Perdi a noção de quanto tempo ficamos juntos aquele dia, apenas deitados contemplando um ao outro, em dado momento tive coragem de perguntar:
-E... O lance com a Jessica? Dos abraços e tal, já com o Phil você não pareceu se incomodar. -Tentei ser o mais sutil possível, mas senti que soou invasivo quando terminei a frase.
Ela soltou uma risada baixa e disse:
-Depois que eu saí de Duskwood, procurei ajuda psicológica, acabei internada numa clínica por uns três meses. -Arregalei os olhos com a afirmação.
-Você foi internada? -Perguntei incrédulo.
-Foi pela minha vontade, pra tratar a ansiedade e estresse pós-traumático, mas desenvolvi uma certa fobia social como sequela, que ainda estou tratando.
-Fobia social?
-Sim. Os médicos acham que...-Ela parou a frase pela metade. -Quer saber não é importante.
-Você me prometeu a verdade. -Contestei.
Ela se levantou da cama e ajeitou o vestido.
-Lhe contarei na hora certa. -Disse ela.
Uma sensação de nostalgia me abateu, já lhe disse isso várias vezes antes, não sabia que causava esse efeito de impotência, de não saber o que está havendo.
De ser deixado ás cegas.
Por um instante me dei conta de que nunca houvera motivos para que confiasse em mim, sempre deixando apenas rastros e lhe concebendo apenas um vislumbre de minha atenção, não percebi o que ela sentia, porque nunca me ocorreu que ela pudesse precisar de mim como preciso dela, isso porque ela nunca me exigiu nada além do mínimo.
Me acostumei a tê-la por perto por gratificação em nossa busca por Hannah, por que me era convém para boa execução de meus planos.
Planos.
Apenas a vi como um peão em meu tabuleiro gigante de peças humanas, tratando-as como marionetes sem vida, manipuladas por fios de palavras bem orquestradas, incentivadas sob a promessa de recompensa.
Desde o início a manipulei como um peão, não, um peão seria descartável demais, como um bispo, o soldado da linha de frente, a peça fiel ao rei que faz a parte suja e evita-se perder, mas em certas circunstâncias vale o risco.
E ela com o desespero de querer ser importante neste jogo pelo bem das outras peças, se tornou a peça chave de meu exército e maestra de meu arsenal de omissões e manipulações.
Desde o início a tratei como uma peça, e agora em seu descarte, não ouso me desfazer dela, pois foi a última peça que restou neste tabuleiro de armadilhas que é o complexo de minha frívola existência. Não passo de um mestre de jogo que se apegou à suas peças.
Isto é.
Se eu ainda ousar pensar que sou minimamente melhor que as peças.
Não sou melhor do que eles. Nenhum deles. E nenhum deles superará a genialidade e compaixão que emana desta garota, esta que se recusou a perder quaisquer peças da mesa e arriscou-se contra os comandos de seu jogador para proteger seu time de companheiros de tabuleiro, uma vez que todas as suas ações por mim consideradas inconsequentes, sejam puro reflexo da derrota de outra mesa.
Não consegui dizer nada quando a vi indo em direção a porta.
Eu não quero que ela vá.
Mas deveria tê-la reservado um lugar ao meu lado como minha rainha, e não como peça manipulável, agora que ela aceitou o que acha ser seu lugar, foi minha vez de ser o ignorante e não entender sua concepção.
Eu a pus como um soldado, e assim ela aceitou. Mas até então não havia entendido por que ela se recusara a ficar ao meu lado, não fora esta posição que lhe dei no tabuleiro, se a ordem natural fosse seguida, ela poderia nem estar mais aqui até o xeque-mate. A coloquei na linha de frente do perigo, enquanto estive confortável atrás de minhas defesas, e fui tolo de questionar por que ela não esteve ao meu lado, e ousei achar que não queria estar.
Eu não lhe dei o lugar ao meu lado.
E ela entendeu como minha escolha.
Nunca foi ela que não me quis.
Mas ela respeitou o espaço que impus, em respeito a mim.
Porque minhas decisões sempre influenciaram nosso caminho, e ela não me questionaria.
Porque confia plenamente em mim.
-Te vejo em dois anos.- Sua fala quebrou meu pensamento, me trazendo à realidade.
O que?
Me levantei rapidamente e fechei a porta antes que abrisse o suficiente para sair, e a abracei por trás antes que se virasse.
-Fica.- Disse baixinho, e acrescentei num sussurro: -Por favor. Eu te quero do meu lado. Eu estava errado, você não é uma das minhas peças, você que deveria mestrar o jogo, porque sou eu que sou completamente e inquestionavelmente rendido e manipulável por você.
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Oie gente linda, como vcs tão?
Quero agradecer se você chegou até aqui, e agradecer a euuuu_04que dedicou horas no discord me ouvindo falar sobre essa fanfic, e dedicou-se em ser minha primeira leitora no decorrer desta história.
Obrigada chuchu :)
E obrigada de novo a você que nos acompanhou até aqui <3
Editado em 15/09/22: Quem me ver aqui, viu, em breve mais uma fic de duskwood, fique de olho :)
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LIAR
FanfictionDepois do reencontro de Hannah com seus irmãos, a aproximação dos irmãos Donfort, e a recente prisão de quem chamavam de O Homem Sem Rosto, Duskwood finalmente desfrutava da estável paz que tanto almejavam. Com a vida voltando aos trilhos depois de...