Capítulo 24

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Rurik

Permaneço encostado no batente da porta da cozinha enquanto observo Laura com a minha avó.
Laura não fala russo e o inglês péssimo da minha avó faz com que a interação entre as  duas seja difícil. Entretanto isso nao parece um problema, as duas se divertem tanto enquanto uma tenta decifrar a outra.
Sem ser notado viajo pelos detalhes da mulher que sem aviso invadiu meu coração e minha vida. Ela é linda e minha. Cada vez mais minha.

Laura se tornou amiga de Yelena, a pego sempre gargalhando das besteira que Ruslan diz, e minha mãe parece ter a tomado como uma filha.
Meus avós estão encantados por ela e meu pai, o mais sistemático de nós, parece estar rendido por sua nora.

Eu sabia que ao trazê-la ela seria muito bem recebida, meu receio era como ela reagiria. Minha família gosta de contato, se expressar, todos são muito carinhosos. Eu tive medo que ela se sentisse invadida, pressionada, mas ao contrário de toda minha expectativa, Laura se deixou ser abraçada, tocada e mimada por todos. Ela quis fazer parte de tudo.

E me surpreendendo mais ainda, antes que eu dissesse qualquer coisa sobre nosso tempo aqui em Moscou, tomou a iniciativa de querer ficar mais, o que me fez o homem mais feliz do mundo.
Ela entrou em contato com seu chefe e pediu uns dias de férias.

A minha intenção era convencê-la a ficar mais alguns dias do que apenas um fim de semana, mas não foi preciso. Ela desejou ficar e isso se tratando de Laura é um grande avanço.

Enfim, ela me nota e sorrindo se aproxima. Está com as mãos sujas e sem tocar me dá um beijo suave nos lábios. Antes que ela volte ao que estava fazendo lhe seguro pelas cintura e junto seu corpo ao meu.

—  Você nem percebeu não é? — Pergunto espalhando beijos por seu pescoço e ela gargalha enquanto devolve a pergunta.

—  Não percebi o que? —  A encaro sorrindo antes de responder e vejo minha avó nos observando com uma expressão carinhosa. —  Você veio aqui e me beijou, toda carinhosa. Eu estou amando essa nova Laura.

O sorriso que ela tinha no rosto some e temo ter dito besteira. As mãos que ela mantinha afastadas de mim rodeiam meu pescoço e ela me olha nos olhos
—  Obrigada. — Sussurra e me abraça.

Ficamos assim, abraçados na porta da cozinha, minha avó nos observa e não sei o que fazer. Eu ficarei assim, com ela em meus braços enquanto precisar. Depois de um tempo ela se afasta e me olha novamente, sorri e me beija. Um beijo casto, com os lábios ainda curvados pelo riso.

Então ela se afasta e volta até onde minha avó Olga está. Fico um tempo assimilando o que acabou de acontecer. Meu coração prestes a explodir de tanto amor, tanta gratidão, por ter a chance de tê-lamesmo sem ser merecedor.

Decido ficar com as duas e me torno oficialmente o intérprete de Laura. Isso me faz pensar que preciso providenciar, caso ela queira, aulas para que aprenda nossa idioma.

***

Durante o jantar, minha avó conta a todos como Laura é talentosa na cozinha e conseguiu reproduzir sua receita de família perfeitamente. Não perde a oportunidade de alfinetar Yelena, que é péssima cozinheirae sempre que tentou preparar alguma coisa um caos se formou.

O assunto flui, a conversa é gostosa e olhando para a nossa mesa me sinto completo. Laura está a vontade, sorrindo e contando algumas coisas sobre seu passado no Brasil. Tenho meus olhos grudados nela, pela primeira a vejo falando sobre sua vida.
Contando sobre seu passado.

— Eu morava na cidade do Rio de Janeiro, lá é muito calor, nunca faz frio. A temperatura é sempre alta, passa dos 40⁰C.

