É domingo e eu queria poder esquecer que existe sábado.
Afundada em meu travesseiro, estou tentando usar habilidades sobre humanas para deletar da minha cabeça tudo que aconteceu ontem. Queria poder voltar no tempo usando talvez o delorian e fazer com que as vinte e quatro horas atrás nunca tivessem ocorrido. Vagueio a cômoda a minha direita a procura do celular. Quando encontro jogado entre embalagens de absorventes, parece que é instantâneo quando o aparelho vibra de repente. Pondero, imaginando que se eu ergue-lo e olhar a tela só me cause mais dor de cabeça. E o meu pensamento se concretiza.
"Gostei da noite de ontem. Vamos repetir?"
— Steve.Decido ignorar a mensagem com um grito frustrado escapando da garganta. Atiro o celular para longe e acho que talvez meu tapete felpudo ou minha pilha de roupa suja amorteceu a queda, porque o som de algo quebrando não deu para escutar.
Empurro o travesseiro contra o rosto com força, usando para abafar o ódio de mim mesma e extravasar a raiva sem causar alarde. Aprendi essa técnica assistindo as séries adolescentes da Emily. Nunca é bom que alguém te escute colocar as frustrações para fora. Principalmente, minha mãe. Eu seria inundada de perguntas sem sentido sobre puberdade ou uso de camisinha e coisas banais, caso contasse a ela sobre o encontro desastroso com Steve meleca na Waffel's House.
E afinal, eu não saberia responder o motivo de ter ido. Ou pior, de ter aceitado o convite. Estou arrependida amargamente, querendo pular de um precipício sem deixar uma carta de despedida. Ninguém precisa saber que passei dessa para melhor por causa de um garoto da minha turma.
Minha tentativa de colocar no lugar da memória de Steve tirando meleca enquanto mastigava batata frita, a de Eliot dizendo que me ajudaria em relação a Sarah é em vão. Estou mais concentrada em como vou olhar para o garoto na segunda feira, do que em como vou encontrar a tal lista negra.
O celular vibra outra vez. Imagino que seja Steve com mais uma mensagem sobre como ontem foi incrível. Apenas para ele, é claro. Decido não checar. Se for mesmo ele, minha raiva vai aumentar ainda mais.
Essa minha procura por um namorado está sendo mais difícil do que pensei. Achei que fosse simples. Mas está mais para uma agulha num palheiro. E o palheiro de Indiana é gigantesco.
Argh!!!
Uma batida fraca atinge a porta do quarto me fazendo erguer a cabeça do travesseiro.
— Querida, a Maureen está aqui. — A voz da minha mãe soa cansada. Ao invés de curtir o final de semana livre, ela está ocupada faxinando a casa. Coisa que acho desnecessária a essa hora da manhã.
— Tá! — Grito, despreocupada. Não preciso ser receptiva com a minha melhor amiga. Principalmente quando ela tem uma intimidade natural com a minha família a ponto de chamar minha mãe de tia.
A porta é aberta e Maureen surge com seu típico vestidinho florido de domingo. Ela esboça um sorriso, nos trancando aqui dentro.
— Oi. — Ela diz, sentando na beirada do colchão. — Ontem foi muito ruim?
— Ruim!? — Cravo os olhos nos seus. — Foi péssimo! Eu fiquei ouvindo ele falar sobre John Lennon durante duas horas sem parar. Me lembra porque eu fiz isso mesmo.
— Quando você mandou mensagem dizendo que estava indo sair com o Steve meleca, eu achei que fosse brincadeira. — Maureen declara, sincera. — Mas aí você mandou a foto na Waffel's House e eu quase surtei.
— Merda.
O som do celular vibrando mais uma vez faz o meu corpo enrijecer. Troco um olhar tenso com Maureen e ela fica de pé a procura do aparelho perdido na bagunça que é o meu quarto. Bufo, me debatendo no colchão. Me sinto um peixe fora d'água. Queria poder fazer com que o chat de mensagens não tivesse sido inventado.
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E Se Fosse Diferente?
Teen FictionCopyright © 2021 por Laysla Ferreira Zoe Elisabeth Howard tem um problema. Nunca teve um namorado de verdade. Ela acredita fielmente que sua esquisitice aguda e seu azar frequente tenha alguma coisa haver com isso. Seguindo por essa perspectiva, é o...