Any GabriellyUpper East Side - Manhattan, Nova York. 29 de outubro.
- Ai meu deus, isso é incrível! - Perdi o fôlego por um instante. Josh e um transplante de córneas... - Sina, você tem que contar isso pra ele agora!
- Eu sei, eu sei, mas... - Sina afundou as mãos nos cabelo, a volta da tia com certeza não a tinha deixado no melhor humor. - Any, você tem que entender que Úrsula nunca foi a mãe número um, sabe? Ela colocava pressão de mais no Josh, é narcisista, e ainda fez de tudo pra encobrir o acidente dele.
- Eu nunca entendi muito bem o porque dela ter ido embora... Quer dizer, é a mãe dele... - Família sempre foi um tópico sensível naquela casa, e mesmo com tantas barreiras já quebradas, eu não ousava perguntar algo tão pessoal assim.
- Ela não foi, logo de inicio... Muita coisa aconteceu quando o Josh estava em coma, todo mundo tinha esperança de que ele fosse acordar sem sequelas. Quando ele acordou é que o caos aconteceu. - Sina endireitou a postura e continuou - Úrsula realmente saiu por ai para procurar um tratamento pro Josh a todo custo, porque na cabeça dela isso é mais importante do que estar ao lado dele. Nenhum médico em Nova York queria submeter o Josh a uma cirurgia logo após o trauma, e Úrsula achou isso um absurdo.
A cozinha ficou em completo silêncio. Sina parecia cansada, logo agora que as coisas estavam finalmente se acertando.
- Como eu vou contar isso pra ele, Any? - Os olhos azuis me pediam socorro. E dessa vez eu não tinha a menor ideia de como ajudar.
- Eu não sei... Mas acho que ele tem o direito de saber. - Busquei sua mão em cima da mesa. - Eu te ajudo, okay?
Ela abriu um sorriso, ainda cansado, mas era um sorriso verdadeiro. Acho que as vezes Sina se esquecia que não estava mais sozinha.
- Então... Vocês se beijaram.
- Ai meu deus, ele te contou?! - Me levante da mesa e fui caçar o que fazer. Tinha certeza que meu rosto estava vermelho. Sina riu.
- Nem precisava, depois que você foi embora ontem ele ficou com aquele sorriso idiota no rosto o resto da noite.
Tentei disfarçar o meu sorriso idiota enquanto fazia o café, mas tenho certeza que dava pra ver até de costas.
(...)
Josh tinha esse costume de dormir agarrado com um travesseiro como um coala, e quando eu entrei em seu quarto naquele dia era exatamente assim que ele estava deitado. O pijama de nuvens era só um enfeite a mais.
- Bom dia, Bela Adormecida. - Josh grunhiu alguma coisa e veio direto deitar a cabeça no meu colo assim que me sentei na beirada na cama. - É melhor você levantar logo, a gente tem um monte de coisas pra fazer hoje.
- A gente quem? - Ele perguntou, ainda de olhos fechados e ignorando completamente o que eu disse sobre sair da cama.
- A gente eu e você. Disse pra Sina que iamos comprar doces pro Halloween.
- Por que você sempre me arrasta pras suas loucuras?! - Josh tirou a cabeça do meu colo e voltou a se deitar na cama, fazendo birra. Como sempre.
- Porque você precisa sair de casa, respirar novos ares... Da para você parar de me imitar?! - Ele revira os olhos mais uma vez, parando de fazer bico enquanto eu falava.
- Any, é só Halloween. Um bando de crianças desconhecidas batendo na porta da minha casa pedindo doces que eu vou ter que comprar com meu dinheiro.
- Você é podre de rico, Joshua.
- O Halloween já não tem mais graça, só isso.
Bufei levemente irritada. Josh sabia como ser teimoso igual uma mula. Me deitei junto a ele, encostando minha testa nas suas costas.
- Se você vier comigo, eu te dou um beijo.
- Dois.
- Feito!
(...)
Eu gostava do Hallowen pelo único e simples fato de que eu gostava de crianças, achava divertido ver toda a criatividade e empolgação com as fantasias. E é claro, amava os doces. Josh por outro lado continuava sendo um velho ranzinza e reclamou o caminho inteiro até o mercado, ficou emburrado durante a as compras e agora só chupava as balas ao invés de me ajudar a colocar nos pacotinhos. Eu tinha separado os doces na sua frente em uma linha contínua, ele só tinha que pegar um de cada e enfiar no bentido saco.
- Sabe, você até agora se mostrou um namorado bem preguiçoso.
Quando ele quase se engasgou com a bala, eu soube que tinha conseguido o que queria.
- Sou seu namorado? - Ele perguntou tentando soar sério.
- É, não é? Ou você só queria me beijar e se aproveitar de mim?
- Não, Any! - Josh quase caiu da cadeira pelo desespero, só se acalmou quando me ouviu dar risada. - Você não tem graça.
- E você quer me namorar. - Eu cantarolei e ele revirou os olhos, sorrindo de canto.
- Não pode ser assim, eu imaginei uma coisa mais elaborada... - Josh disse meio em emburrado, finalmente tateando a mesa atrás dos pacotes. Empurrei um até sua mão e segurei a outra, indicando aonde começar pelos doces.
Sorri meio boba com a informação de que ele planejava as coisas comigo.
- Então eu espero você fazer o pedido, pra não acabar com seus planos. - Ele solta um riso fraco pelo nariz e balança a cabeça.
- Obrigado.
- De nada.
Terminamos de empacotar os doces em um silencio confortável, sorrisos idiotas e toques singelos nas mãos. Olhar Josh tão tranquilo e feliz me fazia bem, deixava meu peito calmo. Me lembrei da conversa com Sina, e de como ela parecia perturbada com a ideia da mãe de Josh voltar e de como isso poderia acabar perturbando o próprio Joshua. Era complicado...
Não queria que nada no mundo acabasse com a tranquilidade dele, mas se a mãe de Josh realmente tinha a certeza de que poderia submeter ele a uma cirurgia de transplante de córnea...
- Você tá muito quieta, até a sua respiração mudou.
Ele me tirou dos devaneios enquanto preparávamos o jantar. Josh lavava os legumes enquanto eu os picava.
- Só estava pensando em como vai ser minha vida agora. - Menti um pouco.
- Como assim?
- Não posso mais trabalhar para você. - Ele para de lavar os legumes e vira a cabeça de maneira brusca. Josh era tão dramático as vezes. - Nos beijamos, e depois nos beijamos de novo e de novo. Isso é anti ético.
- Não me importo de ser anti ético com você... - Ele faz um bico e eu acho graça.
Aproximo minha mão de seu rosto e arrumo os cabelos louros que agora estavam grandes mais. Ele fecha os olhos e aproveita.
- Não vou sumir, só vou trabalhar em outro lugar.
- Tive que me acostumar a te aturar todos os dias e agora vou ter que me acostumar a ficar se você. Você é má.
- Eu sei.
Me estico e deixo um beijo nos lábios de Josh, que logo retribui de novo.
Enquanto ele me beijava, desejei a todo universo que nada tirasse aquela paz de espírito que ele finalmente tinha alcançado. Nem sua mãe, nem ninguém.
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Capítulo não revisado
Estou meio perdida depois de todo esse tempo, me perdoem por favor 🙏🏼
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Behind Blue Eyes || Beauany
Teen FictionJovem e com um futuro cada vez mais promissor, Josh Beauchamp estava no auge de sua carreira como artista plástico, quando um acidente de carro acaba lhe tirando tudo,incluindo a sua visão. Cego e dependente de sua mais nova cuidadora, o rapaz apren...