Capítulo 13

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       Nós subimos até meu quarto em silêncio, as vezes me preocupo até aonde essa falta de comunicação vai nos levar, e se isso poderia ser um problema um dia.

       Quando adentramos o quarto escuro, ela direcionou seu olhar para o mini frigobar e deu uma leve risada.

       —Qual é a graça? —Perguntei.

       —Nada, é só que... Faz tempo desde a última vez que vim aqui, desculpa ter te dopado, e roubado seus programas, e sumir sem resposta, e...

       —Está fazendo aquilo de novo. —Disse eu.

       —Aquilo o que?

       —Desviando do assunto. Você pediu pra vir porque queria me contar o que houve, estou ouvindo. —Disse cruzando os braços.

       Um sorriso tomou seus lábios.

       —Você não deixa passar nada, não é? —Perguntou. —Pois bem.

       Ela levou as mãos até a cintura do vestido, e puxou um micro zíper que não havia notado antes, dando a volta pelo corpo, dividindo o vestido em duas peças, como uma blusa e uma saia, em seguida levou as mãos por cima dos ombros e desceu o zíper, abrindo a blusa, segurando-a em frente ao corpo.

       —L-L-Liz! O que você tá fazendo? —Gaguejei, por que ela tá tirando a roupa?

       Ela se virou de costas e meus braços penderam para as laterais de meu corpo. Uma exclamação de surpresa me escapou e fiquei estático. 

       Não consegui expressar nada além de choque, a parte superior de seu tronco estava coberta de marcas cicatrizadas que nunca sumiram, e pelo que parece, não vão sumir.

       —Ah, Liz. O que você fez? —Lamentei.

      Caminhei a passos curtos e estendi a mão, tocando sua pele nua, corri meus dedos por suas marcas, e senti um arrepio correr por seu corpo. Havia demais delas, com pouco espaçamento entre elas, senti meu peito apertar e meus olhos arderem.

       —Por que fizeram isso? —Tentei manter a voz firme, mas saiu como um sussurro.

       —Tive um pequeno problema, não achei que eles poderiam fazer um interrogatório violento. Eles queriam respostas que eu neguei.

       —Mas você admitiu tudo. —Respondi, cabisbaixo.

       —Uma das partes do plano incluía deletar todos os arquivos na frente deles e simular que foi um outro grupo de hackers procurados, eu não tinha nada que eles pudessem saber, e quando todo o arquivo sumiu, eles precisavam de uma confissão pra provar que eu era culpada, foi onde aconteceu isso.

       Um nó se formou em minha garganta, as palavras não saiam e a vontade de chorar me tentava fortemente. Continuei contornando as linhas por seu corpo. Engoli o nó com dificuldade e consegui perguntar com a voz arrastada:

       —Quanto tempo durou?

       Ela ficou em silêncio.

       —Você disse que me daria a verdade. —Pedi.

       —Não sei com certeza, mais ou menos do meio-dia até o pôr do sol.

       Meus dedos pararam o tracejar, e não contive mais as lágrimas que rolaram em excesso.

       A envolvi com meus braços e puxei-a para perto, encostando suas costas em meu peito, e a abracei com força.

      —Me desculpa, Liz. Me desculpa. —Não consegui conter o tremor em minhas mãos, nem minha voz embargada. —Me desculpa, me desculpa.

       —Não foi sua culpa. Foi eu que escolhi isso. —Disse passando os dedos por meus cabelos.

       —Tsc. É claro que é minha culpa. Fui eu que te enfiei nisso tudo...

       —E fui eu que escolhi ficar. E não tem mais discussão.

       Ela se virou em minha direção, mas não ousei solta-la, levando as mãos até meu rosto enxugou os fios que desciam, por que ela parecia irradiar tanta luz em comparação a mim?

       Me aproximei levemente e beijei seus lábios, e toda a dor pareceu ter passado, sendo substituída pela vontade de estar com ela por toda a eternidade. Seus braços passaram por meus ombros, colando ainda mais nossos corpos, e apertei o abraço com força, como se pudesse mantê-la aqui para sempre. 


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