Behind Blue Eyes || Beauany

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Joshua Beauchamp
Upper East Side - Manhattan, Nova York.
30 de agosto de 2019.

- Josh, é a terceira cuidarora que pede demissão em menos de um mês! Como você consegue fazer isso?

A voz de minha prima, Sina, ecoava longe em minha mente.
Cuidadora, isso era uma piada! Eu não era nenhum bebê ou um idoso caduco, era patetico a idéia de alguém precisar me ajudar a tomar banho, me vestir, fazer minha comida, ou me dar comida. Isso me deixava frustrado. Já faziam semanas e eu ainda estava preso nessa cadeira de rodas, sem o menor sinal de um avanço, e sem enxergar.

"Não desiata, Josh! Você está progredindo lentamente." Se eu conseguisse levantar, eu daria um soco em meu fisioterapeuta e nas suas frases motivacionais idiotas, que não serviam pra nada a não ser me deixar mais puto.

Falando em Sina, ela é a única pessoa que ainda está ao meu lado. Meus pais estão viajando com a desculpa de "procurar uma cura para mim", mas eu sei que é tudo uma grande mentira e eles apenas estão fugindo do estorvo que eu me tornei. Títulos, medalhas e até mesmo o dinheiro que eu dediquei à eles, não serviram pra nada agora que o menino de ouro virou um peso morto.
Eu costumava ter amigos à cinco meses atrás, mas todos eles vazaram tão rápido quanto minha família.  Sina tentou manter contato, dizendo que ter a presença deles poderia me ajudar na recuperação, eu à escutei no telefone dezenas de vezes repetindo a mesma ladainha, mas sempre tinham alguma desculpa como "muito trabalho", "a faculdade está muito difícil" ou o melhor de todos, "estou sem tempo". Cuzões, tinham tempo de sobre pra aproveitar do meu hiate e da minha grana antes.
Em determinado momento minha prima simplemente desistiu de manter contato com o meu antigo ciclo social, talvez tenha percebido que estaria completamente sozinha nessa furada chamada Joshua Beauchamp.

- Josh, eu estou falando com você! - A voz de Sina ficou mais perto, deduzi que agora ela estava ao meu lado.

- Eu sei. Sou cego, não surdo.

Sina suspirou. Eu sabia que era difícil para ela, cuidar do vegetal que eu havia me tornado.
Minha prima estava no último semetre de artes cênicas da NYU, a arte sempre esteve presente na nossa família, mas diferente de mim, Sina teria a sorte de continuar usufruíndo dela.

- Josh... - Senti seu corpo mais próximo ao meu, ela tinha se ajoelhado em frente a cadeira de rodas. - Eu sei que não é nada fácil, mas você precisa me ajudar.

Eu consegui sentir seu toque em meus joelhos, o que me deixava com um misto de frustração e desconforto. O máximo que eu era capaz de fazer atualmente era ficar em pé por míseros 2 minutos, antes de desmoronar como uma gelatina.

- Suas mãos estão quentes e molhadas. Você estava chorando, não estava?

Sina fungou. Não precisei de mais nenhuma resposta. Busquei suas mãos em meus joelhos e ela segurou de volta.
Eu sempre me considerei uma pessoa afetiva, gostava de sentir o calor humano das pessoas que eu amava e que eu achava que me amavam de volta. Não quero pagar de dramático, mas é como se a vontade de expressar os meus sentimentos, tivesse morrido.

- Eu vou tentar. - Eu sei que ela sorriu em resposta. - Mas você tem que prometer que não vai contratar nenhuma velha chata!

- Eu prometo!

Sina afagou meus cabelos e deixou um beijo em minha testa, logo depois seus passos de dirigiram para a cozinha, onde pude escutar ela procurar alguma panela no armário. Estava próximo da hora do jantar.

Respirei fundo, era uma das poucas coisas que eu ainda podia fazer. Eu queria surtar e quebrar essa maldita cadeira em mil pedaços, levantar e ir fazer o meu próprio jantar. Mas eu não podia, e a idéia de que talvez eu nunca mais pudesse fazer nada, me aterrorizava todos os dias.

A verdade é que eu não iria fazer o menor esforço para ter uma boa convivência com quem quer que fosse minha próxima "cuidarora."
Eu não queria alguém sendo pago pra simplesmente, me aturar. Uma tarefa que, estava claro até mesmo pra um cego, ninguém queria fazer.