09|Eliot Samuel

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Todo grande romance precisa de um grande vilão. Eu acredito fielmente que o desta história já protagonizou tantos outros papéis em que o personagem destrói a vida da mocinha. Eliot Samuel fez o Coringa, o Demogorgon, Michael Myres do Halloween e, todo e qualquer aberração de filmes de terror. Ele é, literalmente, a personificação do mal.

E como nossa incrível relação começou? Simples. Eu nasci.

Eliot nunca gostou de mim, isso é um fato. Talvez esse sentimento de repulsa tenha sido desencadeado na época em que os Howard e os Samuel foram vizinhos durante cinco anos. Afinal, todo menino odeia que a garota mais estranha do bairro se mude para casa ao lado.

Continuando a linha de raciocínio do ódio, eu e Eliot nunca nos demos bem. Se eu pudesse apontar onde tudo começou, eu diria que foi no dia em que papai decidiu construir uma casa na árvore no nosso quintal. E eu aposto meus rins, que os Samuel morreram de inveja. Frankie Howard podia ser péssimo com matemática, mas ele sabia construir coisas como ninguém.

Ok. Eu podia não ser a menina mais bonita do mundo, mas pelo menos, eu tinha uma casa na árvore.

E esse é o problema. Se eu não tivesse nascido, nem mudado para Indiana e quem sabe papai não tivesse construído minha casa na árvore, talvez Eliot não me odiasse.

Eu me lembro muito bem, dele e o tio tentando fazer uma réplica idêntica da minha. Mas sem sucesso, obiviamente. Enquanto eu e minhas irmãs fazíamos piqueniques, Eliot e o tio ainda juntavam três tábuas.

E foi assim ao longo dos cinco anos que moramos lado a lado. Dividindo o mesmo bairro, rua e o mesmo ambiente com oxigênio.

Mas as coisas, simplesmente, tendem a piorar.

Eu tenho que lembrar que nessa época, éramos crianças. Pequenas coisinhas desmioladas e gananciosas, que apenas querem brinquedos e choram se não os tem. A adolescência é ainda mais horrenda. Guardem essas palavras.

Eliot com sete anos é um anjinho aos olhos, mas com quinze é o demônio encarnado. Eu juro que tentei muitas vezes usar minhas habilidades do Supernatural com ele. Mas ele já era o rei do inferno com diploma e graduação.

Uma vez, eu estava deitada no quintal da minha casa, tomando sol. Era um verão preguiçoso e meus pais haviam levado minhas irmãs para comprar roupas novas. Estava quente, então simplesmente, eu decidi não ir junto. E acho que Eliot aproveitou a oportunidade para me atazanar.

Quem não aproveitaria? Eu era uma garotinha inocente deitada no jardim de biquíni e óculos de sol. Uma Zoe pura de quatorze anos. Era quase como se eu estivesse dizendo: O trem do bullying está passando. Não percam a estação. Chu! Chu!

E Eliot não perdeu. Daí ele simplesmente brotou no meu quintal, com uma mangueira e uma dúzia de amigos. O que saiu da mangueira não era água. Tinha gosto de... gosto de cebola, vinagre e Ketchup. A mistura perfeita para você passar o resto da vida tomando banho.

O CHEIRO NÃO SAI!

Eu levantei às pressas porque achei que tivesse começado a chover, mas quando o gosto atravessou a minha boca, eu me senti um saco de lixo vazando. Assim que abri os olhos, contemplei a turma toda de Eliot segurando câmeras e me filmando, bolando de rir.

Ha Ha Ha. Hilário. Aplaudam a trupe de babacas.

Eu fiquei destruída. Eu me senti Hermione Granger quando Malfoy e seus amigos a apelidavam de sangue ruim. Era como se eu fosse a garota mais sangue ruim do universo.

Ah, é mesmo. Se eu deixei barato? De jeito nenhum. Eu diria que Eliot e eu demos início a primeira Guerra mundial. Em questões de "eu odeio você para sempre".

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