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O rei do inferno tem vários nomes. Demônio, diabo, Crowley, capeta, Satã, Eliot Samuel também é um deles.
Quando empurro a porta da sala número 5, onde geralmente ficam os alunos em detenção, dou de cara com o próprio parente do carinha lá debaixo em pessoa. Carne e osso. Vestindo a jaqueta surrada e alaranjada do time, o cabelo minimamente arrumado com gel e esboçando um sorriso travesso com todos os trinta e seis dentes nos lábios carnudos dele. E a primeira coisa que faz é erguer a mão e acenar sutilmente para mim.
— Olha quem o vento trouxe.
— Calado, Sr. Samuel. — O diretor Burgerss o reprova com um olhar mortal atrás de mim. — Sra. Carolina, a Zoe vai se juntar a vocês por quatro semanas. — Ele comunica a mulher com óculos de Harry Potter parada ao lado da porta. A próxima coisa que ouço, é um risinho rouco do outro lado da sala. Adivinha de quem vem o som demoníaco?
— Dando uma rebelada, Howard? — Eliot pergunta, sarcástico jogando as pernas em cima da mesa. — Não gostou de ser a santa?
— Calado, Sr. Samuel! — O diretor Burgerss vocifera. — Não vai querer pegar mais duas semanas de detenção, não é?
— Eu já estou aqui até o fim do ano. O que são mais duas semanas? — Eliot retruca, alargando mais o sorriso ousado.
Estou assistindo a discussão parada na frente do diretor Burgerss, sentindo a mão pesada dele sobre o meu ombro, tentando recordar em qual mês estamos para Eliot falar tão naturalmente sobre seus dias de castigo.
— Cuidado, moleque abusado. Eu te faço ficar em detenção até a formatura! — O diretor Burgerss ameaça, erguendo o dedo na direção dele. — Não ouse me provocar.
É o bastante para o sorriso de Eliot se perder e ele virar o rosto para a janela. Ninguém quer ficar de castigo até a formatura. É o dia da vitória!
— Quatro semanas, diretor Burgerss? — É a Sra. Carolina quem chama nossa atenção. Mais calmo, o diretor acente para ela e, finalmente, larga o meu ombro, posteriormente me conduzindo a minha carteira.
— Com licença, Sra. Carolina. Até mais Zoe e Eliot. — O diretor faz questão de enfatizar o último nome. E o garoto nem se move. Com um revirar de olhos, o Sr. Burgerss sai fechando a porta, cuidadosamente.
— Por que está aqui, Zoe… — A Sra. Carolina lê o meu nome na folha. — Howard?
Ela não é rude como costumam ser o restante das professoras. Eu diria que ela é um cupcake. Não é doce demais para acabar com a vida de alguém, mas forte o bastante para causar uma diabete.
— Eu tirei F em francês. E cheguei atrasada cinco vezes nesse mês. — Eu digo com vergonha.
Ninguém vai para detenção com esses motivos. A Sra. Torres quis me dar uma lição mesmo. Comparada ao porquê de Eliot está aqui, meus motivos são fichinhas. Ele deve ter pichado a entrada da escola de novo. Ou entupido o banheiro masculino de papel higiênico. O que for pior. Ele é o perito aqui. Sou só uma novata idiota que por azar cometeu erros bobos. Se fosse para ganhar o prêmio de quem mais ficou em detenção, Eliot seria o vencedor. Dizem que ele já ficou um ano depois da aula. E finais de semana também.
