Capítulo 1

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       Vejo pela janela os últimos raios solares se esvaindo, as árvores quase sem folhagens indicam que o inverno está a caminho. 

       Ao longe vejo meus amigos se divertindo, estamos no Aurora, há música animada de fundo e as luzes neon concedem uma leve luminosidade ao ambiente meio escuro; Jessy conversa animadamente com Richy e Cleo, Dan e Lilly conversam próximos em seu próprio mundinho, assumiram o namoro há algumas semanas, estão muito bem juntos, Thomas, Hannah e Jake conversam animadamente sobre algo que não dei atenção, estava próxima a estes últimos poucos minutos atrás, até o foco da conversa me excluir para assuntos de anos atrás dos quais não participei, ou sobre a relação de irmandade dos Donfort, não posso julga-los quanto a isso, Jake e Hannah ficaram muito tempo afastados e agora querem reatar os laços. Mas recentemente cada um do grupo tem me excluído a sua maneira, eu entendo que cada um tem seu próprio trabalho, vida social, e vida amorosa, e me sinto mal ao pensar em o quanto estou sendo egoísta de querer um pouco mais de atenção, mas por outro lado também penso o quanto fui importante para chegarmos a momentânea paz que desfrutamos neste momento, todo o medo que senti por causa do homem sem rosto, o ataque à Richy e Jessy, as ameaças, até o governo atrás de mim e Jake, mesmo que ele ainda seja um fugitivo do governo, o que tem me assustado muito ultimamente.

       Não é a primeira vez que o sentimento de angústia e abandono tem me assolado em momentos de socialização, e tem se tornado ainda piores de madrugada, estou tentando ao máximo conter o que estou sentido, principalmente em relação ao Jake... Desde que encontramos a Hannah tenho certeza de que o que sinto por ele é real, mas com tudo que aconteceu e a prisão do homem sem rosto, mal tivemos tempo de conversar, e as poucas vezes que nos encontramos só falava como a Hannah era uma pessoa incrível e queria tê-la conhecido antes, internamente fiquei feliz por vê-lo alegre daquela forma, mas as semanas foram passando e estou cada vez mais sendo deixada para escanteio.

       —Liz? — Saí de meus pensamentos ao ouvir meu nome.

       —Olá, Phil. —Disse lhe dando um breve abraço, devido ao tumulto com clientes ainda não havia o visto hoje. —No que estava pensando? —Seus olhos correm pela mesa em direção ao casal e ao moreno logo adiante. —Ou melhor, em quem estava pensando? —Disse com um sorrisinho.

       —Em ninguém. —Disse forçando um sorriso, que pela sua expressão não pareceu convencer. O mais alto pega minha mão e me puxa em direção ao bar.

       —Venha, te pago uma bebida.

       —Phil, você é o dono do bar. — Sorrio com a constatação óbvia.

       —Por isso mesmo. —Ele sorriu ladino.

       Andamos entre as pessoas em direção ao bar, o mesmo contornou o balcão e se pôs a fazer um drink para nós dois que logo serviu em uma taça.

       —Obrigada. —Disse dando um gole na bebida doce de morango, senti o álcool queimar levemente minha garganta.

       —E com o que está chateada? — Perguntou ele. 

       —Com nada. —Menti. 

       —Aham, sei. A sua cara te entrega, desembucha. —Ele riu em ironia. — E o que o hacker esquisitão aprontou dessa vez? Além de te deixar de lado completamente. —Rebaixei os olhos para o balcão de madeira. —Ah, foi mal. Eu me expressei mal...

       —Deixa quieto. —Disse, terminando a bebida. —Obrigado de novo, digo, pela bebida. —Me virei em direção a saída do bar.

       —Liz! — Me virei brevemente para olhá-lo. —Você sobreviveu à um assassino, não se deixe abalar por um homem.

       —Mas é o Jake. —Disse baixinho. 

       —Qual é? É um homem! Você é fofa, linda, inteligente e merece alguém melhor que um nerd introvertido que está te ignorando.

       —Já posso ir agora?

       Ele acenou suavemente com a cabeça. E caminhei pela multidão rumo a saída.

       Ao atravessar em direção à rua senti a brisa gélida atravessar meus ossos, fechei o sobretudo que cobria meu vestido, curto demais para a temperatura atual, chamei um uber e fui para casa em silêncio.

***

       Saí do banho quente ainda de roupão e atirei-me na cama, encarando o teto do pequeno e mal iluminado apartamento, o cheiro das pequenas plantas na varanda invade meus sentidos, sinto novamente o sentimento de letargia me dominar, meu corpo pesa cada vez mais sobre o colchão, começo a questionar se não fui apenas um peão manipulado por ele para conseguir o que queria. Meu peito dói. 

       Sinto as lágrimas rolarem por minhas bochechas, não sei dizer que sentimento é este, só sei que estou cansada de senti-lo, rolo para o lado e volto minha atenção as marcas que jaziam nos pulsos... elas estão brancas e cicatrizadas, depois da Ashley, não soube mais o que fazer, foi sorte do destino que um estranho tivesse me mandado mensagem sobre uma garota desaparecida, quando estava no alto do prédio. Sabe-se lá quem ouviu as minhas preces.

I wanna live?

Or...

I wanna die?

       Sinceramente não havia muito que eu desejasse fazer até então, mas o estranho mascarado diz que precisa da minha ajuda para salvar a vida de uma garota. Parece que havia certa utilidade em mim ainda... Não havia nada a perder.

       Mas conforme nossas investigações avançavam e as ameaças do homem sem rosto começaram a surgir, comecei a sentir medo, medo por mim, medo por ele, medo pela garota, medo pelas pessoas do grupo que ainda com tanta ajuda desconfiavam da integridade de suas palavras e ações. Medo. Eu senti medo. Foi tão maravilhosamente assustador sentir algo de novo depois de meses, os dias sem Ashley me consumiam como fogo, e tal como as chamas, uma hora não sobra nada para queimar. A sensação de medo, de desespero, e mesmo assim as esperanças que o hacker incentivava a cada dia me faziam sentir de novo, depois de seis meses trabalhando juntos, consigo sentir de novo, sinto que minhas emoções não se restringem mais ao vazio, me preocupei com a garota, me arrisquei pelas pessoas daquele grupo, e ouso dizer que me apaixonei por alguém que nem sequer havia visto o rosto ou ouvido a voz, prova de que nos apaixonamos pela personalidade.

       Quando Jake e eu nos encontramos pessoalmente, foi a melhor coisa que senti em mais de um ano, ao vê-lo meu coração disparou incessantemente, a sensação de euforia me preencheu, nos tornamos mais próximos muito rapidamente, mas conforme pensava no bar, fui apenas um peão para conseguir o que ele queria, mesmo que suas intenções não fossem estas, sinto que sua ausência de tentativas de nos reaproximar é o que mais me magoou, mas como sempre não consigo culpa-lo, ele tem a família que procurava, o pessoal tem a Hannah de volta, e eu... Acabo adormecendo antes de pensar numa resposta.

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Oie, essa é minha primeira história, deixa uma estrelinha se gostou, isso me incentiva a continuar :)

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