—Meus pais—Disse ela.
Minha expressão de dúvida deve ter ficado óbvia, pois ela logo continuou:
—Minha mãe era uma garçonete de bar de cidade pequena, mais precisamente da cidade vizinha à Duskwood, com a morte repentina dos pais ela herdou uma pilha de dívidas que estava se matando pra pagar, meu pai era apaixonada por ela, e playboyzinho, filhinho de papai, era cheio da grana, ele propôs pagar as dívidas dela se tentassem algo juntos. Desesperada, ela aceitou, eles começaram um namoro de aparências, e logo a família pressionou o noivado, um ano depois ela engravidou, e começou a desenvolver uma depressão profunda, ao ponto de nem sair mais da cama, até ela dar à luz a duas meninas, a foto...—Ela gesticulou com o queixo. —Foi tirada quando nascemos. Ela não aguentou a vida de fachada, a depressão já tinha devorado ela por dentro, uma hora depois do parto ela abriu a janela e pulou do terceiro andar.
Não consegui formular nada para dizer enquanto ela falava, e apenas ouvi com a boca entreaberta.
A garçonete de antes voltou e nos entregou nossas bebidas.
—Meu pai que não aguentou ver a mulher que amava morrer, não suportou as duas crianças que ela gerou sem amor, ele percebeu que mesmo que não tivesse um fim trágico dificilmente ela nos amaria, com a dor da perda, mandou uma empregada que sabia ser voluntária num orfanato nos levar embora, essa, que por coincidência, era irmã da sra. Érica, que cuidou de mim e Ash naquele casebre.
—E como descobriu isso tudo?
—Gastando muita sola de sapato.
Ela deu um gole na garrafa de água e continuou.
—Quando a Lilly expôs aquele vídeo com meu número, houve muita gente que me mandou mensagens de ameaça, uma em particular, Emilia Fannrey, ela foi a empregada que nos levou pro orfanato, que assim como a irmã, Érica, era voluntária. Pela minha foto de perfil ela notou a semelhança entre eu e minha mãe, e logo mostrou pro meu pai. O problema foi que logo depois o vídeo foi apagado e ignorei muitas mensagens, e ele não tinha como me procurar apenas com o meu apelido, naquela época só o Phil e a Ângela sabiam meu nome; Dois anos atrás quando você publicou o vídeo que preparei, me apresentei oficialmente. Com um nome e dinheiro não foi difícil me procurar. Quando já estava a algumas semanas longe do governo ele me mandou um e-mail pedindo um reencontro, porque queria conhecer as filhas.
—Filhas.—Repeti.—Ele não sabia que a Ashley não está mais aqui.
—Não, ele não sabia.
—O que houve depois?
*flashback on*
Estava sentada em um canto do restaurante, esperando o outro chegar, conferi o horário no relógio pela terceira vez, faltando um minuto para o horário marcado, vejo uma figura se sentar à mesa que combinamos, observei de longe por alguns minutos, ele usava roupas sociais e com frequência olhava o relógio, ou ajeitava o cabelo ou alisava as roupas, sem mencionar a perna que tremia por baixo da mesa, estava nervoso. Não parecia ser uma armadilha.
Me levantei e caminhei devagar em sua direção, só faz algumas semanas que sai de Duskwood e preciso fazer um esforço enorme para andar, estou andando tão dura que parece que dormi no asfalto, mas fiz o possível para não transparecer. Por causa dos ferimentos que ainda não cicatrizaram totalmente, ainda uso faixas para não os abrir, então estou usando roupas mais largas ultimamente, como é o caso hoje.
Me aproximei da mesa e o homem parou e me encarou.
—Beatrice. —Ele disse ao me olhar. —Não, é claro que não. É Eliza certo? Que besteira minha. —Ele se levantou e estendeu a mão para que eu apertasse, e assim o fiz.

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LIAR
FanfictionDepois do reencontro de Hannah com seus irmãos, a aproximação dos irmãos Donfort, e a recente prisão de quem chamavam de O Homem Sem Rosto, Duskwood finalmente desfrutava da estável paz que tanto almejavam. Com a vida voltando aos trilhos depois de...