu lugar no banco do motorista e eu relutantemente sorrio de volta, trabalhando meu queixo quando vejo o olhar em seu rosto. É pena, e não sinto falta do jeito que ele mal consegue me olhar nos olhos depois do que aconteceu aqui ontem à noite.

— Você quer vir?.— Josh pergunta, propositalmente ignorando a tensão entre mim e seu primo.

— Não.

— Por que não?

Porque todos os meus chamados amigos estarão lá e não tenho coragem de enfrentá-los agora. Tenho plena consciência de que terei de vê-los na escola amanhã, mas este é o meu dia - o único dia em que estou me entregando para chafurdar na minha própria autocomiseração até chegar a hora de enfrentar a música. Eu não digo a ele nada disso, no entanto. Em vez disso, mantenho minha boca fechada e olho para ele por um segundo, realmente olho para ele pela primeira vez desde que abri a porta agora há pouco. Ele está vestindo outro par de jeans rasgados e uma camiseta preta, seu cabelo roxo ainda um pouco úmido do banho que ele deve ter tomado antes de vir aqui. Seus olhos são azuis, acabei de notar, tão claros que quase parecem o ceu à luz do dia. Eles são irritantemente lindos e magnéticos, e eu não posso deixar de me perguntar como ele ficaria do outro lado da minha câmera, encostado no sorrisinho arrogante no rosto que me faz querer socá-lo...

Sexy pra caralho.

É assim que ele seria.

— O que é esse cabelo?.— Ele levanta uma sobrancelha e eu coro antes que eu possa parar, internamente me amaldiçoando por perguntar isso em voz alta.

— Foi um desafio.— ele diz simplesmente, encolhendo os ombros como se isso explicasse. — Você gosta disso?

— Eu...— Eu considero mentir para ele, mas decido contra isso, sabendo que isso vai aumentar seu ego já enorme, mas contarei a ele de qualquer maneira. — Eu não odeio isso.

Ele ri levemente com isso.

— Obrigado.

— De nada. Agora vá embora.

— Saia comigo esta noite.— Minha mão congela na maçaneta da porta e me viro para encará-lo, franzindo o nariz quando percebo que ele não está brincando comigo.

— O quê?

— Saia comigo esta noite.—  ele repete, mais lento desta vez. — Sem, Noah. Só eu e você.— Pisco, depois pisco novamente, piscando várias vezes enquanto meu cérebro tenta processar sua estupidez.

— Você está me pedindo para sair em um encontro?

— Sim.

— Ok, deixe-me reformular isso. Você está me convidando para um encontro menos de 12 horas depois que terminei com meu namorado por foder minha melhor amiga?.— Ele sorri aquele sorriso estúpido novamente.

— Sim.— Eu bato a porta na cara dele e aperto a fechadura, indo para a cozinha para ir pegar meu café da manhã.

— Idiota.

Eu faço uma pausa no filme que estou assistindo sozinha e envolvo meus braços em volta da minha cintura, inclinando minha cabeça para trás no sofá de doze lugares para olhar para a enorme tela grande estilo cinema na parede da frente da sala

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Eu faço uma pausa no filme que estou assistindo sozinha e envolvo meus braços em volta da minha cintura, inclinando minha cabeça para trás no sofá de doze lugares para olhar para a enorme tela grande estilo cinema na parede da frente da sala. Isso está além de patético. Tenho tudo que uma garota pode pedir, sempre tive e provavelmente sempre terei, mas acho que nunca me senti tão triste na vida. Envergonhada, estúpida e sozinha. Um suspiro derrotado me deixa e eu limpo meus olhos com as mangas, me levantando da cadeira em busca de um pouco de chocolate e sorvete. Não mantemos essas coisas aqui, é claro, então pego meu telefone, apesar do fato de estar desligado desde a noite passada, e vou para o meu carro, franzindo a testa quando vejo o envelope branco preso ao meu para-brisa. Eu ando até a frente e o pego, apertando os olhos na escuridão para ler a caligrafia desconhecida rabiscada atrás dele.

Any.

— Que porra é essa? — Eu sussurro para mim mesma, olhando rapidamente para a esquerda e para a direita para verificar se há movimento.

Não encontrando nada além da minha própria garagem e as árvores ao redor dela, eu sacudo aquele vislumbre estúpido de esperança no meu peito e viro para abri-lo. Meu pai é a única pessoa que me chama de Any, mas de jeito nenhum ele iria deixar isso aqui, não depois de todo esse tempo sem dizer uma palavra... Algo cai do cartão e eu me esforço para pegá-lo com minha mão esquerda, rapidamente olhando ao redor novamente antes de virá-lo para inspecioná-lo.

É um chaveiro roxo no formato daquele emoji sorridente do diabo que Krys usa o tempo todo. Ainda confusa, abro o único cartão de aniversário que ganhei este ano e leio o bilhete escrito lá dentro.

Sorria, princesa.
Sempre há o próximo ano.

ᏢᎬϘႮᎬΝᎪ ᎠᏆᎪᏴᎪ √ BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora