Eu acredito em seis coisas impossíveis antes de tomar café, assim como a Alice no país das maravilhas.
Uma. Que eu posso ter sido trocada na maternidade. Ao invés de pertencer a minha família eu, na verdade, faço parte de um grupo de palhaços de circo. Isso explicaria o fato de mico não faltar na minha lista de afazeres.
O despertador resolveu não funcionar e a água acabou justamente na minha vez de tomar banho. Isso resultou em uma Zoe atrasada e com o cabelo semelhante a um ninho de passarinho. Mais feia que o próprio Shrek.
O pior vem a seguir. Papai provavelmente saiu as pressas para o trabalho e acabou me esquecendo. Que sorte, hein? Tive que correr como o papaleguas para parada do ônibus que fica três ruas acima da minha. Pelo menos, consegui saltar para dentro antes que ele virasse a esquina.
Dois. Sou humana dentro de um mundo robótico e fui enviada pelos terráqueos para testar se os cyboguers podem ser nossos amigos.
Quando atravessei as portas da Liberty Swin's, o corredor longo e preenchido por armários vermelhos estava vazio. Me apressei para entrar na sala de aula antes da professora de francês trancar a porta e por obra do senhor, passei raspando pela fresta, mas consequentemente acabei ralando as costas.
A turma inteira estava com a cara enfiada no celular. Os dedinhos ágeis digitando desefreandamente mensagens de texto, comentários no facebook ou editando fotos.
Três. Tirar um A+ em Francês.
A Sra. Torres descansou a prova com tanta força na minha mesa que, por um milésimo de segundo, senti a carteira ceder. O meu F estava escrito em um vermelho chamativo em letras, literalmente, gigantes no topo da folha. Quase tive um ataque cardíaco.
Quatro. A nota passar despercebida.
Com um olhar reprovador por baixo dos óculos redondos, a Sra. Torres fez questão de dizer na frente da turma inteira para que eu ficasse depois da aula.
Um murmurinho aqui e acolá me fizeram desejar um buraco bem profundo para enfiar minha cabeça. Ou me enterrar logo de uma vez. O que for melhor para a situação.
Cinco. Meus amigos tenham reprovado na matéria também. Assim podemos ficar todos juntos curtindo a detenção.
Mas o que posso fazer? Eu tenho uma doença muito rara chamada azaradisse. Ela só contamina aqueles que nascem com o nome Zoe Howard. No caso, eu. Ou seja, meus melhores amigos estão imunes.
O tataravô de Maureen era francês. E no verão passado, Billy abrigou um intercâmbista francês na sua casa. Um A gritante preenchiam suas respectivas provas.
E seis e mais importante. Nunca, JAMAIS dar de cara com Eliot Samuel. Ou pior, acabar na detenção com ele.
— Fala sério, Sra. Torres! — Cruzo os braços na frente do peito, encarando o coque mal feito no topo da cabeça gorda dela. — Eu sinto muito, muito mesmo.
— Você era a mais esforçada, Zoe. — Ela lembra, juntando as mãos em cima do livro de francês. — Mas de uns meses para cá, você tem perdido o interesse pela aula.
Mordo os arredores da minha bochecha. A Sra. Torres não está errada. Quando me escrevi nessa matéria extra, francês pareceu uma boa para mim. Eu sempre quis me mudar para Paris e o restante dos idiomas já estavam lotados. Mas, sei lá. É mais difícil do que eu imaginava. E as aulas extras começam mais cedo do que as normais. Tem sido uma batalha acordar antes das oito e meia.
— Zoe, essa é a quinta vez no mês que você chega atrasada. — Estou preparada para explicar o motivo das outras quatro vezes, mas ela ergue a mão e continua: — Eu sinto muito. Está dispensada das minhas aulas daqui por diante.
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E Se Fosse Diferente?
Novela JuvenilCopyright © 2021 por Laysla Ferreira Zoe Elisabeth Howard tem um problema. Nunca teve um namorado de verdade. Ela acredita fielmente que sua esquisitice aguda e seu azar frequente tenha alguma coisa haver com isso. Seguindo por essa perspectiva, é o...