—Precisamos conversar. —Disse fechando a porta.
Sua expressão se tornou séria.
—Isso nunca é bom, e está me causando o medo que eu sentiria se a Jessy dissesse isso. —Ele riu fraco, e se sentou novamente à mesa, gesticulando para que sentasse a sua frente, e assim fiz.
—O que o nerd fez desta vez? —Perguntou ele.
—Ele nada, mas estou com algo em mente, e preciso de você.
—Sabe que te devo muito, estaria na cadeia injustamente se não fosse você, o que posso fazer?
—De início você vai achar a ideia absurda, mas preciso que me ouça até o final. —Disse eu. Ele levantou uma sobrancelha em dúvida e cruzou os braços.
—Estou ouvindo.
—Isso pode dar muito errado.
—Estou ouvindo, atentamente.
***
Me despedi de Phil e rumei em direção ao hotel onde Jake estava hospedado, as palavras do barman ecoavam em minha mente.
"Não sou idiota ao ponto de questionar a sua intuição, mas realmente espero que saiba o que está fazendo..."
E confesso que a última parte da frase me apavorava.
"...do contrário, não nos veremos de novo. "
Engoli em seco com o pensamento. Sei que vai dar certo, tem que dar certo.
O anoitecer se aproximava e meu coração batia freneticamente, parei diante do edifício e questionei todas as decisões que me levaram até o presente momento, de repente a lembrança do prédio me invade, balanço a cabeça me livrando do pensamento, não é hora de sentimentalismo, preciso fazer o que sei fazer de melhor: mentir.
Mentirosa
(Liar)
Entrei na edificação e pedi ao porteiro que avisasse à um determinado hóspede que estaria subindo, assim que recebeu a confirmação, o velho senhor de bigode grisalho acenou a cabeça em permissão e voltou sua atenção ás palavras cruzadas.
Tomei o elevador e subi até um andar abaixo do que Jake me indicara, e subi o andar restante pelas escadas, se alguém estivesse me seguindo, perceberia antes de descobrirem o andar certo. Procurei pelos números do quarto pelo corredor, do qual ele não me informou, e parei a frente de um que em particular chamou minha atenção, número 140. O número do Nym-os era 01040, se cortar os dois primeiros zeros, sobra 140, é o quarto dele.
Respirei fundo e bati na porta. Ouvi o som abafado de passos e uma sombra pelo olho mágico, pude jurar que pelo canto dos olhos vi as câmeras dos corredores piscarem, sempre precavido. Ouvi o som de trincos se abrindo atrás da porta, mais do que o comumente usados em quartos de hotel. Em seguida a porta se abriu e me deparei com Jake.
—Olá, Liz. —Ele disse, sorrindo.
—Olá, Jake.
O mesmo deu passagem para o quarto e entrei, logo ouvindo a porta se fechar e as trancas estalarem.
O quarto estava sua bagunça organizada como sempre, papeis espalhados com riscos que conectam datas, fotos e nomes, seus computadores estavam abertos encima da mesa, em um dos monitores reconheci o olho de Nym-os, com um pontilhado de pegadas em um mapa da cidade, de onde reconheci sair do Aurora, até aqui, ele estava observando para garantir que eu chegasse aqui.
—Sobre o que queria falar? —Pergunto sem rodeios, me virando para encará-lo.
Seus cabelos pretos estavam desgrenhados, usava uma calça jeans e uma camisa preta, muito larga para seu tamanho, o deixava bonito.
—Eu... senti que estava estranha ontem, mas não consegui entender, nem perguntar o porquê. —Disse ele, timidamente. —O que houve, Liz?
—Estou normal. –Me virei em direção ao frigobar e tirei duas garrafas d'água, ainda de costas o ouço dizer:
—Não sou bom em ler emoções, mas ultimamente sinto que não estamos bem. —Ele fez uma pausa. —Eu só sei que... é frio sem você aqui, como se faltasse algo sempre que você está longe.
Num gesto involuntário sacudi as garrafas e entreguei uma a ele, que logo aceitou.
—Foi você que pediu tempo e espaço, não foi? Fiz o que você pediu, como sempre fiz.
—Mas sinto que não é só isso, porque...—Ele gesticula com as mãos, procurando palavras. —Sinto que você não está me dando espaço, sinto que está indo embora. E isso me incomoda, não quero perder você. —Ele diz me olhando nos olhos, o encarei de volta e tomei um longo gole da garrafa, e ele logo fez o mesmo.
—Estou um pouco cansada com essa situação toda. Vou ser sincera com você, fico feliz que tenha sua família agora, mas imaginei que depois de tudo que passamos, eu não precisasse implorar pela sua atenção, e quando decido que não farei isso você questiona que estou indo embora? Não vou implorar por um lugar que claramente não é meu.
—Liz, não é assim... E é claro que seu lugar é com a gente, e sei como se sente, mas eu não sei... Não sei o que posso fazer pra mudar essa situação. Eu te quero por perto, te quero aqui, mas penso no que vai acontecer se chegarem até mim, o que farão com você, com minhas irmãs... Me dói afastar você pela sua segurança.
—Eu sei, por isso aceitei vir até aqui.
Dei suaves passos até ele, segurei seu rosto com as mãos e lhe dei um suave beijo.
—Nós vamos dar um jeito...
Vejo seu olhar desfocar e seu corpo pender para frente, apoio seu queixo em meu ombro e o desço suavemente até o chão, apoiando sua cabeça em uma almofada.
—...Eu vou dar um jeito. Eu te amo, Jake.
Vou em direção aos monitores e começo a trabalhar.
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LIAR
FanficDepois do reencontro de Hannah com seus irmãos, a aproximação dos irmãos Donfort, e a recente prisão de quem chamavam de O Homem Sem Rosto, Duskwood finalmente desfrutava da estável paz que tanto almejavam. Com a vida voltando aos trilhos depois de...