Prólogo

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Existem três coisas que você precisa saber sobre Zoe Howard.

Número um. Nunca tive um namorado. Pelo menos, não de verdade.

Havia um carinha no fundamental.
Eu o cosiderava, praticamente, um Brad Pitt da vida real, ou quase isso. Nós saíamos toda semana. Andávamos de mãos dadas e até nos beijávamos atrás da arquibancada do campo de futebol na hora do almoço. Mas ele nunca chegou a dizer: Zoe, quer ser minha namorada?

E eu como uma garota normal do sétimo ano, apaixonada pelos olhos dele, pela boca dele e ainda mais, pelas espinhas... nunca cheguei a perguntar.

Para encurtar a história, esse "relacionamento" durou dois anos. E quando, finalmente, ele decidiu que já estava na hora de me chamar para ser sua namorada, eu terminei o nosso enrola, enrola.

Obviamente, eu esperei uma eternidade para ele me pedir. E quando deu na telha da cabecinha oca dele, eu já estava farta. E claro, o idiota estava com ainda mais espinhas. Eu não suportava mais ver aquelas bolinhas, às vezes, bolhonas vermelhas no seu rosto.
E simples assim, paramos de nos ver. E falar.

O pior é que alguns meses depois, eu descobri que ele era gay, que na época estava decidindo sair do armário ou não. Minha mãe, conversou com a mãe dele — um papo bem do tipo, seu filho não gosta da minha filha — e aí a senhora mãe do filho gay, abriu o jogo.

Eu fiquei arrasada. Ou pelo menos, tive que fingir que estava. Tudo porque o meu pai não parava de tirar uma comigo, zoando a filha por sair com um cara gay.

Ninguém pode me julgar, ok? Eu tinha 13 anos. Com essa idade, você não sabe distinguir se seu "namorado", gosta de beijar meninas ou enfiar a língua na boca dos meninos.

Resumidamente, essa história toda só serviu para eu dizer que nunca tive um namorado.

Sei o que está pensando. Zoe, você provavelmente amadureceu. Com certeza, se transformou numa adolescente daquelas dos filmes. De 16 anos, com seios fartos, bunda durinha e lábios beijaveis. Garotos apareceram voando e se jogaram aos seus pés, certo? Errado.

Não mesmo. A fórmula da beleza deu muito errado comigo. Se você retirar a parte da gostosura total dos filmes, o que resta? Sim! As feiosas... magricelas, cheias de acne e de cabelos longos de bruxa. Ah! Não, não! Risca a parte dos cabelos longos. Minha mãe passou a tesoura nos meus no dia do meu aniversário de 15 anos. Foi um desastre!

Eu parecia Will Byres na terceira temporada de Stranger Things. Por sorte, ela deixou o bolo no forno, então quase não me tornei a dublê da Onze.

Então não. Garotos não apareceram voando de jatinhos particulares, ou chegaram nos seus iates chiques, e ainda menos, nas suas lamborghinis caras. Principalmente, depois que a minha vizinha fofoqueira — a Sra. Grambge — espalhou para o bairro inteiro que a filha do meio dos Howard, tinha um lance com um cara gay.

E por um ano inteiro, eu me tornei a mais falada da minha cidade. Tipo, extra extra, Zoe Howard tinha um namorado gay! E coitado do Billy — esse é o nome do maldito — que teve uma reputação marcada como o novo senhor com vagina. Claro, isso segundo o time de futebol masculino, machista e babaca do colégio.

Depois desse episódio, apesar de eu ter odiado o Billy com todas as minhas forças, o destino mexeu uns pauzinhos e hoje somos melhores amigos. Irônico, não é? Somos conhecidos como Lee e Carter que não deram certo.

Enfim, a primeira coisa que você precisa saber sobre Zoe Howard, desencadeia a segunda coisa que você precisa saber sobre Zoe Howard.

Eu não enxergo coisas óbvias. Pensando bem, os meus super poderes de percepção sobre o que acontece ao meu redor inexistem. Como no caso de o meu não namorado ser gay.

E Se Fosse Diferente?Onde histórias criam vida. Descubra agora