04|Maureen, Billy e... Piter

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A questão é... tenha amigos.

Não importa que vocês sejam apelidados de união lésbica ou Lee e Carter que não deram certo. Ou que só você fique em detenção, enquanto os bundas moles te zoam e exibem o A+ deles.

Só, simplesmente, tenha amigos.

Deposito um beijo demorado na bochecha da mamãe antes de saltar para fora do carro. Emily, Maddie e Oliver ainda permanecem sentados, me observando acenar quando o automóvel recém comprado se afasta.

Todos nós frequentamos o mesmo colégio — O vanglorioso Liberty Swin's. E por que só você saiu do carro, Zoe? A resposta é bem simples. Eu não quero que a minha própria família seja vista comigo. Deveria ser o contrário, certo? Errado. Eu sou a vergonha aqui. Estar comigo é atrair olhares estranhos que você nem sabia que existia. Como eu já disse, posso ter sido trocada na maternidade.

Então todos os dias, mamãe sempre para o carro algumas quadras antes do colégio, porque digo que vou esperar a Maureen. E isso não é totalmente mentira. Eu a espero mesmo. E aí, sempre fico parada no meio fio, olhando eles se afastarem, apesar de ser na mesma direção que a minha. Meus irmãos geneticamente perfeitos e meus pais sobrenaturalmente incríveis.

— Ei! Cadê os integrantes da sua parada gay, Howard?! — É Eliot Samuel quem está proclamando esta pergunta majestosa que me atinge com tanta intensidade. Meu corpo inteiro congela só de lembrar que vou encontrá-lo mais tarde de novo. Uma passagem só de ida para o inferno.

Ele e seus amigos babacas do time estão na sua picape azul, rindo e fazendo gestos com as mãos que não tenho a coragem de descrever.

— Eles estão esperando você abaixar as calças, Samuel! — Levanto o dedo do meio e sorrio de forma sarcástica.

Os lábios de Eliot Samuel se abrem em formato de O e ele fica bravo, retribuindo para mim o mesmo gesto. A turma dos patetas está se divertindo as minhas custas. Apenas aceno e continuo sorrindo, observando o carro se mover para longe.

— Eu acho que o Eliot está apaixonado por você. — Viro-me abruptamente para trás, a tempo de ver Maureen se aproximar.

— Eu prefiro enfiar dois dedos na minha goela e vomitar até morrer do que ouvir Eliot Samuel dizer que me ama. — Maureen passa o seu braço por cima do meu ombro e começamos a caminhar.

— E o Billy?

— Disse que a mãezinha dele vai levá-lo direto para o colégio. Veremos ele lá. — Atravessamos os quarteirões e logo alcançamos o Liberty Swin's. Ainda consigo ver Emily com sua cabeleira estonteante passar pelos altos portões rodeada de amigas bonitas. Bonitas como ela.

Maureen percebe minha expressão abatida e me aperta ainda mais em um meio abraço.

— Está tudo bem. — Ela diz, me reconfortando. — Eles te amam do jeito que você é.

— Eu sei que me amam. Mas não quero que sejam vistos com uma esquisitona. Eu acabo com a reputação de qualquer um.

— Não com a minha. E nem a do Billy.

— Maureen... — Eu começo devagar. A frase que estou prestes a dizer pode magoá-lá. — Vocês nunca tiveram uma reputação. E não estou falando por mal. Nem eu mesma tenho uma.

E Se Fosse Diferente?Onde histórias criam vida. Descubra agora