— Não sei se conseguiria me acostumar.

Yelena diz, e em seguida todos fazem perguntas sobre como era sua cidade, a praia, família. Me surpreendo quando ela começa a dizer.

—  A minha avó tem um quiosque na praia, ou tinha, não sei. —  Percebo que ela parece se transportar para outro lugar enquanto fala. Seguro sua mão por debaixo da mesa e ela me olha e sorri. Penso que vai parar, mas não, ela continua.

— Minha mãe trabalhava com ela, e eu ficava com as duas depois que voltava do colégio. Eu amava a praia, o mar... —  Ela sorri, bebe um pouco de água e prossegue. —  Nós conhecíamos muitas pessoas diferentes, turistas do mundo todo. Minha mãe era muito deslumbrada, ela não era contente com a nossa vida. Apesar de simples, nunca nos faltou nada, nosso quiosque era sempre lotado, pois minha avó cozinhava muito bem, no entanto nada era o bastante para ela.
Quando eu tinha doze anos ela conheceu o seu atual marido. Ele apareceu no quiosque e logo se interessou por ela, minha mãe sempre foi muito bonita. Em poucos dias ele a chamou para ir embora e ela aceitou sem pensar duas vezes. Eu fiquei desesperada, porque não queria sair de lá, mas aí ouvi uma conversa deles, ela não queria me levar, queria me deixar com a minha avó. Entretanto, ele insistiu para eu fosse com eles. Estrangeiro, bonito, aparentemente rico, era tudo que ela queria então fez a sua vontade. Em dias nos mudamos, foi um loucura.
Quando chegamos em Boston, nós não falávamos inglês, para nos comunicar foi horrível. Descobrimos que ele era realmente muito rico e ela surtou. Só queria fazer compras e viver dando ordens aos empregados.
Eu fui para um dos melhores colégios do estado, mas não consegui me aproximar de ninguém. Com o tempo eu aprendi o idioma, mas a minha relação com a minha mãe, que já era difícil, ficou impossível. Quando eu completei dezesseis anos, pedi minha emancipação e ela me deu. Eu saí da casa deles, da escola e fui trabalhar. Desde então eu vivia sozinha. Até conhecer Rurik.

Enquanto ela falava não consegui tirar meus olhos dela. Pela primeira vez eu a ouvi contar sobre sua vida. Ela estava se abrindo, dando uma brecha para que nós, não só eu, mas toda minha família entrasse. Eu sei que tem muito mais, no meio dessa história tem algo de muito sério que fez com que ela saísse de casa, e agora eu sei que quando ela estiver pronta vai me contar.

Levo sua mão que segurava até a minha boca e lhe dou um beijo. Ela me olha e sorri. Vejo em seus olhos que ela está bem, aliviada.

— Você é muito corajosa Laura.  —  Comenta minha mãe. —  A maioria das pessoas no seu lugar aproveitaria a vida que seu padrasto poderia lhe oferecer, mas você não. Não estava satisfeita e foi em busca do seu lugar. Realmente, muito corajosa.

Continuamos conversando, minha mãe contando histórias de quando eu e meu irmãos éramos crianças. Yelena e Ruslan se intrometendo no meio para mudar os fatos e eu apenas observando tudo. Vendo Laura relaxada e contente. A minha família segura e feliz. Eu realmente não preciso de mais nada.


♥︎♥︎♥︎♥︎♥︎
Oi amores, esse casal está muito amorzinho ❤
Eu consegui voltar, obrigada pela paciência e por todas as mensagens de carinho.
Meu pé está melhor e graças a Deus melhorando. Tive até que tomar vacina para tétano. Fiquei preocupada, mas deu tudo certo.

Até amanhã! Voltarei com mais capítulo novinho e mais cedo! Beijos ❤
Eu amo vocês! Obrigada por tudo 🥰

Ah, pera aí, não esquece de votar 🌟 😘

Ensina-me o amor (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora